Jesus chamou e capacitou-os

 

O Evangelho de São Marcos (Mc 3, 13-19), nos mostra que, após subir à montanha, Jesus chamou quem ele quis para perto de si e escolheu doze para formar o grupo dos apóstolos. Subir à montanha é dispor-se, a estar em comunhão com o Pai. Na Bíblia, a montanha sempre foi lugar de encontro com Deus. Foi no Monte Sinai, que Moisés esteve com Deus e recebeu de suas mãos as tábuas da Lei. Foi no Monte Tabor, que Jesus revelou sua divindade aos discípulos, de maneira antecipada. Foi no Monte Calvário, que Jesus se entregou e morreu na cruz como vítima pelos nossos pecados...

No alto do monte Jesus chamou quem ele quis. Os critérios de escolha de Deus são diferentes dos nossos. Nós, muitas vezes, precisamos de “QI”, ou seja, quem indica. Jesus é, absolutamente, livre em suas escolhas que, pelo visto, não passam pelos nossos critérios. Dentre os chamados, ele escolheu doze. Mas, quem foram esses felizardos? Gente do povo, trabalhadores braçais, pequenos negociantes, interesseiros, “guerrilheiros” e até mesmo “trairas”... Vejam bem, pode até parecer que Jesus não soube escolher bem sua equipe! Ele não fez um estudo de mercado, não analisou currículos, não pediu indicação... O seu chamado foi e continua sendo universal, pois doze é um número simbólico  universal. Precisamos entender que Deus age de forma diferente de nós. Ele sabe o que faz e conhece o coração de cada um de nós.

Se Jesus nos chama a todos, igualmente, a resposta de cada um a esse chamado, costuma ser bem diferente. Frederico Ozanam era um dos tantos universitários de Paris que em seu tempo deu uma resposta diferente ao chamado que Deus lhe fez à santidade. Para responder ao chamado de Deus, fundou, com alguns companheiros, as primeiras conferências vicentinas. Esse trabalho de caridade cresceu e hoje está presente em quase todo mundo. De fato, foi um chamado de Deus!

O chamado que Deus fez à Irmã Dulce, conhecida por “Anjo Bom da Bahia”, não foi muito diferente do chamado que fez a mim e a você. A diferença está na resposta que ela deu e a resposta que nós damos...

Deus não chamou os apóstolos porque fossem virtuosos e capacitados. Ele os tornou assim. Na convivência com Jesus eles se tornaram virtuosos e capacitados para a missão. Mas, de qual missão estamos falando? O Evangelho é claro, nesse sentido. Chamou-os e enviou-os, para pregar o Evangelho e expulsar o mal. O mal é tudo aquilo que ameaça ou diminui a vida. Os apóstolos de todos os tempos devem lutar contra ele. O mal hoje é mais do que uma caricatura infantil. Ele está enraizado nas leis, nas instituições e também dentro de cada um de nós. A Palavra de Deus é palavra de vida. O seu anúncio é um facho de luz num mundo ameaçado pela escuridão.

Não basta ter sido capacitado pela graça de Deus. É preciso ter coragem de dar a cara a tapas! Para ser apóstolo de Jesus é preciso botar o pé na poeira. Não dá para evangelizar apenas dos gabinetes ou com pronunciamentos oficiais. Isso é muito pouco. Alguns dos nossos, andam “empanturrados” de ouvir palestras ou cursos de formação. Mas, são incapazes de botar o pé na estrada. Igreja em saída só é fácil no papel. Quem procura colocar isso em prática, de verdade, costuma levar algumas pedradas! O anúncio do Evangelho tem consequências. Jesus já havia nos alertado nesse sentido: Se perseguiram a mim, irão perseguir vocês...

Que Deus nos ajude a ouvir o seu chamado. Que ele nos capacite e nos dê coragem para a missão. O mundo tem fome da palavra e sofre as consequências do mal. Nesse emaranhado de situações desafiadoras talvez esteja faltando sua presença. Pense nisso!

Imagem de Nehsa por Pixabay