Neruda: Um amante em fuga

  Já afirmaram que o poeta padecia de “Satiríase” (Desejo sexual exacerbado). Mas, o certo é que Pablo Neruda exercia um grande encanto nas ...

 


Já afirmaram que o poeta padecia de “Satiríase” (Desejo sexual exacerbado). Mas, o certo é que Pablo Neruda exercia um grande encanto nas mulheres. Teve três casamentos e diversas namoradas por onde passou.

Um fato curioso em sua vida aconteceu em 1929, quando foi Cônsul do Chile na Birmânia e atual Mianmar. Nesse tempo, sua vida oficial só funcionava uma vez, a cada três meses, quando arribava um barco em Calcutá que transportava parafina sólida e grandes caixas de chá para o Chile. Isso ele mesmo nos afirma no seu livro, “Confesso que Vivi”. Essa foi uma época dolorosa para sua poesia. Longe de tudo e de todos não tinha muito que fazer a não ser passear pelas ruas e sem entender a língua dos nativos quase não se comunicava com ninguém. “A rua era minha religião”, afirmou. Havia na Birmânia dois mundos: O mundo pobre dos nativos e o mundo dos dominadores ingleses. Um não se falava com o outro e não frequentava os mesmos espaços. Seus “amigos” britânicos os censuravam ao vê-lo andar de “gharry”, uma espécie de táxis de tração animal ou humana. Diziam-lhe, que em sua condição de Cônsul não deveria fazer isso ou aquilo. Como ele insistisse em conviver com a população local acabou sendo, totalmente, ignorado pelos ingleses. “Senti-me feliz com o boicote. Aqueles europeus preconceituosos não eram muito interessantes e convenhamos que, afinal de contas, eu não tinha vindo ao Oriente para conviver com colonizadores em trânsito, mas sim com o espírito antigo daquele mundo, com aquela grande desventurada família humana”

Nesse país, de cultura tão diferente da sua e com hábitos totalmente estranhos aos seus, o poeta ainda conseguiu arranjar uma namorada. O “nome de guerra” dela era: Josie Bliss. Seu nome de família era impronunciável!

Como o casal de namorados se comunicava eu não saberia dizer. Mas, para os encontros de amor sempre se dão um jeito, não é? O que era doce no inicio, acabou azedando com o passar do tempo. Josie Bliss passou a ter um ciúme exagerado de Neruda. Tinha ciúmes de suas cartas, de seus poemas e até do ar que ele respirava. “Às vezes, era despertado por uma luz, um fantasma se movia atrás do mosquiteiro. Era ela, vestida de branco, brandindo o longo e afiado punhal indígena, era ela, rondando horas interiras em redor da cama sem decidir a me matar”. Por sorte, recebeu uma mensagem oficial, informando-lhe, de sua transferência para o Ceilão, hoje  Sri Lanka. Preparou em segredo sua partida. Certo dia, abandonando suas roupas e seus livros embarcou-se em um navio deixando para trás a namorada ciumenta. No caminho escreveu seu poema: Tango do Viúvo (Tango del Viudo). Transcrevo abaixo, parte desse poema:

Oh, maligna, você já terá encontrado a carta, você já terá chorado de raiva,

e terá insultado a lembrança de minha mãe

chamando-a, de cadela podre e mãe de cachorros,

você já terá bebido sozinha, solitária, o chá da tarde

olhando meus velhos sapatos vazios para sempre

e você não será mais capaz de se lembrar de minhas doenças, meus sonhos noturnos, minhas refeições,

sem me amaldiçoar em voz alta como se eu ainda estivesse lá

reclamando do trópico de Corring e seus coolies,

das febres venenosas que me causaram tantos danos

e dos horríveis ingleses que ainda odeio .

 

Maligna, a verdade, que grande noite, que terra solitária!

Voltei para quartos solitários,

para almoçar em restaurantes de comida fria, e novamente

jogo minhas calças e camisas no chão,

não há cabides em meu quarto, nenhum retrato de ninguém nas paredes.

Quanta sombra daquele em minha alma eu daria para te recuperar,

e como me parecem ameaçadores os nomes dos meses,

e a palavra inverno, que som de tambor lúgubre ela tem.

 

Enterrada ao lado do coqueiro você encontrará depois

a faca que escondi ali com medo de que me matasse,

e agora de repente gostaria de sentir o cheiro do seu aço de cozinha

acostumado ao peso de sua mão e ao brilho de seu pé:

sob a umidade da terra, entre os Raízes surdas,

de línguas humanas, os pobres só saberiam seu nome,

e a densa terra não entende seu nome

feito de substâncias divinas impenetráveis...

 

Esse poema “Tango do Viúvo” foi escrito durante sua estada no Oriente e compõe a primeira parte da trilogia “Residência na Terra”. 

Neruda assumiu suas funções em Rangoon, em outubro de 1927 onde permaneceu até o início de 1929. Durante  esse período que se apaixonou por Josie Bliss. Esse foi o primeiro dos muitos relacionamentos amorosos que teve.

Em maio de 1930, foi nomeado cônsul escolhido em Cingapura e Batávia, Java. Em junho viajou para Cingapura e depois para Batávia onde assume suas novas funções. Em 06 de dezembro casou-se com a holandesa Maria Antonieta (Marie Antoinette Haagenar Vogelzang). Com ela teve uma única filha, Malva Marina Trinidad, em 1934, que faleceu ainda criança.

Em 1937, Neruda trocou Maria Antonieta por Delia Del Carril com quem, pelo visto, já mantinha um relacionamento. Com ela ele se casou em 1943.

Em agosto de 1951, Matilde Urrutia, chega a Paris. Neruda já a conhecia do Terceiro Festival Mundial da Juventude (Berlim) para o qual Matilde havia sido convidada a cantar. Em suas memórias, ela lembra:

 “E os dias daquela festa foram passando sempre nos procurando, nos desejando; O gosto do pecado, de estar mentindo, para esconder, para esconder, foram o maior incentivo para o nosso amor; Aqueles olhares furtivos sobre a mesa, aquela cumplicidade de cada minuto era algo que fazia crescer a vontade de estar junto, de se tocar; e esse desejo está nos devorando, está nos arrastando para a convicção de que não podemos mais viver separados...”

Com Matilde Neruda irá começar um romance secreto. Sua separação com  Delia Del Carril, aconteceu em fevereiro de 1955. Desde então, passou a conviver com Matilde Urrutia e com ela esteve até o final de sua vida.  

Imagem de Henning Westerkamp por Pixabay 

Texto escrito com informações dos sites: 

https://fundacionneruda.org/biografia/

file:///E:/Downloads/7858_0%20(3).pdf

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