Multiplicação dos pães: fartura dos tempos messiânicos

  O Evangelho de São Mateus (Mt 15,29-37), nos diz que: “imensas multidões, trazendo coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros e pusera...

 


O Evangelho de São Mateus (Mt 15,29-37), nos diz que: “imensas multidões, trazendo coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros e puseram aos pés de Jesus...” Mais adiante, o texto afirma-nos, que o lugar era deserto e que essa multidão já acompanhava Jesus havia três dias! Só essa informação já nos bastaria para refletirmos muitas coisas. O que essa multidão foi procurar no deserto? O que ela não estava encontrando nas cidades? Uma coisa parece certa: Ela tinha fome! E, pelo visto, tinha dois tipos de fome: Fome de pão e fome de Deus!

Ao perceber que alguns já estavam ali muito tempo ouvindo sua mensagem Jesus preocupou-se, com a alimentação daquela gente. Para Jesus não bastava matar-lhes a fome de Deus. Era preciso matar a fome de pão também. Aqui teríamos outro motivo, excelente, para questionar nossas atividades pastorais. Não basta matar a fome de Deus ou matar a fome de pão. Ambas precisam ser saciadas. O indicador de nossas atividades não pode pender apenas para um lado. Não adianta falar de Deus para um povo de barriga vazia. Não basta encher a barriga do povo, sem dar-lhes, um sentido mais profundo para sua vida. Esse sentido só pode ser encontrado em Deus.

Esse modelo de ação pastoral podemos aprender com os vicentinos. Os confrades que visitam os pobres não o fazem, apenas para levar-lhes o pão. Antes, os visitam para falar-lhes do amor de Deus. São Vicente de Paulo nos ensinou a ver o próprio Cristo na pessoa do pobre. Numa das correspondências de São Vicente, podemos perceber a delicadeza do santo no trato com os mais pobres (socorridos). No texto ele sugere, com detalhes, a maneira como uma servidora deveria cuidar do idoso ou doente:

[A servidora] ao abordá-los, deve saudá-los alegre e caridosamente, acomodar a prateleira na cama, dispor por cima um guardanapo, uma taça, uma colher e pão, fazer com que os doentes lavem as mãos e dar as Graças, verter a sopa numa tigela e pôr a carne num prato, acomodando tudo isso na referida prateleira, e então convidar o doente caridosamente a comer, pelo amor de Jesus e de sua santa Mãe, sempre com amor, como se cuidasse do próprio filho, ou antes, de Deus, que considera feito a ele próprio o bem que ela faz aos pobres. Ela lhe dirá então alguma palavrinha de Nosso Senhor, buscando nesse sentimento animá-lo, se estiver muito desanimado, cortando por vezes sua carne, dando-lhe de beber, e, assim o tendo posto a comer, se houver alguém perto dele, o deixar ir ao encontro de outro para tratá-lo da mesma maneira, lembrando-se de começar sempre por aquele que tiver alguém junto de si e de terminar pelos que estiverem sozinhos, para poder ficar com eles por mais tempo; e depois voltará à noite para trazer-lhes a ceia com os mesmo utensílios e a mesma ordem que acima (*).

Vê-se, nas orientações acima, um cuidado quase maternal pelo socorrido. E não para aí. São Vicente orienta as senhoras da confraria como proceder nos funerais dos mais desamparados: “No lugar de mães que acompanham seus filhos ao túmulo”! Aqui temos uma grande prova de amor a Cristo. Aliás, a mística vicentina só se sustenta pelo amor a Cristo. Coitado de quem espera receber reconhecimento ou aplausos humanos! O pobre é aquele que descobre para nós o primeiro Sofredor, aquele que carrega o peso de todas as misérias do mundo: Jesus Cristo, pobre e humilhado. Ele é “Sacramento de Cristo”.

Então vejamos: A caridade vicentina não é apenas uma ação filantrópica realizada por um grupo humanitário. Ela é feita em nome de Cristo! Primeiro é preciso saciar a fome de Deus. Depois é preciso saciar a fome de pão.  Isso é o que vemos na passagem bíblica da multiplicação dos pães.

A “fartura de pão” – afinal, sobraram doze cestos! É um sinal dos tempos messiânicos. Isaías (Is 25, 6) já havia profetizado sobre essa nova realidade do Messias: Javé dos exércitos vai preparar no alto deste monte, para todos os povos do mundo, um banquete de carnes gordas, um banquete de vinhos finos, de carnes suculentas e vinhos refinados...

Ao multiplicar o pão para os seus Jesus se mostra como o verdadeiro Messias. Sua presença é a inauguração de um novo tempo. Um tempo de harmonia, de boa convivência e de fartura para todos. Que nos venha logo essa nova realidade, pois já não suportamos mais o calor desse deserto!

 

(*) - http://ggpadre.blogspot.com/2018/09/sao-vicente-o-santo-da-compaixao.html

Imagem de Sina W. por Pixabay 

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  1. Bom dia Padre Gabriel. Estas reflexões diárias nos fortalecem para seguirmos nossa caminhada na certeza de que
    DEUS está sempre ao nosso lado nos mostrando a direção a seguir. Um grande abraço. Faria

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  2. Que possamos saciar a fome de Deus e de pão de nossos irmãos, neste deserto da vida...

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