Veio da Grécia

 

Confesso que, às vezes, sem querer, acabo metido em alguma treta. A última delas me aconteceu quando recebi uma visita inusitada. Quando a visita é de mulher, a gente tem que ficar atento. Elas veem tudo num simples rabo de olho. Visita de homem não tem nada de inusitado. Primeiro porque o homem, quando enxerga bem, só vê 50%. Prova disso, foi minha última ida à casa do Helinho.  Cheguei a sua casa e fui direto para a copa, onde alguns pães de queijo nos roubavam qualquer capacidade de concentração. Essa é outra limitação masculina: Comida sobre a mesa! Conversa vai, conversa vem, chegou a hora de ir embora. Na saída percebi, pela primeira vez, que havia uma caixa d’àgua, azul, ao lado do pé de jabuticabas. Estranhei aquele objeto ali e perguntei ao Helinho se era compra nova. Mas, para minha surpresa ele disse que a tal caixa estivera ali desde sempre. E eu que nunca cheguei a percebê-la! Também pudera, disse Helinho, ela é pequena. Só cabe 5 mil litros... Mas, voltemos ao nosso tema.

De vez em quando, tenho ataques de nobreza. Por isso, resolvi comprar um lindo tecido para cobrir o sofá de minha biblioteca. É uma coisa meio chique em tons de carmim com uma franja dos lados. Na borda algumas faixas gregas exibem qualquer coisa de cultura. Encontrei a tal capa exposta num varal debaixo de algumas árvores na vizinhança. O vendedor ambulante que guardava as mercadorias a vendeu-me, por uma pechincha! Aquilo foi um negócio da china, ou melhor, da Coreia, ou Taiwan, sei lá! Era um produto importado vendido por um desses cearenses que vendem até a própria alma...

Faz alguns dias recebi em minha casa, a visita de uma grande amiga.  Ao ver aquela capa no sofá ela ficou deslumbrada, ou pelo menos simulou um deslumbre. Antes mesmo que me perguntasse como adquiri aquela preciosidade, ela mesma afirmou: Olha, que chique, veio da Grécia?  Não podia perder aquela oportunidade, pensei. É, veio sim. Foi um amigo que me enviou de lá... Confirmei o equívoco - equívoco é um nome chique para mentira - meio reticente. Fiquei com medo que ela procurasse a etiqueta. Mas, felizmente, nem etiqueta o pano tinha...

Depois daquela visita eu mesmo estava convencido que havia feito um bom negócio. Mas, essa ilusão durou pouco. A capa, de alta nobreza, se se desbotou completamente, na primeira lavagem. Agora torço para que minha amiga não me pergunte pelo “tecido grego”. Pode ser que ela me pergunte só para ver no embaraço, pois ninguém engana uma mulher. Se o homem só enxerga 50%, ela enxerga 50% além do normal. Isso é um caso para estudo da oftalmologia moderna.

Aposto que, já naquele dia, minha amiga já sabia que a tal capa foi adquirida de algum vendedor ambulante. Possivelmente sabia até mesmo o nome dele, e o seu grupo sanguíneo. Pobres de nós! O homem nasceu com um defeito de fábrica. Não enxerga nada, mesmo usando óculos. Quer uma prova? Então pergunte ao seu marido que roupas você usou ontem à tarde. Mas, por favor, vá devagar. Não judie tanto assim do pobre coitado. Não é que ele não se lembre. É pior! Ele não viu. Nem viu se você usava  saia, calça ou blusa.

Nos mandamentos da lei de Deus, às vezes penso, que faltou um: Mulheres tenham dó de seus maridos! Não exijam que eles lembrem coisas do tipo: penteados, datas de aniversários ou vestimentas. Eles só irão lembrar se tinha ou não, pão de queijo sobre a mesa...

Imagem de ambermb por Pixabay