Templo: Uma instituição que ficou pesada!
Ao longo de sua história, o povo de Israel foi amadurecendo sua relação com Deus. Tal relação nem sempre foi tranquila. Muitas vezes, foi ...

Ao longo de sua história, o povo de Israel foi
amadurecendo sua relação com Deus. Tal relação nem sempre foi tranquila. Muitas
vezes, foi marcada por fraquezas e infidelidades da parte do povo, pois “Deus é
fiel”. Apesar das infidelidades do povo, Deus nunca o abandonou. Chegou a “habitar” debaixo de tendas, quando
o povo só tinha tendas para morar...
Da tenda, ou barraca, Deus comunicava-se com seu povo
através de Moisés. Assim, que o povo fixou-se, na Terra de Israel ele quis
construir, uma casa, fixa para Deus. Estamos falando do Templo de Jerusalém. O
Templo foi uma das instituições mais importantes em Israel, ao lado da Lei e
dos Profetas. Mas, com o passar do tempo ele deixou de ter a leveza de uma
tenda e passou a ser um verdadeiro “elefante branco” na vida do povo. Os “profissionais”
da religião, embriagados com o poder, usavam o templo para garantir os
privilégios de uma elite, da qual faziam parte, em detrimento dos interesses da
população.
Na época de Jesus, o templo era uma mega estrutura,
com cerca de 1500 metros de perímetro, reformado por Herodes, o Grande. Em torno dele, girava-se, grande parte da vida
social, econômica e religiosa do povo. Durante algumas festas, como a Festa da
Páscoa, por exemplo, grande quantidade de bois, ovelhas e pombos eram sacrificadas
no seu pátio. Os pobres, em geral, compravam as pombas no próprio templo para
as oferecerem em sacrifício. Muitas delas voltavam às bancas para serem
vendidas novamente. Flávio Josefo, um historiador judeu que passou para o lado
dos romanos, afirmou que um casal de pombos chegava a ser vendido 150 vezes (*)!
Uma turma de cambistas estabeleceu-se no templo para
que os peregrinos pudessem trocar suas moedas “impuras” pelas moedas “puras”,
ou seja, a moeda de Tiro, menos inflacionada que a moeda nacional; uma espécie
de dólar ou Euro da época. Assim, os peregrinos também eram explorados por
esses cambistas que cobravam uma parte deles nessa transação.
Por causa de tudo isso, Jesus, certa vez, apanhou um
chicote de cordas e botou todo mundo para correr. Isso está no Evangelho de São João (Jo 2,
13-22), cujo texto transcrevo abaixo:
Estava
próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. No templo, encontrou os
vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez
então um chicote de cordas e expulsou todos do templo, junto com as ovelhas e
os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que
vendiam pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de
comércio!” Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O
zelo por tua casa me consumirá”. Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que
sinal nos mostras para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí este templo, e em
três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram
precisos para a construção deste santuário, e tu o levantarás em três dias?” Mas
Jesus estava falando do templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os
discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na
palavra dele.
Essa é a única passagem da Bíblia que mostra Jesus bravo
dessa maneira. Também pudera! O Templo havia se desviado de sua finalidade. Não
atendia mais ao propósito divino. Era pura instituição a serviço dos interesses
e vaidades humanas! Esse é um risco recorrente em todos os tempos.
Refletindo sobre essa passagem não há como deixar de
pensar nas realidades de hoje. Todas as instituições correm o risco de se
desviarem de seus propósitos originais. O Templo de Israel, que deveria
encaminhar as pessoas para Deus acabou se tornando, ele mesmo, o centro de
tudo. Nem Deus encontrava mais lugar naquele espaço que deveria ser sagrado. A
Casa de Deus havia se transformado numa casa de comércio.
“Há pouco tempo, o Papa Francisco disse que a Igreja
não pode ser uma Ong” (Organização não governamental)! Disse também, que ela
deve estar voltada para fora e não apenas para dentro. Seria preferível que
estivesse mais “enlameada que auto referenciada”... Talvez, o medo do papa seja
com o enrijecimento demasiado da instituição. A Igreja também pode perder a
leveza do Espírito para se tornar pesada e auto referenciada. Sendo “barco de
Pedro” deve ter a leveza necessária para flutuar sobre as ondas em direção ao
porto seguro. Pense nisso!
(*) O Pão da Palavra: Subsídio Litúrgico-Catequético
Diário. Ano XV – Nº 179 – PP 39.
Imagem de Martin Forciniti por Pixabay
O Papa Francisco é muito sábio no que diz..“Há pouco tempo, o Papa Francisco disse que a Igreja não pode ser uma Ong” (Organização não governamental)!"...
ResponderExcluirGostei do texto e de saber das mazelas dos templos que enfureceram Cristo.
ResponderExcluirÓtimo
ResponderExcluirParabéns!!!
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