A escada que leva ao Cristo

 

Faz mais de dez anos subo, juntamente, com um grupo de irmãos, às escadarias do Cristo, na Cidade de Pará de Minas. São mais de 600 degraus! No alto da serra está a imagem de Cristo com seu coração de alumínio. Esse coração tem história! Na época que ele foi colocado no peito do Cristo, toda a população de Pará de Minas, doou vasilhame de alumínio para formá-lo. Hoje o coração de Cristo carrega um pouquinho da história de cada família dessa Cidade. A escada que leva ao Cristo é íngreme e tortuosa. Percorrê-la é um ótimo sacrifício físico e espiritual. Ela corta a vegetação do serrado e abriga diversos tipos da fauna e flora locais… Assistir ao nascer do sol nos degraus da escadaria faz a gente ganhar o dia! Mas, durante a Via-Sacra quaresmal, às vezes, a gente pega chuvas também. Isso é igualmente lindo. A sensação que a gente tem é de receber um banho purificador diretamente do céu.

A escada é uma metáfora da vida espiritual. Queremos subir sempre, até alcançar os braços de Cristo. A subida não é fácil. Às vezes, subimos um degrau e descemos dois. Às vezes, nos desanimamos ao ver a distância que nos separa da perfeição. Pode ser que alguém caia ou passe mal no caminho. Uma coisa é certa. Por mais alta que seja a escadaria subimos um degrau de cada vez. É melhor subir devagar e sem pressa. Podemos até olhar o topo da escada de vez em quando. Mas, nosso olhar não pode nos levar ao desânimo! Subir sozinho não vale. Por mais que demore a subida só tem graça quando subimos  com os irmãos.

À medida que subimos os degraus vamos rezando a Via-Sacra e refletindo sobre o tema da Campanha da Fraternidade. A oração facilita nossa caminhada... Em cada estação da Via-Sacra, paramos um pouquinho. Então, dá para aliviar o cansaço. Na vida também é assim. Precisamos parar um pouquinho cada dia para rezar. A oração nos alivia do estresse do dia-a-dia e nos reabilita para enfrentar a caminhada.  Quem reza, costuma ter mais forças para viver. Sem a oração é impossível subir pela escadaria da fé. Oração é namoro com Deus. Ele é um namorado fiel e nunca nos decepciona. Mesmo quando o traímos Ele nos perdoa e caminha conosco.

No último dia da Via-Sacra, normalmente, fazemos um lanche coletivo no alto da serra. Os enfermos sobem de automóveis por outro caminho. Mas, também partilham do lanche. A turma se reveza para dar carona aos idosos e doentes. Ninguém fica excluído da subida, nem do banquete fraterno. No alto nos confraternizamos. Esse fato lembra-nos o banquete do Reino descrito pelo profeta Isaías – Isaías 55, 1-11. Deus é aquele que tem prazer em ver seus  filhos reunidos em torno da mesa das refeições.  A vida é feita de cansaço, mas também de alegria. Por isso, precisamos nos confraternizar de vez em quando. É bom estar vivo e poder celebrar isso com a comunidade. Alguns que já rezaram essa Via-Sacra conosco hoje já estão no céu e de lá nos acompanham com suas preces.

Quem caminha não pode perder de vista o alvo desejado. Em nosso caso o alvo é chegar ao cume da montanha e rezar diante da bela imagem de Cristo. Entre nós e nosso objetivo se interpõe uma escada com mais de 600 degraus! Pode haver perigos: chuvas, animais peçonhentos, cacos de vidros e outras provações. Mas, o objetivo está claramente definido. Então, caminhamos com determinação até alcançá-lo. Na vida precisamos ter objetivos e metas claramente definidas. O resto deve ficar em segundo plano. Para subir ninguém precisa pisar em ninguém. Pelo contrário, precisamos dar as mãos uns aos outros. Os desafios, quando enfrentados individualmente, tornam-se pesados. Em grupos são facilmente vencidos. Não teria graça se alguém tivesse subido na frente e comido a merenda sozinho. A graça se faz quando se caminha com o outro e respeita seus limites.

Espero que ao final da vida também consiga alcançar os braços de Cristo. Por enquanto, estou tentando subir. Essa tarefa não é fácil diante de minha fraqueza. Preciso de sua ajuda para subir, mas, ofereço-lhe, meu apoio para que você possa subir comigo! Cristo nos espera e é isso nos conforta. Essa certeza já basta para nos ajudar a enfrentar todas as dificuldades da subida!

Fotos: Arquivo pessoal

Segunda foto: Mateuzinho com seu neto João Pedro.