Um gato amarrado ao pé do altar

  Aqui segue mais uma história inspirada num conto oriental. Ela me servirá para refletir sobre a necessidade de relativizarmos algumas norm...

 


Aqui segue mais uma história inspirada num conto oriental. Ela me servirá para refletir sobre a necessidade de relativizarmos algumas normas que ficaram obsoletas com o passar do tempo. Como se sabe, as normas são criações humanas que nasceram para responder às  demandas de uma época. Quando se amarrava o cavalo diante da mercearia era necessário que houvesse um tronco ou, no mínimo, um toco seco onde o cavalo pudesse ser preso. O que não faz sentido é manter o tronco numa grande avenida, sendo que, nem cavalo passa mais por lá. Mas, por alguma razão, nós gostamos de preservar esses troncos que só servem para atrapalhar o fluxo das pessoas. Fiz essa referência porque, até pouco tempo, ainda existiam nas pequenas cidades, os “estacionamentos” para cavalos... Se não tomarmos cuidado sacrificamos coisas importantes em nome de leis, há muito, defasadas. Vamos à história:

Era uma vez, havia um monge muito santo, que morava sozinho na floresta. Por mais que ele evitasse as pessoas o procuravam para se aconselharem com ele ou suplicar pelas suas orações. Um jovem do povoado mais próximo desejou seguir aquele monge. Depois de muita insistência foi aceito pelo monge e começou a morar com ele. Procurava imitá-lo em tudo, pois também desejava ser santo. Boa parte do dia o monge permanecia em meditações e durante esse tempo não gostava de ser incomodado. O jovem observava tudo e procurava imitá-lo. Cansado do assédio das pessoas o velho monge resolveu mudar-se daquele local. Mas, não quis levar o seu “seguidor”. Pediu a ele que ficasse ali mesmo e tomasse conta da casa.

Depois de trinta anos vivendo em completa ausência aquele velho monge decidiu retornar à sua antiga casa para uma visita. Nesse retorno teve uma surpresa atrás da outra. O povoado havia mudado, completamente, e ninguém o reconheceu. Estranhou que naquela vila tivesse aparecido uma feira de gatos. Afinal, apesar de gostar dos bichanos ele nunca pensou que os gatos pudesse ser alvo de tanto interesse. Caminhando entre as pessoas foi ouvindo coisas do tipo: Esse gato é um dos melhores. Com ele você terá muito sucesso em suas meditações... Outro retrucava. Mas, aquele gato na gaiola lembra mais a tradição deixada pelo monge... Chegou a presenciar a surra em uma criança que não queria amarrar o gato, ao pé do altar, para iniciar as orações... Tudo aquilo lhe soou muito estranho. Deixando aquela vila dirigiu-se à sua antiga casa. Ao chegar viu o seu discípulo meditando com um gato amarrado ao pé do altar e quis saber o motivo daquilo. Foi então que recebeu a seguinte explicação: Olhe mestre, eu sempre observei quando o senhor rezava. Vi, que muitas vezes, o senhor prendia um gato. Então, passei a fazer a mesma coisa, pois imaginei que fosse o gato amarrado ao pé do altar a razão de sua elevação espiritual... Sem saber o que dizer o velho monge silenciou alguns instantes, buscando as lembranças em sua memória. Lembrou-se, finalmente, que antes de partir ele tinha mesmo um gato que, de vez em quando, perturbava sua oração. Para que isso não ocorresse prendia-o. Mas, uma coisa nada tinha a ver com a outra...

A tradição de prender os gatos para garantir sucesso na oração não tinha nenhuma razão de ser. Mas, movido pela ignorância, muita gente só conseguia meditar depois de prender um gato. Nesse caso, era o gato que pagava o pato...  Hoje sou tentado a pensar que ainda temos muitos gatos presos sem necessidade. Refiro-me agora, às normas que caducaram com o tempo e que, apesar disso, entulham as nossas vidas. Alguém saberia me dizer qual é a necessidade do uso de faróis acesos durante o dia com um sol aos quarenta graus? Pois é. Aí está um gato! A gente o amarra e diz que é ele quem garante a segurança no transito. Com ele amarrado, ou sem ele, tudo permanece igual...

