Cólica de rins
Porque falar de nossas dores quando a gente escreve? Já não basta que elas nos arranhem por dentro. Será necessário mostrar a todos, nossa...
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Porque falar de nossas dores quando a gente escreve? Já não basta que elas nos arranhem por dentro. Será necessário mostrar a todos, nossas vísceras sangrentas? Mas, quem não carrega uma dor dentro de si, que atire a primeira pedra! Aliás, algumas de nossas dores são causadas, exatamente, por elas, digo, pelas pedras! Na medicina, elas ganharam um nome mais atraente: Cálculo renal... Você não calcula o que significa ter um cálculo desses!
A cólica de rins nos causa uma dor inconfundível! Começa na ponta do dedão do pé e vai até a raiz do cabelo... Vai e volta o tempo todo. O paciente, nome bonito para “vítima”, se contorce feito cipó, sente vômito e vontade de ir ao banheiro, tudo isso ao mesmo tempo! Qualquer um, nessas condições, perde a classe. Depois dizem que homem não chora. Só não chora quem não teve um cálculo desses no lombo do rim.
A última vez que um cálculo me deu um sinal de presença, uma presença inconfundível, diga-se de passagem, eu estava em pleno ar fazendo locução no rádio. Como já conhecia o “modus operandi” do elemento (esclareço, desde já, que não faço jornalismo policial), expliquei aos ouvintes que teria de deixar o programa por causa de uma pequena cólica. Pequena? Só Deus sabia! Mal arranjei um substituto, naquela tarde fatídica de domingo, e rumei para a Santa Casa. Cheguei à portaria com o diagnóstico pronto: Cólica de rim, comadre! Arranje-me um remédio ou me dê uma paulada na cabeça de vez!
A enfermeira magrinha andava tão devagar que, se mau olhado matasse, eu mesmo teria me encarregado disso. Mas, tentei manter a pose e permanecer firme sem descer do salto. Uma mão invisível virava, pelo avesso, os meus intestinos. Batia o pé, nervosamente, tentando, em vão, um pouco de alívio. A poltrona da portaria não me cabia. Pensei em deitar-me no chão. Quem sabe rolando por terra poderia ser socorrido mais rapidamente? De nada adiantou. Os médicos têm seus tempos próprios... Sem acompanhante eu mesmo teria que fazer minha ficha. Qual é a idade do senhor? – Qualquer uma moça! Bota aí. Depois que passar a cólica eu volto aqui e lhe faço até uma declaração de imposto de renda.
Depois dos protocolos da portaria, fui suando em bicas, para uma sala de espera. O ventilador me deixava tonto; o barulho me incomodava, o cheiro me dava náuseas... Cada um que me via perguntava o que eu estava sentindo... Ô vontade de morrer, sô! Assim, que me viu, o médico não duvidou do meu diagnóstico. Olhou-me, de forma gelada, e ordenou que me fosse dada uma injeção. A enfermeira magrinha aproximou-se, caminhando sobre plumas e me pediu para virar de costas. Aí meu Deus! Pensei, a injeção vai ser lá, na região dos amortecedores... Quando a agulha entrou eu pensei que ia perder a perna. Sabia que seria doída, pois, nesse caso específico, eu não era estreante. Mas, daquela vez, a coisa desandou... Por algum tempo fiquei ali, meio morto e meio vivo. Com o passar das horas, a dor foi sumindo como uma nuvem carregada pelo vento. Essa deixou saudade! Até hoje não voltou e, caso volte, não será bem vinda!
Dizem que cólica de rins dói mais do que parto. Mas, a dor do parto trás recompensa. Penso que, ao ver o rostinho do filho, a mãe até se esquece do que passou. Cólica de rins não trás recompensa nenhuma e fica pra sempre na lembrança. É bem melhor dar a luz a uma criança fofinha do que botar para fora uma pedra cascuda. Quando chega a hora de nascer a criança nasce e pronto. Pedra no rim faz charminho, ameaça e não vem e, às vezes, só sai quinze dias depois do alarme inicial!
Sei que temos grandes profissionais de saúde entre nós. Não desejo que nenhum deles experimente esse tipo de coisa. Mas, se algum médico já passou por experiência assim, com certeza, irá acelerar o passo na hora de atender esses casos. Seria tortura demais exigir que a vítima preenchesse uma ficha maior do que a do imposto de renda antes de socorrê-la... Depois que você teve uma pedra no rim, nunca mais se esquecerá de que tem dois rins e não um só... Chance dupla? Vá de retro!
Imagem de mohamed Hassan por Pixabay
Verdade Padre. Esta dor é insuportável. Gostei do que o Senhor disse... caso ela chegue não será bem vinda. Kkkk
ResponderExcluirInfelizmente temos esse problema da burocracia e teoria ser sanada antes da prática. Imagine isso na rede pública onde o paciente vai sofrer por muito mais tempo aguardando liberação ou a boa vontade de alguns profissionais.
ResponderExcluirMuito bom o texto.
Nem cólica de rins e nem dor alguma é bem vinda. Quando queixamos alguma dor não é acredito que seja à toa. Toda dor tem sua origem. O importante é descobrir o que é como você já sabia já logo apresentou o diagnóstico. Mas toda dor tem um fundamento. Se doi alguma coisa está errada. Silvania
ResponderExcluirVerdade
ResponderExcluirDeus nos livre de colicas
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