A beleza que a gente não vê
Conta uma lenda que, certa vez, havia um cachorro que, volta e meia, assustava as pessoas na estrada. O bicho parecia não ter dono. As histó...
Conta uma lenda que, certa vez, havia um cachorro que, volta e meia, assustava as pessoas na estrada. O bicho parecia não ter dono. As histórias envolvendo o animal cresceram na aldeia, pois quem conta um conto, aumenta um ponto. Alguns alegavam terem sido atacados por ele durante a noite; outros diziam que ele havia comido um frango; outros afirmavam que ele estaria zangado... Assim, cada um tinha um caso para contar envolvendo aquele cachorro e, dessa maneira, ele se tornou um verdadeiro personagem para alimentar as fantasias da aldeia. Não faltou quem o jurasse de morte. Mas, apesar disso ele viveu muito tempo por ali. Um dia, o bicho apareceu morto na beira da estrada e logo o povo se juntou em torno daquele corpo sem vida. Cada um destacava um aspecto terrível daquele cachorro. Uns diziam que ele parecia ter fogo nos olhos, outros falavam de suas unhas compridas, do pescoço fino, etc. Finalmente, uma velhinha chegou ao local do suposto crime e após olhar bem para o cachorro apenas comentou: Que pena. Ele tinha uns dentes tão lindos! Ela foi a única a ver beleza no corpo, sem vida, daquele animal.
Em nosso tempo faltam muitas velhinhas como essa da história. Ainda que a beleza seja evidente, muitos não conseguem percebê-la. No livro, “O Pequeno Príncipe,” há uma afirmação segundo a qual, o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração... Mas, se não conseguimos ter olhos nem para o nosso entorno, como podemos enxergar a beleza interior das pessoas? Para ilustrar o que estou lhe dizendo vou partilhar com você uma história real:
Certa vez, fui procurado por um jovem que sofria muito por causa de seus problemas. Não conseguia relacionar bem com as pessoas e não parava em nenhum emprego. Era meio bruto e nem conseguia arranjar namorada. Depois de ouvi-lo, com paciência, disse-lhe, que conhecia uma pessoa muito meiga, trabalhadora e querida por todos. Essa senhora, com certeza, poderia ajudá-lo muito, caso ele quisesse ouvi-la. Depois de minhas orientações ele quis muito saber quem seria a tal senhora pois, com certeza, iria procurá-la para aprender com ela muitas coisas da vida. Foi então, que eu lhe disse que a "tal senhora" era sua mãe. Por sorte a mãe dele era uma antiga conhecida minha e tudo o que lhe falei sobre ela era verdadeiro. Ao ouvir que a mulher-exemplo era sua própria mãe ele se desmanchou em lágrimas, pois ele mesmo não percebia o valor que possuía dentro de casa!
Para continuar nossa conversa, sem fugir ao tema principal, quero dividir com você outras experiências que vivencio. Costumo fazer caminhadas pela cidade como forma de me exercitar. Às vezes, levo meu terço, outras vezes sigo ouvindo minhas rádios preferidas. Também costumo desligar o rádio para ouvir os diversos sons que chegam aos meus ouvidos. E assim, vou caminhando, vendo e ouvindo tudo o que se descortina em minha frente. O cotidiano é o meu lugar de revelação e em cada florzinha, posso ver o universo inteiro!
Dizia Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, que Deus é traiçoeiro. Supondo que Deus seja a beleza, então ela também é traiçoeira, pois quando menos se espera a gente se surpreende com ela. Eu não preciso viajar para Foz do Iguaçu para contemplar a beleza nas cataratas do rio, se ela está em cada curva do meu caminho. Suponho que em Foz do Iguaçu ela seja escandalosa e, não percebê-la, seria impossível. Mas, percebê-la, nas pequenas coisas que nos cercam, exige um pouco mais de sensibilidade. Penso que, por diversas razões, estamos perdendo essa sensibilidade.
Quando saio para caminhar costumo fugir dos lugares manjados por onde todo mundo caminha. Percorro ruas afastadas, trilhas e estradas de terra. Nessas caminhadas, vejo muitas coisas bonitas e, às vezes, fotografo-as, para dividir com os amigos. Outro dia, fiz algumas fotos e enviei-as, para algumas pessoas perguntando-lhes, se conheciam aqueles lugares. Uma dessas pessoas chegou a comentar comigo: Nossa quanta beleza nessa paisagem! Onde fica mesmo esse lugar? Para surpresa dele, o lugar ficava bem próximo à sua casa...Não julgo esses amigos, pois eu também sou assim. Nossa correria do dia a dia, rouba de nós a calma, para apreciar as belezas que nos rodeiam. Às vezes, não percebemos direito nem as pessoas com as quais convivemos. Então seria querer demais que a gente tivesse olhos para o nosso entorno. Mas, não deixa de ser uma pena, pois a vida é tão curta! A gente corre o risco de morrer sem saber que viveu... Pense nisso!
Fotos: Arquivo pessoal.
Primeira foto: Ribeirão Paciência - entre o Bairro Dom Bosco e São Luis.
Segunda foto: Por do sol na Serra das Antenas em Pará de Minas.
Me faz tão bem ouvir suas historias
ResponderExcluirAmo suas historinhas
ResponderExcluirEspetacular!!!
ResponderExcluirLinda história!
ResponderExcluirLindas fotos!
ResponderExcluirAmo escutar história de pessoas simples é idosas, como tem histórias para contar. E quanto a ver lugares que quase ninguém dar a mínima atenção, já me surpreendi com muitos deles. Amei esse lugar que o senhor fotografou coisa divina 😍
ResponderExcluirQuanta sabedoria,Padre. Eu também gosto muito de apreciar pequenas coisas da natureza é Deus perto da gente.
ResponderExcluirMuito bom. A natureza é realmente um encanto.
ResponderExcluirEu também caminho pela estrada,meia hora,três vezes por semana.Vejo lindos crepúsculos!Tiro fotos também,e coloco no meu status... E certa vez avistei um lindíssimo coração azul,bem a minha direita!��Me emocionei bastante...seria Jesus me dizendo "Eu te Amo!Bordei no jogo da minha toalha,Jesus me Ama!E hoje tenho no meu Celular, a foto do Coração de Jesus!!! Maria Adelia
ResponderExcluirComo é rico o ser que sabe contemplar o belo no simples. Eu vejo Deus assim também. Porque pra mim cada beleza inédita que vejo nas cenas mais simples, é como Deus falando comigo. Felizes de nós que conseguimos ver e contemplar essas belezas pelo caminho.
ResponderExcluirUm jovem foi a um sábio em um castelo a procura de sabedoria, o sábio lhe deu uma colher com uma gota de óleo e pediu pra andar pelo castelo sem perder a gota de óleo. Feito isso o jovem devolveu a colher com a gota de óleo. O sábio perguntou o que viu no castelo, ele disse nada. O sábio indagou, como não viu as obras de artes, os vitrais , os candelabro de cristais, as escultura? Ele triste respondeu, estava preocupado com a gota de óleo.pense nisso.
ResponderExcluir..."A gente corre o risco de morrer sem saber que viveu."..
ResponderExcluirUma coisa que eu busco aprimorar em mim, desde sempre, é buscar a beleza das pequenas e cotidianas coisas. Isso faz um bem danado!
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