Deus e o gênio da lâmpada

 

Todos conhecem a história de Aladim e sua lâmpada maravilhosa. A lâmpada só era maravilhosa porque prendia, no seu interior um gênio, escravo, capaz de realizar os desejos de Aladim. Quem não gostaria de encontrar uma lâmpada assim? Bastaria esfregá-la e, prontamente, surgia um gênio do seu interior para servi-lo e atender aos seus pedidos. Mas, será que você estaria pedindo as coisas certas se estivesse no lugar de Aladim? Os desejos humanos são como um saco sem fundos e a maioria deles vai  na direção do consumismo. Se essa história fosse real e uma lâmpada assim fosse parar em suas mãos o que você pediria ao gênio?  Um novo Smartphone ou a vacina contra o Covid-19?

Alguns cristãos costumam tratar Deus como se Ele fosse o gênio da lâmpada. Deus deve atendê-los com dia e hora marcada e ai dele se não realizar todos os desejos da pessoa!  Algumas dessas igrejas que aparecem na televisão não pedem, simplesmente, ordenam. Deus tem que realizar uma cota de milagres em cada culto. Essa fé movida a milagres dura 24 horas ou enquanto não chegar a polícia... Infelizmente, alguns pagam para serem enganados!

Mas, então como deve ser a nossa relação com Deus? Não podemos pedir a sua ajuda? Claro que sim! Mas, devemos saber que o tempo de Deus é diferente do nosso e os seus caminhos estão bem acima dos nossos. Nem sempre entendemos a forma como ele nos atende e, às vezes, só vamos entender depois que a banda passou. Na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a rezar dizendo: Seja feita a vossa vontade! Na mesma oração ele incluiu também alguns pedidos que podemos fazer como, por exemplo, pãozinho de cada dia. Vale ressaltar o “cada dia”. Isso evita a tentação de acumular! As outras petições vão no sentido da nossa santificação: Que o nome de Deus seja conhecido e amado; que o seu Reino se torne realidade entre nós; que possamos perdoar e receber o perdão... Aí, com certeza, temos um modelo perfeito de oração.

Ao receber o anúncio do Anjo Gabriel (Lc 1, 26-38), Maria, simplesmente, disse: Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra! O que significa ser “escrava” do senhor? O escravo faz aquilo que o seu amo deseja. É como se ele não tivesse vontade própria. Maria agiu assim e não reclamou nem quando Deus exigiu-lhe o maior de todos os sacrifícios: A morte do seu filho na cruz! Ela não agiu como Aladim que tratava o gênio como o seu escravo. Fez o contrário, quando se colocou na posição de “escrava”.

Como são curiosos os caminhos de Deus! Mesmo sendo todo poderoso e criador do céu e da terra, “precisou” do sim livre de uma mulher para nascer entre nós! Deus não viola a nossa liberdade, pois não é um ditador e sim um Deus de amor. Sendo assim, respeita as nossas decisões até quando elas não lhe agradam. Diante do anúncio do Anjo Gabriel Maria não criou obstáculos e nem impôs condições ao plano do Pai. Simplesmente, acolheu, como escrava, mesmo sem entender todas as implicações desse sim. Sua atitude nos lembra da oração do salmista: A ti elevo os meus olhos, a ti, que habitas nos céus. Como os olhos dos servos estão atentos às mãos dos seus senhores, e como os olhos da escrava, às mãos de sua senhora, assim nossos olhos estão voltados para o Senhor, nosso Deus... Sl 123 (122).

O escravizado, às vezes, capturado em outras terras, não entendia a língua do seu dono. Por isso, ficava atento aos seus gestos. Era com as mãos que lhe vinham às ordens a serem cumpridas. Atenta ao menor gesto de Deus, Maria se tornou um modelo de escuta e serviço para todos os cristãos. Hoje somos convidados a imitá-la. Deixemos de lado o Aladim que mora em todos nós e olhemos para o exemplo de Maria. Que a vontade de Deus possa se tornar realidade em cada um de nós assim como se tornou realidade nela...

Imagem de simisi1 por Pixabay