Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus

 

A frase que intitula esse texto foi tirada da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8, 28). Mesmo que uma situação nos pareça difícil e a gente pense que Deus nos esqueceu, a verdade não é bem assim. Nós é que somos pequenos demais para entender os planos divinos. Deus nos criou e conhece nossas fraquezas. Ele sabe o quanto somos limitados em nossa compreensão da realidade. Às vezes, só depois que a boiada passou é que vamos entender a lógica dos acontecimentos. Por isso, é tão importante que haja fé. Ela nos dá a certeza antecipada das realidades que ainda não possuímos e nos permite andar sobre as águas como se andássemos em terra firme.  Se compreendêssemos, racionalmente, todos os desígnios de Deus não haveria necessidade da fé.

A história que adaptei para ilustrar o meu texto de hoje foi tirado da mitologia indiana (1). Ela me servirá para ampliar a ideia acima.

Era uma vez um rei muito importante, que ao morrer, deixou uma grande herança para o filho. Mas, junto com a herança deixou um ministro que lhe era muito estimado. Tal ministro era um homem de fé.  Louvava a Deus em todos os acontecimentos bons ou ruins. Aquilo foi “azedando” a paciência do príncipe. Não aguentando mais a postura daquele ministro o príncipe planejou uma forma cruel para se livrar dele. Convidou-o para caçar num dia chuvoso e de muita ventania. Como o ministro não tinha experiência nisso, com certeza, seria devorado por algum animal feroz. Ainda no caminho da floresta uma árvore tombou com a ventania e acabou ferindo a testa do príncipe. O ministro disse-lhe: Graças a Deus, o ferimento não foi grave. Deus seja louvado! Aquilo irritou mais ainda o  príncipe que resolver atirar o velho num buraco. Prestes a cair no buraco o ministro ainda teve forças para dizer: Graças a Deus, vou descer ao buraco. Louvado seja Deus! Enquanto se preparava para retornar da caça deixando o ministro no buraco, eis que surgiram da floresta alguns canibais. Rapidamente, o príncipe foi capturado e levado à aldeia dos canibais que o prepararam para o sacrifício.

A panela de água já fervia quando o príncipe foi despido e preparado para ser abatido assim como se abate um frango qualquer para o almoço. Mas, quando o chefe deles levantou a faca para imolar a vítima, viu que ela tinha um ferimento na testa. Por causa daquele ferimento ele foi poupado da morte, pois os canibais só sacrificavam vítimas, fisicamente, perfeitas.

Ao ser poupado da morte por causa do ferimento na testa aquele príncipe entendeu o quanto estava correto o ministro que ele abandonara no buraco. Não pensou duas vezes. Voltou, rapidamente, ao local do cativeiro  e libertou o seu ministro da morte. Finalmente, entendeu, que tudo pode cooperar para o bem daqueles que amam a Deus! Aquele ferimento em sua testa causado pela queda da árvore e que tanto o chateou foi o que o salvou da morte...

Ao refletir sobre essa história fico pensado em muitos casos que já vivi ou presenciei. Casos que, num primeiro momento, pareciam ruins, mas que acabaram sendo entendidos como bons posteriormente. A história citada naturalmente, isso não explica tudo. Mas, ajuda a entender que, às vezes, para evitar uma doença grave não podemos reclamar da picada de uma vacina.

Nenhuma criança entende a necessidade de ser vacinada. As mães morrem de pena dos filhos na hora da agulhada. Mas, nem por isso, elas os poupam do sacrifício, pois sabem que é aquilo é para evitar um mal maior. Às vezes, penso que Deus também age assim com a gente, afinal nos ama com amor de mãe. Por isso, seria bom, antes de reclamar de qualquer coisa pensar bastante. Afinal tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus!

 

1-    Franchini, A. S. As melhores histórias da mitologia hindu. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2010. Página 206.

Imagem de David Mark por Pixabay