Ekalavya: a predestinação pela casta

  Ekalavya é um personagem de “O Mahâbhârata”, um épico da literatura indiana. Nessa obra aparecem cerca de cem personagens entre homens, de...

 


Ekalavya é um personagem de “O Mahâbhârata”, um épico da literatura indiana. Nessa obra aparecem cerca de cem personagens entre homens, deuses, avatares, animais... Cada um, a seu modo, mostra uma faceta dessa sociedade que surgiu à margem dos rios há milhares de anos. A “sina” de Ekalavya, assim como dos demais personagens estava traçada mesmo antes do seu nascimento. Ele pertencia a uma casta inferior. Por mais talento que tivesse, sua condição de nascimento sobressaía às suas habilidades.

Num tempo primordial havia, na Índia, duas grandes famílias: Pandavas e Kauravas. Elas descendiam de um ancestral comum chamado “Bharata”.  “O Mahâbhârata” conta a história de uma grande guerra entre essas duas famílias. Tal guerra dividiu até mesmo as divindades no céu. Trata-se de uma guerra fundante, pois estava se fundando uma civilização, ou seja, a indiana.

Os príncipes das duas famílias tiveram “Drona” como guru. Ele era o mestre de armas dos Bharatas. Com ele todos aprenderam a arte da guerra e as estratégias militares. Entre os alunos de Drona surgiu, certa vez, alguém de casta inferior. Tratava-se de Ekalavya. Drona somente o aceitou para que ele não se fortalecesse num exército inimigo. Morando na floresta, Ekalavya fortaleceu-se pela concentração e disciplina. Aos poucos, foi se tornando um dos melhores arqueiros da região.

Certa vez, quando todos os príncipes, alunos de Drona, caçavam na floresta, ouviram os latidos de um cão que foi logo silenciado. Aquele cão ameaçava atacar um idoso que passava por ali. Mas, antes que ele fechasse a boca no primeiro latido Ekalavya encheu-a, com sete flechas. Para fazer isso, teve como linha de mira apenas o som do latido. Mortos de inveja pelo ocorrido os outros príncipes quiseram saber de onde partiram aquelas flechas morteiras. Logo descobriram que foram atiradas por Ekalavya. A notícia do ocorrido chegou logo aos ouvidos de Drona.

No dia seguinte Drona foi ao encontro daquele aluno na floresta. Ao vê-lo, aproximando Ekalavya prostou-se por terra em sinal de respeito e admiração. Em seguida Drona dirigiu-lhe a palavra nesses termos: 

“Ó herói, és realmente meu aluno; dá-me, então, o salário de professor”. –Eu lhe darei o que pedires mestre, respondeu Ekalavya, basta que me peças! - Se realmente pensas assim, Ekalavya, respondeu Drona friamente, eu gostaria de ter o teu polegar da mão direita. E o príncipe de casta inferior, sem hesitar cortou o polegar de sua mão direita para colocá-lo no chão aos pés de Drona. Após a saída do brâmane, quando foi tentar manobrar o arco, verificou que sua maravilhosa leveza de mão tinha desaparecido para sempre. E foi assim que os príncipes reais tornaram-se inigualáveis na arte do manejo das flechas!

Por mais habilidade que Ekalavya tivesse adquirido, sua “sina” estava traçada por sua condição de nascimento. Para entender isso, é preciso saber o que significa casta, ou varna. Alguém de uma casta inferior dificilmente consegue ascender socialmente, ainda que seja bem sucedido no mundo dos negócios.  A história de Ekalavya ainda que seja verídica aconteceu há milhares de anos. Mas, casos parecidos, ainda hoje, podem acontecer numa sociedade culturalmente dividida em castas.  

Imagem de Susanne Jutzeler, suju-foto por Pixabay 

Obs: Texto inspirado no livro: 

Mitos Hindus e Budistas, de Ananda K. Coomaraswamy e Irmã Nivedita. Landy Editora, 

São Paulo,  2002. Pp. 124.


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