Como as estrelas do céu e a areia da praia do mar...

 

O título que encabeça esse artigo mais parece um trecho de música. Mas, não se trata disso. Trata-se, na verdade, da promessa de uma numerosa descendência que Deus fez a Abraão (Gn 22, 17ss), após constatar sua grande obediência à sua palavra.

O episódio que narra o sacrifício de Abraão (Gn 22, 1-24), naturalmente, não pode ser tomado ao pé da letra. A história tem finalidade catequética, ou seja, de ensinar a importância da obediência aos planos de Deus, ainda quando eles nos parecem absurdos. De fato, o pedido que Deus fez a Abraão para sacrificar o seu único filho parecia absurdo. De uma hora para outra, Deus parecia ter mudado os seus planos. Abraão deixara tudo para servi-lo, acreditando numa terra prometida e numa grande descendência. Ele envelhecera e nada de ter filhos. Nem por isso, desesperou, pois tinha uma fé a toda prova. Quando menos esperava, Deus deu-lhe um filho. Aquilo foi a maior alegria de sua vida. Agora tudo parecia fazer sentido. Abraão apostou todas as fichas em Isaac como o herdeiro das promessas. Por causa disso, sua alegria era maior ainda. Isaac seria o continuador do povo da aliança! Mas, agora, sem nenhuma explicação, Deus pede o seu único filho em sacrifício. Será que Deus havia se arrependido do que falara? Será que estava chateado com Abraão e nem ele sabia a razão disso?

Abraão não entendeu nada do que Deus lhe disse. Apesar disso, não abriu a boca. Conduziu o filho à montanha, preparou um altar e pôs a lenha sobre ele. Seu coração estava partido. Qual o pai seria capaz de cumprir uma ordem tão absurda? – Abraão. Ele ia cumprir até o fim. Sabia que Deus iria dar um jeito na situação, embora não soubesse como. Quando levantou a faca para imolar o filho, Deus interveio através do seu anjo que lhe disse: - Abraão! Abraão! Não estendas a mão contra o menino! Não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus: Tu não me recusaste teu filho único. Abraão, certamente, trêmulo ergueu os olhos e viu um cordeiro, preso pelos chifres num arbusto; ele pegou o cordeiro e o imolou sobre o altar em lugar de seu filho. A este lugar Abraão deu o nome de “Deus proverá”.

A história do sacrifício de Abraão é recheada de elementos dramáticos. A exigência exagerada da parte de Deus serve para destacar a grande obediência de Abraão. Por isso, ele é considerado um perfeito modelo de fé. A fé não deixa de ser um salto no escuro. Mas, quem dá esse salto confia que Deus não vá deixá-lo cair no chão. Na maioria das vezes, nós também não sabemos o que Deus quer de nós. Por isso, precisamos tanto da oração. Através dela, podemos discernir, aos poucos, o que Deus quer de nós. Nem de longe temos a fé inabalável de Abraão. Peçamos a Deus que aumente nossa fé e nossa fidelidade aos seus ensinamentos...

A fidelidade de Abraão não ficou sem recompensa. Por ser capaz de ato tão grandioso Deus prometeu-lhe uma descendência tão grande quanto o número das estrelas do céu e da areia nas praias do mar. Talvez, por isso, três grandes religiões do mundo (Cristianismo, Judaísmo, Islamismo) se considerem filhas de Abraão.

Nosso Deus é especialista em amor e para amar-nos não mede sacrifícios. Poupou a vida do filho de Abraão. Mas, não poupou a vida de Jesus o seu próprio filho. Com sua morte na cruz deu-nos a maior de todas as lições de amor, pois não existe prova de amor maior do que doar a própria vida...

Imagem de Robert Cheaib por Pixabay