Caminhada ao cair da tarde

 Para variar, hoje fiz minha caminhada só, e com a cabeça cheia de pensamentos. Nas repartições de minha “cachola,” existem compartimentos para pensamentos nobres e outros mais vagabundos como esses que registro agora. Aos mais nobres, chamo de “reflexões,” uma palavra que carrega em si, os ares da solenidade. “Re-flexão” é um flexionar-se, um voltar-se para si mesmo. Isso é bem diferente do que andar de ré, coisa que também acontece comigo, de vez em quando. Por falar nisso, quero registrar a boa atuação de um motorista que vi, hoje,  manobrando, de ré, a sua carreta. A cena aconteceu quando eu já estava "meio morto" depois de subir uma verdadeira montanha e chegar às imediações da Rodoviária. De longe, vi quando um motorista manobrava sua carreta de ré. Aquele “bichão” tinha umas quatrocentas rodas! Ao ver a atuação de Tiago, depois soube que era ele, fiquei ressentido de inveja. Poderia gastar uma vida toda e jamais conseguiria tal façanha, pensei. Tiago é casado com Maria, uma velha amiga, que, assim como eu, jamais conseguiria fazer o que fazia o marido. O homem é fera! Em dois tempos dominou o bicho e enfiou-o, na garagem para manutenção.

Antes do episódio da carreta, quando subia pela “Rua da Árvore,” nome popular da Rua Altino Corrêa Viana, deparei-me, com alguns cachorros agitados. Eles adoram assustar os caminhantes latindo, sem avisar, do outro lado do portão. Nessa rua, existe um cachorrão que anda sempre morto de preguiça. O seu vizinho, um trenzinho de nada, faz um verdadeiro escândalo! O grandão só late de vergonha, pois a essas alturas da vida já aprendeu a não perder tempo com um atleta do meu quilate.  

A Rua da Árvore é cheia de trepadeiras, espirradeiras e outras “eiras” cujos nomes me escapam. As espirradeiras variam de cores. São brancas, rosas e vermelhas. Não sei por que tem esse nome. Eu que sou alérgico até ao meu nome, nunca espirrei ao passar por elas. Nessa rua também me chama a atenção as grandes mangueiras ao lado da Oficina do Welington. A Rua da árvore tem vocação para pomar...

O ponto mais bonito de minha caminhada é quando deixo a Rua da Árvore e tomo a Alameda das Carnaúbas em direção à rodoviária. Nessa esquina a beleza do por do sol é indescritível! Seu último raio luminoso vai se apagando, aos poucos diante de mim. Nesse ponto não tem como deixar de rezar! Há uma escandalosa beleza no sol agonizante atrás da serra!

A Alameda das Carnaúbas é uma rua em forma de tobogã. No inicio de sua subida existe uns arbustos de “Dama da Noite” capaz de perfumar toda a vizinhança! Mais adiante, na próxima esquina, um abacateiro carregado de frutas compete com um pé de amoras para abrigar os passarinhos ao cair da noite.   Essa alameda só não foi chamada de “Rua da Árvore” para não roubar o brilho da outra rua já batizada pelo povo com esse nome.

No meu retorno para casa faço questão de passar pela “Vila Nossa Senhora Auxiliadora”, uma parte do Bairro, marcada por ruazinhas estreitas e gente humilde nas calçadas. Essa vila é tão especial que merece um texto só pra ela. E viva a vida!

Fotos: Arquivo pessoal. Imagens de algumas ruas mencionadas no texto.