Pregar botões

  Estou num final de dia, meio cansado, meio feliz, meio “morocoxô”. Afinal, estou normal, pois a gente nunca está “completamente” em nada. ...

 


Estou num final de dia, meio cansado, meio feliz, meio “morocoxô”. Afinal, estou normal, pois a gente nunca está “completamente” em nada. A palavra “completamente” só foi inventada como prêmio de consolação diante das nossas miudezas.

Preguei um botão na minha camisa, para aproveitar um quarto de hora, antes de minha hora habitual de ir pra cama. Gosto de independência e, não existe nenhuma prova de independência maior, do que pregar um botão. Hoje tenho minha casa e moro só. Limpo, lavo, cozinho e, quando sobra um quarto de hora, prego botões.

Nesse instante, estou morto de sono e meio cansado. Por isso, não dou para grandes esforços. Tenho uma rotina apertada, mas, ainda consigo um resto de tempo, para os pequenos reparos.  Amo quase tudo o que faço, desde as tarefas mais óbvias às mais refinadas como escrever esse texto.

Às vezes, me pergunto por que escrevo. Não tenho respostas fáceis para essa pergunta. Gosto de derramar sobre o papel as minhas intimidades. Por sorte, tem sempre alguém curioso, na intimidade alheia. Meu desejo de escrever é algo imperativo. Não busco fama e nem ganho nada com isso, a não ser o prazer de transformar numa crônica, o simples gesto de pregar um botão.

Entre tantas bem-aventuranças, proclamadas por Jesus faltou essa: Bem aventurados aqueles que sabem pregar botões! Para considerar-se um “bem-aventurado”, nesse caso, eu só preciso de um quarto de hora! A coisa pode parecer muito simples. Mas, é só aparência. Sei de um fato envolvendo aventuras e botões que virou “meme”, num tempo que “meme” nem existia. E o pior é que se trata de uma história real. O núcleo da história é real. Os enfeites ficaram por minha conta:

Era uma vez, toda boa história começa com, “era uma vez”, um rapazinho namorador que trajava uma calça justa e uma camisa listrada. Assíduo frequentador da casa da moça, a quem pretendia enamorar-se, naquele dia, ele se deu mal. Diante da pretendente, tentou subir num coqueiro, para tirar filhotes de passarinhos e assim, agradar ao cunhado, que amava o canto dos pássaros. No início da subida tudo ia bem. Mas, quando já havia subido uns três metros, fez um esforço maior e foi aí que o bicho pegou. Os botões de sua calça branca desprenderam todos de uma vez! Inevitavelmente, todos viram certas coisas que, se não fossem tão brancas seriam, facilmente, confundidas com um cachinho de coco... De um único pulo ele desceu da árvore e, pelo visto, está correndo até hoje, envergonhado daquela cena.

Hoje penso que, nada daquilo teria acontecido, se alguém tivesse usado um quarto de hora para pregar, de forma segura, aqueles famigerados botões. Vale, então, a lição: Antes de um grande encontro confira se os botões estão firmes dentro de suas casas! E por falar nisso, até hoje não sei por que chamam “casas” aqueles pequenos furinhos na roupa por onde entram os botões. Também não sei por que usei, tantas vezes, nesse texto, a expressão “um quarto de hora” em vez de dizer quinze minutos. Acho que, já estou trocando os botões. Por isso, vou me deitar. Boa noite!

Imagem de flutterbies3x5 por Pixabay 

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  1. Amei padre! Sou filha de costureira (das boas)...
    Aprendi muito com os botões que já preguei!

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  2. "...." Coitado, valeu a intenção de agradar ao cunhado!

    ResponderExcluir
  3. .."Nesse instante, estou morto de sono e meio cansado. Por isso, não dou para grandes esforços. Tenho uma rotina apertada, mas, ainda consigo um resto de tempo, para os pequenos reparos. Amo quase tudo o que faço, desde as tarefas mais óbvias às mais refinadas como escrever esse texto"..
    É o maximo!

    ResponderExcluir
  4. .."Gosto de derramar sobre o papel as minhas intimidades. Por sorte, tem sempre alguém curioso, na intimidade alheia."...
    Eu sou um(a) curioso(a)

    ResponderExcluir

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