São Francisco de Sales: O amor que transborda!

 

Uma das regras do bom jornalismo é que ele seja claro e não confunda os leitores. O uso das palavras certas faz com que maior número de pessoas compreenda o que se quer dizer. Um bom texto jornalístico não pode ser “embolado” ou prolixo. Quem lê “Filotéia” (Introdução à vida devota), uma das principais obras de São Francisco de Sales, vai compreender porque ele, além de ser considerado Doutor da Igreja, foi também aclamado como patrono dos jornalistas. Em seus escritos emprega uma linguagem simples e de fácil compreensão. “Filotéia” (1609) foi um verdadeiro “Best- seller” do século XVII e tornou-se uma espécie de “breviário espiritual” dos leigos ou um caminho suave de acesso a sua mística.

São Francisco de Sales nasceu no dia 21 de agosto de 1567, de uma nobre família, no castelo de Sales, na Sabóia, hoje França. Até aos 17 anos morou com seus pais, Francisco de Sales e Francisca de Sionas e estudou em Annecy. Em 1578 mudou-se para Paris onde estudou retórica e filosofia com os padres jesuítas e em 1584 passou a estudar na universidade de Pádua, doutorando-se em teologia e direito. Seu pai queria vê-lo casado e seguindo o caminho da magistratura. Mas, ele acabou optando pela vida religiosa. Em 18 de dezembro de 1593, recebeu o sacerdócio das mãos do bispo de Genebra, Dom Cláudio Granier.  Em 1602 tornou-se bispo e assumiu a Diocese de Genebra em lugar de Dom Cláudio. Trabalhou numa época difícil de expansão do calvinismo. Fundou a Congregação das Visitandinas juntamente com Francisca de Chantal, sua filha espiritual e hoje também santa.  Morreu com apenas 55 anos de idade no dia 28 de dezembro de 1622. Foi canonizado em 1665, pelo Papa Alexandre VII, e considerado Doutor da Igreja por Pio IX em 1877.  Em 1923 foi declarado por Pio XI Padroeiro da Boa Imprensa e dos Jornalistas católicos.

São Francisco de Sales realizou inúmeros trabalhos pastorais. Mesmo assim, encontrou tempo para deixar-nos uma fascinante obra literária capaz de elevar os espíritos mais embrutecidos. Entre suas obras podemos destacar:

- Filotéia: Ou Introdução à vida devota(1608);

- Teotimo: Ou Tratado do amor de Deus(1616);

- Controvérsias;

- Sermões;

- Instruções às Irmãs da Visitação;

- Cartas (Cerca de 2.000).

Falando sobre a beleza de seus escritos São Bernardo afirmou: “É o amor que transborda”!  E São Boaventura dizia: “É o seráfico abrasado nas chamas da caridade, espalhando-as com profusão comunicativa...” Padre Alet, no livro: Divinas oportunidades do doutoramento de S. Fr. De Sales, afirma sobre ele: “Ninguém sabe como ele erguer uma alma prostrada, inerte, e animá-la, fortalecê-la, conduzi-la suavemente pelos caminhos fáceis da salvação e, em seguida, da perfeição. Sem esforço encontra o caminho do coração, descobre-lhe os horizontes eternos e faz resplandecer diante dele a beleza divina.”(Filotéia -pp 11).

A devoção, para São Francisco de Sales, está ao alcance de todos, mas nem todos conseguem fazer uso dela. Usando o exemplo das aves para explicar essa situação ele nos diz:

“Os avestruzes tem asas, mas nunca se elevam acima da terra. As galinhas voam, mas tem um voo pesado e o levantam raras vezes e a pouca altura. O voo das águias, das pombas, das andorinhas é veloz e alto e quase contínuo. De modo semelhante, os pecadores  são homens terrenos e vão se arrastando de contínuo à flor da terra. Os justos, que são ainda imperfeitos, elevam-se para o céu pelas obras, mas fazem-no lenta e raramente, como uma espécie de peso no coração. Só as almas possuidoras de uma devoção sólida que, à semelhança das águias e das pombas se exalçam (elevam) a Deus por um voo vivo, sublime e, por assim dizer, inccansável...”(Filotéia, PP 30).

Sobre São Francisco de Sales conta-se que certa vez foi enviado para evangelizar na região de Chablais (suíça). Mas, quase ninguém queria saber de ouvi-lo. Além disso recebia frequentes agressões de calvinistas fanáticos. Quase sem plateia para ouvi-lo ele agiu com criatividade.  Resolveu escrever pequenos “panfletos” com os pontos principais da doutrina católica e atirá-los sob as portas dos moradores. Isso acabou dando um bom resultado e trazendo muita gente para a Igreja Católica. Numa outra ocasião, não tendo lugar para dormir, durante uma noite gelada, acabou entrando num um forno de fazer pão no quintal de uma das casas visitadas por ele. Ali passou a noite aproveitando o calor do forno que lhe serviu de abrigo. De fato, não era qualquer coisa que o impedia de evangelizar e realizar o seu trabalho pastoral. Que ele nos abençoe e nos ajude a evangelizar hoje, principalmente, pela internet.  A Internet é um amplo espaço que, se não for ocupado com as coisas de Deus, acaba sendo ocupado pelo diabo. Pense nisso!

 

Obs: Obras consultadas para esse texto:

1-    Filotéia. São Francisco de Sales. RJ, Petrópolis – Vozes -19ª edição de 2010.

2-     Tratado do Amor de Deus. São Francisco de Sales.RJ, Petrópolis – Vozes, 2ª edição. 1996.

3-    Champagne, René. Francisco de Sales: A paixão pelo outro. São Paulo, Paulinas - 2003.

4-    Tournade, Michel. Um amigo a ser descoberto. São Paulo, Cidade Nova, 2005.

5-    Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente. SP, Paulinas, 2003.

6-    Bovo, Clóvis. 365 dias , 365 histórias. Aparecida, São Paulo, Ed.Santuário, 1989.

Filotéia = Alma humana que aspira à devoção.

Teótimo = Espírito humano que deseja fazer progressos na dileção santa. (As definições de Filotéia e Teótimo foram dadas por São Francisco de Sales em Tratado do amor de Deus – PP 18 e 19).

Imagem de Ursula Di Chito por Pixabay