Objeto de estimação

  Quem diria que ele já foi objeto de desejo e de ostentação para quase todos os ricaços do mundo? Pasmem! Já foi usado até pelas divindades...

 


Quem diria que ele já foi objeto de desejo e de ostentação para quase todos os ricaços do mundo? Pasmem! Já foi usado até pelas divindades antigas e ainda hoje, costuma ser usado para cobrir o Santíssimo Sacramento em algumas procissões. Há registros de sua existência em quase todo o planeta. Para o Brasil é mais provável que tenha vindo da Índia, juntamente, com a família real. Foi objeto de desejo e chegou a ser registrado nos antigos inventários como bem de família. De que você acha que estou falando? – Do guarda-Sol! - Guarda-Sol ou guarda chuva? Bom, ultimamente, seria mais apropriado chamá-lo de guarda-sol mesmo, pois não tem servido muito para guardar ninguém das chuvas. Guarda-sol ou sombrinha? Falando assim corremos o risco de ofender esse objeto que já ostentou nomes pomposos pelo mundo. Senão vejamos: - Umbella ou umbraculum para os romanos; skiádeion, para os gregos; paráguas, para os espanhóis; regenschirm, para os alemães; parapluie, para os franceses ou “asa de morcego” para o populorum... Quanto à sombrinha, ela não passa de uma versão feminina do tal Objeto. No carnaval nordestino, fortemente marcado pelo frevo, ele às vezes, aparece disfarçado de ela. Mas, no carnaval essas coisas costumam acontecer mesmo. Teve até o caso daquele português... Iche... É melhor não falar!

Já que estamos numa cultura de ostentação que tal você fazer uma foto com o seu  guarda-chuva de estimação para postar no “face”?  - Mas, ainda estamos em abril! O que importa isso? Quando se trata de pura ostentação quem irá se preocupar com proximidade de chuvas?  Eu, particularmente conheci uma senhora, vale dizer que sou das antigas, que ia às rezas do mês de maio, ostentando uma sombrinha com as cores do arco-iris. As rezas, no caso, aconteciam durante as noites. Quanto às cores do arco-iris, elas não possuíam os mesmos significados de hoje... Aquela senhora, de vestido longo e sombrinha multicor corria sério risco de ser convocada para boneca no frevo de Olinda... Mas, deixa isso pra lá e voltemos ao guarda-sol.

Costumo dar muita carona por onde passo. Depois de certo tempo, encontro perdidos no banco de trás do veículo, diversos skiádeion, parapluie, ou chame como quiser o bom e velho guarda-chuva. Ô trem bão pra ser esquecido, concorda? Outro dia, meu colega de trabalho, cujo nome omito para não dar problemas, apareceu-me na firma, com um desses, tamanho família. Fingi não prestar muita atenção, mas era, simplesmente, impossível não notar. Aquilo era uma barraca e não um “paragua”. Esse deve ser chamado mesmo de “umbraculum”, pensei. Com um bicho feio desse à tiracolo é melhor ostentar um nome assim. Mas, pensando bem, acho que meu amigo tinha razão em comprar aquele trambolho. Vai que ele encontrasse alguma cobra na estrada. Seria o porrete ideal para dar com ele na cabeça da peçonhenta. Além do mais, era bem mais difícil esquecer aquela geringonça do que uma coisica de nada que se leva dentro da bolsa.

Outro dia fui surpreendido em plena capital mineira com uma dessas chuvas “molha bobo” mas, acabei sendo salvo ou quase isso,  por um guarda-sol. Prefiro não chamar de guarda- chuva aquela raridade chinesa, que encontrei nas mãos de um vendedor ambulante. Por ser importado tive que desembolsar uma verdadeira “bufunfa” para não molhar a chapinha recente nos cabelos. De posse do objeto mais desejado do mundo rumei em direção à rodoviária onde acabei chegando ensopado de qualquer jeito. O “regenschirm” acabou virando-se pelo avesso com a força do vento como se estivesse sob um dilúvio. Que Dom João VI me perdoe, mas naquele dia cheguei a amaldiçoar a família real por ter trazido ao Brasil um objeto tão controverso, sobretudo, quando virado do avesso!

Imagem de Rudy and Peter Skitterians por Pixabay 

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  1. Padre, o Sr nós remete ao passado com seus pensamentos e escritas. Falar de uma coisa hoje banal, pois todos tem seu carro. Era um item tão importante que mantinha a profissão de conserto de sobrinhas e guarda chuvas. Trocar o pano, arrumar barbatanas, o cabo tava soltando.com a invasão chinesa , os imprestáveis objetos tão ruim que é descartável. Bom texto padre. Obg por fazer essa volta ao tempo.

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  2. Esquecer guarda-chuvas é uma sina, não é mesmo? Parece que eles escolhem onde querem ficar, ou têm um prazer descontrolado em brincar de esconde-esconde eterno.

    ***PS.: Não molhar a chapinha é PRIMORDIAL!

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  3. Padre sua humanidade te torna especial. De uma maneira simples nos faz viajar pelo tempo e lembrar de coisas extraordinárias. Tenho meu guarda-sol ou guarda-chuva grandão para caber a família toda.

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  4. ..."Já que estamos numa cultura de ostentação que tal você fazer uma foto com o seu guarda-chuva de estimação para postar no “face”? "..

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  5. .."acho que meu amigo tinha razão em comprar aquele trambolho.".. Também acho!

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  6. Adorei a crônica e mais ainda o "não molhar a chapinha"! Hehehe

    Realmente, as sombrinhas têm vida própria! Quando mais precisamos, elas desaparecem... E fazem uma falta danada! Rsrs

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  7. Kkk..salvou a chapinha hem padre? Só o senhor! Eu tenho umas tantas, cada uma de uma cor, compradas, esquecidas, ganhadas..mas todas de estimação!

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  8. Para mim a função dessa geringonça é apenas para proteção de ida e nunca de volta, onde vou deixo perdido esse trambolho, e se a chuva passar ele fica ali mesmo onde encostei.
    Na verdade nem deveria ser chamado de guarda chuva, pois, do joelho para baixo já era, molhou tudo.
    Melhor encarar a chuva sem ele é dar aquela desculpa "eu gosto me molhar na chuva"

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  9. Como é bom ler os textos do senhor Padre Geraldo Gabriel... simples e gostoso pra entender... mt obg por compartilhar com nos

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  10. Tenho vários, todos importados. Tive um muito bom, Nacional, ganhei de aniversário. Mas o perdi no primeiro temporal. Por isso, só uso os vindos de longe...

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  11. Como é bom ler os texto do senhor padre Geraldo Gabriel adoro

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  12. Padre,kkkkk de tanto molhar com as falsas sombrinhas, e com o vento, elas viravam uma bacia, eu apelei.... comprei umas daquelas ( baita mesmo) , pois o anjo que anda ( cacau) comigo não suporta cair uma gota de chuva nele.Entao comprei uma gigante.... e aí? Aí que a chuva sumiu... kkkk

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  13. Kkkkk... Tem muita gente, que ao ler esse texto, maravilhoso por sinal, não vai perder a oportunidade de fazer algumas poses e postar nas redes sociais. Kkk

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  14. Como Amo Minha "Sombrinha"Azul de bolinhas brancas ..Me Protege da chuva...Mas quando o Sol esta muito quente Ela faz uma ..,"Sombrinha"👏

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  15. Não tenho coragem de compartilhar a foto do.meu guarda chuva...
    Fica no porta malas do carro e só lembro dele qdo chove...kkk
    Velho, faltando barbatanas e com hastes empenadas...😂
    Geraldo Faria: Grande abraço e uma semana abençoada

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  16. Deus boas.risadas kkkk
    Exatamente o que acontece

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  17. Parabéns, adorei sua crônica.Ė rica em conhecimento, escrita de uma forma lúdica. Me lembrei de quantas vezes esqueci por aí kkkk

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  18. Um dia participei de um evento, e em dado momento pediram objetos que mulheres carregam nas bolsas. Só eu levava uma "sombrinha". Desde que tive o José Vitor ela me acompanha. Afinal, hora me guarda da chuva e outrora me guarda do sol. Detalhe, que mesmo sendo dobrável, ela é grande e do tipo "cheguei".

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  19. Padre Gabriel o senhor com seus comentários e tb com suas crônicas etc. nós faz vivenciar todos os dias passados das vidas 🥰obrigada

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  20. ..."De posse do objeto mais desejado do mundo rumei em direção à rodoviária onde acabei chegando ensopado de qualquer jeito"..
    Muito engraçado!

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  21. Em Pará de Minas algumas pessoas se mantinham com o ofício de consertar guardas -chuva e sombrinhas. No começo da loja " Eletrofaria " , sô Zé Mendes exercia tal arte.

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