Adão, onde você está?

 

Aquele pai sempre sonhou em oferecer o melhor para seu filho e, por isso, cuidou bem de sua educação além de prepará-lo para se tornar um grande profissional. O tempo passou e a fase de criança ficou para trás. Agora já se podia ver um bigode acanhado no rosto do rapaz. Transferiu-se de escola e passou a estudar longe de casa. Mas, apesar de todo o esforço do pai, o jovem às vezes, cometia certos erros. Um deles aconteceu após ter atingido a maioridade e conseguido habilitação para dirigir. Seu pai, com muita dificuldade, havia lhe comprado um carro. Assim, pensava facilitar sua viagem para a escola e o trabalho. Mas, o que o pai não esperava aconteceu: Totalmente embriagado o filho acabou atropelando uma família na estrada que dava acesso à cidade. O resultado foi trágico! Duas pessoas daquela família morreram no acidente. Diante disso, o pai não teve outra saída a não ser tomar o carro de volta e ver o filho a arcar com as consequências. Ainda assim, o pai não o abandonou e rezava sempre por ele na esperança que criasse juízo...

A história acima, bem que poderia ser usada para explicar algumas passagens  bíblicas como a passagem que narra o pecado original (Gn 3,9-15). Assim como o pai de nossa história, Deus preparou tudo para que o homem pudesse viver em estado de graça e comunhão com Ele. Depois de criar tudo e ver que era bom, criou também o homem à sua imagem e semelhança. Colocou-o  num verdadeiro paraíso com árvores e frutos e frutos apetitosos.

Javé fez brotar do solo todas as espécies de árvores agradáveis de ver e boas para comer, e no centro do jardim a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal...

Seria muito perverso que o homem só pudesse comer os frutos de uma das árvores. Mas, o que aconteceu foi o contrário disso. Deus lhe disse que ele poderia comer os frutos de todas as árvores exceto de uma delas: Da árvore do bem e do mal. O homem era livre  para viver dentro de sua condição de ser humano. O pleno conhecimento do bem e do mal estava fora de sua condição, afinal, era um simples mortal e essa era uma prerrogativa divina. Mas, o gosto pelo fruto proibido também parece fazer parte da condição humana e não faltam situações que nos despertam para isso. No caso, a situação foi despertada pela serpente, pois apesar de inclinado ao mal o homem é bom por ter sido criado por Deus. E foi assim que, enganado pela serpente, acabou provando o fruto proibido. Só então, pode perceber que estava nu, ou seja, que havia sido enganado.

Depois dessa queda, o homem teve vergonha de Deus e se escondeu dele quando ouviu sua voz à sua procura. A voz amorosa de Deus então, se fez ouvir: Adão, onde você está? O que veio a seguir foi um festival de desculpas e justificativas por parte do homem querendo transferir a culpa pelo erro que cometeu. Foi culpa da mulher... foi culpa da serpente... Ainda hoje somos muito bons nesse quesito de tirar o corpo fora: Foi culpa da pandemia... foi culpa do desemprego...

Apesar desse pecado de nossos primeiros pais Deus não os abandonou à própria sorte: Fez túnicas de peles para o homem e sua mulher, e os vestiu... (Gn 3, 21). A expulsão do paraíso foi seguida de uma ameaça à serpente e, consequentemente, uma promessa:

Por causa do que fez, você será o mais amaldiçoado de todos os animais domésticos e de todas as feras do campo. Terá de se arrastar sobre o ventre e de comer pó, todos os dias da vida. Porei inimizade entre você e a mulher, entre seus descendentes e os descendentes dela. Eles procurarão esmagar lhe a cabeça e você tentará morrer-lhes os calcanhares... (Gn 3, 14).

Essa promessa divina se cumpriu no tempo certo quando Deus nos enviou o seu filho. Jesus derrotou o diabo, a antiga serpente, quando não usou as suas mesmas armas. Ele a derrotou por amor doando sua vida suspenso numa cruz. Assim, por meio de uma mulher, o pecado entrou no mundo e, por meio de outra mulher, ele foi derrotado.  Maria, a mãe de Jesus, como nova Eva, venceu a serpente por sua extrema obediência. Aquele que venceu na árvore do paraíso foi vencido na árvore da cruz.

Deus nos criou livres e por nada desse mundo viola nossa liberdade. Somos livres até para negá-lo. Mas, na maioria das vezes, o negamos não por maldade e sim por fraqueza. Mas, ainda que tenhamos cometidos muitos erros Ele está sempre disposto a nos perdoar como Pai amoroso que é. O pecado original deixou-nos as suas marcas. Mas, a graça de Deus nos purifica. A grande lição que podemos tirar de tudo isso é que Deus não nos criou para a perdição e sim para a salvação. Somos pobres, pecadores e ainda hoje damos ouvidos às milhares de serpentes que nos desviam dos caminhos de Deus. Mas, Ele está sempre disposto a perdoar-nos, e recuperar em nós, a imagem dele mesmo presente em cada um de seus filhos.

Imagem de janeb13 por Pixabay