A Primeira procissão do Novo Testamento

 

Maria apresentou seu filho ao Templo (Lc 2, 22-40). Esse era o costume. Alguns dias, após o parto, a mãe deveria apresentar-se ao templo para se purificar e oferecer o filho a Deus.  Todo primogênito (primeiro filho, primeiro animal do rebanho, primeiros frutos da colheita), deveria ser oferecido a Deus. A ideia de que tudo pertencia ao Pai era muito clara. Entregar o primogênito era retribuir a Deus uma parte de tudo o que Ele havia concedido, gratuitamente, à pessoa ou à família. Essa, ainda é a ideia que existe por trás, do oferecimento do dízimo. Ofertando o dízimo a gente retribui, com uma pequena parte, a Deus, que nos deu tudo! Dízimo, portanto, é sinal de gratidão. Deus, não precisa de nossas ofertas e nem quer os nossos sacrifícios; quer antes, o nosso coração. Por isso, não aceitou o sacrifício de Isaac, mas, alegrou-se, com a fé, incondicional, de Abraão... Mas, voltemos ao Evangelho em questão: 

Maria e José levaram ao Templo quem era maior que o  próprio Templo! Levaram também um casal de pombos, oferta dos pobres (Lv 12,8), para “pagar o resgate” do primogênito. “Pagam” com dois pombinhos quem que seria vendido, mais tarde, por trinta moedas! 

No templo, o santo casal encontra-se com mais um casal de santos: Simeão e Ana! O olhar embaçado do velho Simeão ganhou novo brilho ao ver o Menino Jesus. Apertando-o, carinhosamente, contra o peito pôs-se a falar feito bobo: Ó meu Deus, agora já posso morrer! Meus olhos contemplaram a verdadeira luz que veio iluminar a todos!  Após um curto momento, virou-se para a mãe e disse: - Você terá o coração partido por causa desse menino!  Maria calou-se. Ela, que fora ao templo para ser purificada, acabou purificando o local com sua presença santíssima. José contemplava tudo enquanto murmurava uma oração. Agradecia a Deus, pelo que presenciava e nem sabia mais onde colocar a gaiola com os pombos!

 Ana, uma idosa que ajudava no templo, rompeu o silencio e passou a contar a todos o que vira. Parecia querer ganhar tempo. Tivesse um microfone ali, ela o teria apanhado para anunciar aos gritos: - Ele nasceu! Deus lembrou-se de nós, agora nossas vidas terão um novo sentido... 

Simeão, Ana, José e Maria formaram a primeira procissão cristã da história, dizia S. Bernardo de Claraval. Cada um disputava o menino como hoje se disputam para carregar os andores, nas procissões. Mas, entre hoje e aquele tempo, há muitas diferenças: 

Naquele tempo a procissão foi pequena e grande a santidade dos personagens. Hoje, as procissões são enormes e enormes nossos pecados;

Naquele tempo todos queriam estar próximos de Jesus. Hoje há tantos distanciamentos dEle; 

Ninguém duvidou, naquele dia, que o menino fosse o Filho Amado do Pai. Em nossos dias, quantos duvidam disso! 

Meu Jesus perdoa-me, pela “santa inveja” que sinto do velho Simeão. Com seus olhos cansados ele viu, claramente, sua grandeza, apesar da fragilidade do seu corpinho de criança! Dá-me a graça de percebê-lo, hoje,  para além da aparência do pão e do vinho! Ele, por pouco, não dançou de alegria diante de sua presença... Eu, às vezes, sou-lhe, tão indiferente! Embriagado pela graça do momento ele esqueceu-se dos pombos do sacrifício... Eu, apesar de sua graça, continuo dando milho aos pombos... 

Não havia sacerdote no Templo para receber aquela família pobre. Onde estariam os sacerdotes? Simeão era um homem justo. Ele exerceu a função de sacerdote e profeta. Com sua idade avançada, em vez de ver a morte chegando ele viu a chegada da salvação. Por isso, se alegrou feito criança com o Menino Jesus entre os braços. Ele pegou o menino uma única vez. Isso foi o bastante para enchê-lo de júbilo. Nós somos mais privilegiados do que Simeão. Podemos ter Jesus conosco em cada Eucaristia. Pena que nossa alegria ainda seja tão acanhada...

Imagem de falco por Pixabay