Os filhos de Nix

  Nix, na mitologia grega era a deusa da noite ou das trevas. Hesíodo (Séc VIII a.C),   poeta grego e autor da “Teogonia”, um poema que fala...

 


Nix, na mitologia grega era a deusa da noite ou das trevas. Hesíodo (Séc VIII a.C),  poeta grego e autor da “Teogonia”, um poema que fala do nascimento dos deuses, a chama de “mãe dos deuses”, porque acreditava que a noite e as trevas precederam tudo o que existe. Nesse ponto, sua narrativa sobre a criação, coincide com o relato bíblico, segundo o qual, só havia trevas antes da criação do mundo. Essa deusa era representada com um manto preto coberto de estrelas e um véu, igualmente, preto sobre a cabeça coroada de papoulas. Às vezes, era representada nua com asas de morcego e uma tocha na mão. Seu carro era puxado por dois cavalos pretos e em sua honra imolavam-se ovelhas pretas.

Desposando seu irmão Hérebro teve dois filhos com ele: Éter e Hemera (dia). Daí se pode concluir que é da noite que nasce o dia e a  luz foi parida pelas trevas. Mas, sozinha Nix teve outros filhos. Com relação ao número deles os estudiosos se dividem. Mas, vejamos pelo menos uma parte:

1-Moros: Personificação da sorte e do inflexível destino;

2-Moiras ou Parcas: Três irmãs que podiam determinar o futuro dos deuses e dos homens. Tinham aparência fúnebre. Fabricavam, teciam e cortavam o que chamavam de fio da vida de todos os vivos;

3-Tânato: Personificação da morte. Era irmão gêmeo de Hipnos;

4-Hipnos: Personificação da sonolência. Deus do sono;

5-Oniros :Legião de  sonhos;

6-Momo: Personificação do sarcasmo e da ironia. Rei do Carnaval;

7-Oizus: Personificação da miséria, tristeza e angustia. Representa os males do mundo;

8-Hespérides: Representavam a primavera, o espírito de fertilidade da natureza. Representavam ainda, o final da tarde, um momento de transição entre a luz do dia e as trevas da noite;

9- Nêmesis: Personificação do destino e vingança divina;

10- Apáte: Personificação da fraude, do dolo e engano;

11- Geras: Personificação da velhice;

12- Éris: Deusa da discórdia;

13- Caronte: Barqueiro mal humorado que atravessa as almas do mundo dos vivos para o mundo dos mortos;

14- Morfeu: Deus dos sonhos;

15- Lyssa: Personificação da ira e da loucura produzida pela raiva. Insanidade, demência;

 

A deusa Noite representava tudo o que havia de mais sombrio e doloroso na convivência humana. Mas, algumas vezes, também foi chamada de “Eufronte” e “Eubulia”, isto é, “Mãe do bom conselho”, haja vista a possibilidade de reflexão que a noite nos proporciona. Alguns, ainda hoje, dizem que o travesseiro é um bom conselheiro. Mas, na maioria das vezes, Nix representava, através de seus filhos, o desequilíbrio, demência ou sono... Os três dias de carnaval, por exemplo, pertencem ao reinado de Momo. São três dias de sonhos, loucuras e, às vezes, discórdias!

Sob o efeito da morfina, um poderoso anestésico, a pessoa, de certa forma, perde o controle do próprio corpo que pode ser cortado para cirurgias... A palavra “morfina” é derivada de “Morfeu”, uma divindade filha de Nix. Quando “Lyssa” se faz presente, a pessoa também perde o controle de si. Na hora da raiva a gente costuma fazer loucuras! Lyssa é a deusa da ira. Durante a noite não temos controle de nada. Não enxergamos direito e tropeçamos em tudo. Uma pessoa irada age no escuro, ou seja, sem pensar. Por isso, costuma causar estragos...

Tânatos é o deus da morte. Ele surge quando fechamos os olhos para esse mundo. Do ponto de vista simbólico é o aspecto perecível e destruidor da vida. É a divindade que introduz a alma humana no mundo das trevas ou das luzes. Por isso, se relaciona com os ritos de passagem. Com sua ajuda passamos dessa vida à outra. Passamos por um processo de purificação para uma vida mais plena. Nesse sentido, ele se aproxima de Hipno, o sono, pois esse também tem a função de nos revigorar.

Diante das Moiras somos impotentes. São elas que tecem nosso destino e cortam o fio de nossa existência na hora certa. Elas são três:

Cloto: Em grego significa fiar, segurava o fuso e tecia o fio da vida;

Láquesis: Atuava com Tyche, Pluto, Moros, sorteando a parte de atribuições que se ganhava em vida;

Átropos: Cortava o fio da vida e juntamente a Tânatos e outros determinava o fim da vida de alguém.

Na Odisseia as Moiras são representadas como sinistras donzelas fiandeiras. Contra elas não adianta relutar, pois ninguém pode fugir da linha do próprio destino!

Moros representa o destino inflexível dos deuses e homens. É uma divindade cega, nascida da Noite e do Caos. Todas as outras divindades lhe estavam submetidas. Nada podia mudar o que ele havia determinado. As três parcas mencionadas eram encarregadas de executar suas ordens. Era representado com os pés sobre o globo terrestre e nas mãos carregava uma urna que encerrava a sorte dos mortais. Em Homero o destino de Aquiles e de Heitor é pesado na balança de Zeus e como a sorte do último o arrebata, sua morte é decretada, e Apolo retira-lhe o seu apoio... Visto dessa maneira os homens não passavam de joguete nas mãos dos deuses. Diante do “destino traçado” de nada valeria a liberdade dos homens!

No Filme, “O Sétimo Selo” (1956), escrito e dirigido pelo sueco, Ingmar Bergman, a morte foi inflexível, ao acompanhar o cavaleiro medieval Antonius Bloc, que retornava das cruzadas. Quando assisti ao filme, lembrei-me dos filhos de Nix, sobretudo, de Tânatos e Moros.  Ao deparar-se com a morte, pela primeira vez, o cavaleiro negociou com ela o prolongamento da própria vida, desafiando-a, para um jogo de xadrez. Sempre que ganhasse a partida teria mais tempo de vida. Mas, com a morte (Tânatos), não dá para negociar. Ao final do filme, ela aparece no alto de uma montanha arrastando o cavaleiro e seus companheiros numa dança macabra morro acima...

A mitologia grega foi uma forma antiga de compreensão do mundo. E nós somos herdeiros dessa cultura. Ainda que não saibamos ou queiramos admitir esse “panteão” ainda sobrevive dentro de nós e não apenas nas artes e na literatura. Quem já não reclamou um dia de herdar um “destino traçado”? Quem já não buscou formas de se livrar desse fado? Quem já não tentou negociar com a sorte? Se não fosse assim, as casas lotéricas não estariam tão cheias e os patrocinadores desses jogos tão milionários! Muita gente joga porque ainda acredita no sorriso da sorte. Tomara que ela não seja banguela!


Imagem de Pete Linforth por Pixabay 

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