Corações embotados

 

O clima era verdadeiramente de terror! Em meio às trevas o barco era sacudido prá lá e prá cá. Às três da madrugada, em meio ao mar revolto, os discípulos de Jesus, por pouco, não entraram em desespero.

De acordo com o texto de São Marcos (Mc 6, 45-52) Jesus havia ficado para trás, a fim de rezar sozinho. Isso só fazia aumentar o pânico dos discípulos. O caos parecia inevitável. Remavam à deriva e só esperavam pelo pior pois, a ventania prenunciava-lhes grande tempestade. Para piorar a situação eles vislumbraram, no lusco-fusco daquela madrugada fatídica, como que o vulto de um homem, caminhando sobre as águas. A gritaria foi geral! Seria a presença da morte? Seria um espírito maligno para castigá-los?

O medo dos discípulos aumentava cada vez mais que o vulto se aproximava do barco. Que corpo misterioso seria aquele? Foi então, que Jesus lhes tranquilizou dizendo: Coragem. Sou eu!  Depois que ouviram aquela voz, tão familiar, seus medos foram serenando aos poucos. O  texto bíblico nos afirma que eles trocaram o medo pelo espanto, pois não haviam compreendido o milagre dos pães. Mas, o que uma coisa tem a ver com a outra?  Na verdade, eles ainda não haviam compreendido que Jesus era Deus, pois só Deus poderia ter alimentado uma multidão com dois peixes e cinco pães! Esse milagre da multiplicação dos pães precedeu a cena do Evangelho em questão. Quem não compreendeu o milagre dos pães tampouco compreenderia que só Deus pode dominar o caos e restaurar a harmonia da criação.

Aquela barca em alto mar, não contava com a presença física de Jesus. Mas, se os discípulos tivessem compreendido o milagre dos pães saberiam não estarem desamparados.  A barca bem que poderia ser a imagem da Igreja que vê no pão eucarístico o Corpo de Cristo. Enquanto espera sua vinda gloriosa, reparte o pão eucarístico e dele se alimenta.  Distinguir o Corpo de Cristo, na penumbra dos acontecimentos, é fundamental para garantir a estabilidade da embarcação que é a Igreja. A Eucaristia tem poder para nos guiar e conduzir-nos para fora do caos.  As ventanias e tormentas nunca deixarão de existir. Mas, nossa embarcação não irá afundar se entendermos o milagre do pão. Esse pão do céu que é Jesus é que nos guia e fortalece em meio às dificuldades. Os discípulos estavam com os corações “embotados”, ou seja, fechados. Por isso confundiram Jesus com um fantasma. O problema deles não estava nos olhares, mas nos corações.  Peçamos a Jesus que nos dê um coração aberto para sua graça. Só assim enfrentaremos, com firmeza, os fantasmas de hoje...

Imagem de Albrecht Fietz por Pixabay