Será que em nossas igrejas também prendemos alguns gatos? Será que preservamos normas que, além de não ajudarem em nada, dificultam nossas ações? Quantos os gatos precisamos libertar ainda hoje? As respostas para tais perguntas eu deixo para você mesmo buscar.

Obs: Texto inspirado no livro de: Franchini, A. S. As melhores histórias da mitologia hindu. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2010. Página 222

Imagem de JoeSang por Pixabay 

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  1. Mts gatos sem necessidades apenas pra tirar dinheiro do povo infelizmente

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  2. A ignorância é que travanca o país, principalmente nosso querido Brasil. Por isso gato ali gato acolá, o que não pode é gato faltar.

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  3. Pois é Padre Gabriel! Infelizmente temos muitos gatos passados de geração em geração!

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  4. ...". Sem saber o que dizer o velho monge silenciou alguns instantes, buscando as lembranças em sua memória. Lembrou-se, finalmente, que antes de partir ele tinha mesmo um gato que, de vez em quando, perturbava sua oração. Para que isso não ocorresse prendia-o."...
    Isso explica o motivo que naquela vila tivesse aparecido uma feira de gatos! Afinal,

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  5. Vejo que aínda hoje a muntos gatos amarados e a falta de amor a falcidade o egoísm
    Si as pessoas amasmos mais séria melhor TD


    So


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  6. Uma feira de gatos amarrados entre nós por causa do PRECONCEITO! O gato ficava amarrado para não atrapalhar o monge rezar com tranquilidade, por ignorância o povo associou que se rezasse com gato amarrado a oração teria mais eficácia,

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  7. Lendo relendo esse texto fico a matutar, por qual motivo as pessoas associam que o humano vale mens ou mais dependo da cor da pele, questão, social, econômica, opção sexual, obesidade, com deficiência física..
    Vai que existem gatos amarrados para explicar!

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  8. Pe. Geraldo linda a historia do Gato. Nos ensina a desligar de tudo em momentos de oraçao p escutar a voz interior q nos fala.

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  9. Sim, temos muitos gatos amarrados dentro da igreja,que entendo que são tradições, mas seguir tradiçoes nos faz bem, faz parte da nossa história, vc acaba trazendo a tona lembranças e ensinamentos de aeua antepassados.Mas temos q ser.suscetível mudanças.

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  10. Há muitos gatos ocupando o lugar que somente cabe a Jesus Cristo. E estão no ressuscitando outros gatos que pensávamos terem desaparecidos pelo tempo. Às vezes dá vontade de rir, mas na maioria das vezes de chorar.

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  11. Tem pegadinha neste conto???? Pensando aqui... O monge tinha um bom motivo para amarrar o seu gato,mas o jovem que o observava não teve sabedoria nem discernimento para entender o fato. O que resultou em tudo que estava ocorrendo na cidade. E penso que muita coisa é passada para as futuras gerações do mesmo jeito.Resumindo: Temos que pensar com sabedoria as nossas ações para não sermos umas " Marias vão com as outras" ou se fazem assim vou fazer também....Bom , deu o que pensar este conto!

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  12. Otimo texto! Excelente comparação! Nao consigo entender o porquê de aceitarmos tudo calados. E na igreja infelizmente muita gente querendo realçar.

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  13. Bom dia Padre Geraldo, peço sua benção. Gostei muito deste conto, refleti a noite , e descobri que tenho muitos gatos amarrados no meu altar, mas o mais importante foi que me fez compreender a atitude do Papa Francisco, sobre as mudanças , acho que o ESPÍRITO SANTO está cansado de tantos gatos na nossa Igreja.

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  14. tem tanto gatos amarrados e miando nas nossas orações.

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  15. NÓS ADULTOS COMPLICADOS DEMAIS A VIDA COM MUITAS NORMAS DESNECESSÁRIAS...
    CRIAM LEIS E QUEREM QUE CUMPRAMOS COMO O HORÁRIO DE VERÃO Q GRAÇAS A DEUS ACABOU ...farol durante o dia ...
    A IGNORÂNCIA NOS DEIXAM CEGOS

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  16. Há muitos gatos amarrados na Igreja, na Sociedade, nas nossas vidas em particular. Há quem associa até hoje que gatos em nossas casas, é como um talismã que limpa o ambiente. Ele é tipo um protetor dos moradores da casa. Será que não é mais um amarrado? 🤔

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