Farisaismo e sociedade de aparência

 

Começo minha reflexão de hoje com uma recomendação de Jesus: “Tomem cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.”Lc 12, 1.

Duas palavras dessa recomendação, feita por Jesus, merecem maior atenção: Fariseus e hipocrisia! No contexto bíblico elas quase são sinônimas. Mas, quem eram os fariseus e o que é hipocrisia?

No antigo mundo grego, a palavra “hipócrita” designava o ator de teatro, que, com uma máscara e um disfarce, assumia uma personalidade alheia.  Diante do público, ele “fingia” ser outra pessoa, que nada tinha a ver com sua pessoa real, escondida atrás da máscara. Seus sentimentos eram postiços. O seu “lado de fora” era o de “outra pessoa”, pois o ator é quem dava vida aos personagens que representava...

Chamando os fariseus de “hipócritas” Jesus condena a falsidade deles. A pessoa falsa finge ser o que não é. Finge, por exemplo, que é seu amigo, mas está apunhalando você pelas costas. O hipócrita é quase um ator, pois vive representando. Finge que está do seu lado quando está contra você, finge que chora, enquanto ri por dentro...

“Um fariseu convidou Jesus para jantar em sua casa” - (Lc 11,37-41). Esse convite não significou amizade ou qualquer forma de apreço. Ele, na verdade, queria observar Jesus de perto, para constatar alguma falha em seu procedimento. E constatou: Ele não lavou as mãos antes da refeição! Lavar as mãos antes das refeições não era, no caso, uma questão de higiene, mas de observância legal. A “Lei da pureza ritual” deveria ser observada em todos os pontinhos. Jesus, no caso, foi um fora da lei e como tal, poderia ser “enquadrado”... Eu não aprecio a palavra “em-quadrado” e acho triste que alguém possa ser “em-caixado” nela. Deus jamais se encaixa nos nossos esquemas e parâmetros!

Para Jesus o interior da pessoa era mais importante do que o exterior. Os fariseus eram hipócritas porque, exteriormente, passavam uma imagem de santos, quando, na verdade, estavam cheios de pensamentos maldosos. Salvando as devidas proporções, penso que nosso mundo ainda conta com grande  presença de fariseus. Para muitos, o que conta mais é a aparência externa. Não importa se a pessoa está com o nome negativado e devendo até a raiz dos cabelos. Importa mais uma boa aparência nas redes sociais. Por isso, nessas redes todos aparecem sorrindo e “vendendo” uma aparência de sucesso. “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Às vezes, as mesmas figuras sorridentes das colunas sociais ocupam também as policiais, mas, nesse caso, as notícias saem com letras miúdas e sem fotos...

Uma sociedade de aparência não deixa de ser hipócrita e farisaica. E hoje há um verdadeiro culto às aparências. Narciso teria vergonha de nós! É por isso, que digo: Os fariseus estão mais vivos do que nunca. E, às vezes, vivem dentro de cada um de nós!

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay