Paulo Apóstolo: uma “gralha” falante diante da autossuficiência vaidosa de Atenas (At 17, 22-34)
Apanhar, ser humilhado em público ou mesmo ser preso não constituía grande novidade na vida do Apóstolo Paulo. Depois do encontro transfor...
Apanhar, ser humilhado em público ou mesmo ser preso não
constituía grande novidade na vida do Apóstolo Paulo. Depois do encontro
transformador com Cristo na estrada de Damasco, ao que parece, nada mais o assustava
e, volta e meia, tinha que fugir de um determinado lugar em consequência de sua
pregação. A mensagem cristã, quando levada a sério, até hoje, costuma causar
impactos e estranheza para aqueles que vivem segundo a lógica do mundo. É
verdade que, atualmente, muitos que se dizem cristãos vivem um cristianismo
morno e desacompanhado de uma ética cristã. Esse cristianismo “colado à cuspe”
não se escandaliza com as injustiças e violências de nosso tempo. Somos “o país
mais católico do mundo” mas fazemos coisas que até Deus duvida... Talvez, a
grande tarefa dos missionários de hoje seja evangelizar os próprios cristãos.
No tempo de São Paulo, o Cristianismo era uma novidade absoluta. Hoje quase a
metade do mundo se diz cristã. Mas, concebem a religião como um “bem de
consumo” ou um produto que se compra no supermercado conforme a conveniência.
Penso, que, se Paulo ainda estivesse entre nós sua mensagem talvez não fosse
aceita.
Após a fuga noturna de Tessalônica Paulo foi para Bereia, de
onde também teve que fugir por causa de perseguições dos judeus. Saindo de
Bereia ele viajou pelo mar sem os seus companheiros (Silas, Lucas e Timóteo)
até Atenas a Capital da Grécia. Em Atenas, inicialmente, pregou na sinagoga mas,
logo em seguida, procurou pregar em locais públicos onde costumava juntar gente
de todos os lados. Atenas era uma espécie de Cidade Universitária e nem poderia
ser diferente tendo em vista que foi berço de grandes filósofos. A religiosidade
ateniense era muito grande, prova disso, era a presença de milhares estátuas de
divindades mitológicas que “enfeitavam” a cidade. Mesmo conhecendo bem a
cultura grega, Paulo deve ter estranhado tamanho paganismo!
Em Atenas havia um lugar chamado “Aerópago” que era uma
espécie de praça pública onde os problemas da cidade eram discutidos. Ali
também se discutiam as novas ideias e filosofias. Num ambiente onde se
cultuavam tantos deuses um a mais ou a menos não faria tanta diferença! Ainda
assim, o atenienses se prontificaram em ouvir a pregação daquele novo
missionário. Talvez ele tivesse alguma “moda nova” para ensinar...
Na pregação aos atenienses Paulo só não gastou o latim, porque
ali se falava grego. Mas, ele caprichou! Citou antigos poetas e sábios da
Grécia com intuito de “pegar na veia” deles mesmo. Como Paulo era um grande
orador sua pregação, inicialmente, deve ter agradado. Até mesmo o anúncio de
Jesus foi acolhido, pois eles já estavam familiarizados com uma “chuva” de
deuses. Mas, quando Paulo falou da ressurreição de Cristo a coisa azedou.
Alguns riram dele e outros disseram para ele voltar em outra ocasião. Atenas
era “metida” demais para aceitar um humanamente fracassado como Jesus! Alguns
chamaram Paulo de charlatão e outros de “espermalogo”(catador de sementes, ou
gralha...). Diante da vaidade arrogante dessa plateia Paulo levou um tombo
ainda maior do que aquele que ele havia levado na estrada de Damasco. Ele que
queria converter os intelectuais à fé cristã conseguiu a adesão de uns poucos “gatos
pingados” entre eles Dionísio, um membro do aerópago, Damaris (mas, não aquela
que viu Jesus na goiabeira...) e mais alguns...
Penso que em Atenas Paulo passou por uma segunda conversão,
pois na próxima cidade onde ele esteve (Corinto) mudou bastante o foco da
pregação e não se preocupou mais com a conversão de uma elite. Em Corinto,
conforme ele mesmo disse, chegou para pregar Cristo; Cristo crucificado:
Irmãos, quando fui até
vós anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri à ostentação da palavra ou à
sabedoria da pregação. Com efeito, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a
não ser Jesus Cristo, e este crucificado! (1ªCor 2,1).
Às vezes, a gente aprende mais com as provações do que com os
aplausos. Com São Paulo não foi diferente. Aliás ele não recebeu aplauso
nenhum, mas também não os buscou. Somente falou bonito em Atenas numa tentativa
de encantar uma plateia para o Evangelho. Mas, não deu certo. Talvez por isso
mesmo em Corinto ele irá procurar as pessoas mais simples: trabalhadores dos portos,
escravos e gente do povo... É muito difícil falar de Deus para quem pensa ter o
rei na barriga. Que isso sirva de lição a todos nós!
Foto do Partenon, em Atenas: Imagem de michelmondadori por Pixabay
Vídeo abaixo: Show de Yanni na Acrópole em Atenas , na Grécia:
Até hoje temos uma elite que não se converte. 😞
ResponderExcluir...."Penso que em Atenas Paulo passou por uma segunda conversão, pois na próxima cidade onde ele esteve (Corinto) mudou bastante o foco da pregação e não se preocupou mais com a conversão de uma "..
ResponderExcluirSomos “o país mais católico do mundo” mas fazemos coisas que até Deus duvida... Talvez, a grande tarefa dos missionários de hoje seja evangelizar os próprios cristãos. E a história se repete mesmo depois de quase dois mil anos. A vida de São Paulo me faz refletir tantas coisas: conversão, missão, amor a Jesus e aos irmãos... Como estamos longe de aprender com São Paulo,uma das colunas da Igreja. Bela reflexão Padre Gabriel.
ResponderExcluirSe as pessoas buscassem ler mais sobre a fé que dizem professar, seríamos sim um país cristão, mas é tão triste ver como as pessoas realmente buscam a religião por conveniência.
ResponderExcluir.." É muito difícil falar de Deus para quem pensa ter o rei na barriga."..
ResponderExcluirIsso é verdade viu!
Amém
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirMagnifico
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