Teologia Indiana: Resumo
Gosto de estudar as religiões por dois motivos: Para lecionar com conhecimento de causa e ampliar a minha visão sobre o assunto. Essa tare...

Gosto de estudar as religiões por dois motivos: Para lecionar
com conhecimento de causa e ampliar a minha visão sobre o assunto. Essa tarefa
é desafiadora dado ao grande número de religiões que temos no mundo,
atualmente. Então, a gente acaba selecionando algumas por ordem de interesse ou
de importância. No meu caso, prefiro estudar algumas religiões que chamo de “matriciais”,
pois a partir delas, diversas outras surgiram. Algumas religiões são como
troncos que acabaram originando novos galhos. Veja, no caso do Cristianismo,
por exemplo. Hoje, seria impossível enumerar todas as religiões que se dizem
cristãs ou que se derivaram do Cristianismo. O próprio Cristianismo originou-se,
no seio do Judaísmo, pois Jesus era judeu.
A maioria das religiões do meu interesse são religiões
milenares. Isso não é preconceito contra as novas. Mas, algumas são tão novas
que nem fizeram história ainda... Acho que o importante é buscar os troncos de
algumas religiões para se entender um leque de religiões “aparentadas”.
Para nós, ocidentais, entender as religiões orientais não é
fácil, pois alguns conceitos não fazem parte de nossa rotina, ou quando fazem,
nem sempre, são bem compreendidos. Além disso, a gente não tem o “lugar de fala”,
pois falamos a partir de nossos referenciais. Na tentativa de facilitar essa compreensão,
hoje farei um pequeno resumo da Teologia Indiana. Na verdade, esse resumo nem é
meu. Foi recriado por mim, após a leitura do Livro: Mitos Hindus e Budistas (1). Adianto ao leitor que nem pra mim é
muito fácil entender a teologia indiana, dado à variedade de nomes das
divindades, com seus avatares e correspondentes femininos. A proposta é ajudar
aqueles, que estão ainda com mais dificuldades do que eu, para entender o
assunto. Vamos então, ao nosso esquema:
Brahman (neutro) = Realidade única, absoluta
e sem atributos. Com atributos ele se torna Ishvara.
Ishvara (com atributos) – Brahma, Shiva,
Vishnu.
Vishnu com suas energias = Skaktis (Correspondentes femininos) = Saravasti,
Devi, Laksmi.
Os adoradores costumam salientar um desses atributos de
Brahman e destacá-lo com relação aos outros aos quais consideram meras
divindades. Assim, os adoradores de Shiva colocam essa divindade acima das
demais...
“Segmentos” mais destacados:
1- Adoradores de Shiva = Shivaítas;
2- Adoradores de Vishnu = Vaishnavas – adoram também os avatares
de Vishnu = Krisna e Rama...
3- Shaktas = Adoradores de Devi como divindade suprema.
Avatares: encarnações especiais assumidas por
porções do Supremo para ajudar nos processos da evolução e libertação do homem.
Vishnu, por exemplo, possui 10 avatares, dos quais Rama, Krishna e Buddha são
os últimos. Kaiki é um avatar que ainda não veio até nós.
Um complicador para o estudante de mitologia indiana são os
muitos nomes atribuídos à mesma divindade. Vejamso:
Shiva: É também conhecido por Mahadeva, Hara ou Nataraja.
Vishnu: É conhecido por Hari e Narayan.
Os nomes diferentes referem-se aos vários aspectos do ser
único. Isso também ocorre na mitolgia grega. Atena por exemplo é chamada de “Palas
Atena” e, no mundo romano, de “Minerva”... No caso indiano cada divindade ainda
costuma ter uma correspondente feminina que são as Shaktis.
Shakti de Shiva: Devi. Alguns de seus outros nomes são: Sati,
Uma, Durga, Chandi, Parvati e Kali. A Skakti é venerada como “A mãe” e todos os
seus adoradores ao falar de deus dizem “Ela”.
Quase todo adorador indiano é monoteísta. Para o devoto não
há nenhuma confusão entre os deuses. O que existe é um Deus Supremo que se
manifesta com atributos diferentes.
Poderes cósmicos:
Diferentes de Ishvara são os devas = Indra, Agni, Varuna e
Yama. Eles são personificações dos poderes cósmicos desde o surgimento dos
vedas que são os hinos sagrados do Hinduísmo. Antes do surgimento do culto à
Shiva e Vishnu eles já eram cultuados. Estamos falando de uma realidade de
cinco mil anos atrás.
Swarga: Assim como na mitologia grega os
deuses habitavam o Monte Olímpico, os Devas habitavam num lugar mítico chamado “Swarga”
de onde concedia benefícios aos seus adoradores. Swarga era um lugar onde todos
os desejos humanos eram satisfeitos, e onde os seres humanos eram recompensados
pelas boas ações nos intervalos entre um nascimento e outro. Os devas, no
entanto, não salvavam as almas dos homens, não se sacrificavam pelo mundo e nem
assumiam condições de avatares.
Os homens santos podiam alcançar um lugar no Swarga, mas isso
não os livrava de um novo nascimento. Também não era um “estado de salvação”
como no caso do Moksha ou Nirvana. No Swarga os devas se associam aos “rishis”
(homens santos). De lá também se originam os animais especiais que são veículos
dos deuses, como por exemplo, o rato de Ganesha ou Garuda(águia) de Vishnu. Desse
lugar sagrado também surgem diversas criaturas especiais como as apsaras
(dançarinas de Indra), gandharvas e os kinnaras(músicos). Esses três grupos de
criaturas não entravam no ciclo de encarnações e evoluções.
Hades: Yama mesmo sendo um dos devas é
também senhor do mundo dos mortos onde as más ações dos homens são expiadas
entre um nascimento e outro.
“Demônios” = Os demônios (asuras, daityas,
rakshasas) estavam em constante guerra com os devas. Para isso, pediam ajuda de
Brahma, Shiva ou Vishnu.
Como se pode ver, o panteão dos deuses indianos é rico e
complexo. Para um iniciante como eu, não é fácil compreender como todas essas
forças se articulam e agem na história dos homens. Mas, não se pode entender o vasto mundo da
teologia indiana se não se entende pelo menos parte de suas principais
divindades. Espero que esse texto lhe tenha sido útil para começar um estudo
mais aprofundado sobre o assunto posteriormente.
Obs: Texto
inspirado no livro: Mitos Hindus e Budistas, de Ananda K. Coomaraswamy e Irmã
Nivedita. Landy Editora, São Paulo,
2002. Pp. 363 -65.
Imagem de Free-Photos por Pixabay
Muito interessante, padre
ResponderExcluirMuita cultura. Parabéns
ResponderExcluir..."Como se pode ver, o panteão dos deuses indianos é rico e complexo. Para um iniciante como eu, não é fácil compreender como todas essas forças se articulam e agem na história dos homens."..
ResponderExcluirParabéns Padre Gabriel!