Assunção de Nossa Senhora ao céu

 

Vou me valer de uma das músicas de Pe. Zezinho para falar sobre o tema de hoje:

Eu era pequeno, nem me lembro / Só lembro que à noite, ao pé da cama / Juntava as mãozinhas e rezava apressado / Mas rezava como alguém que ama.

Nas ave Marias que eu rezava / Eu sempre engolia umas palavras / E muito cansado acabava dormindo / Mas dormia como quem amava...

A letra dessa música me faz lembrar de minha infância quando, sonolento e cansado, via minha mãe rezando diante do oratório de Nossa Senhora Aparecida. Eu nunca conseguia chegar ao final do rosário que meus pais recitavam com devoção, à luz das lamparinas. Uma das últimas coisas que meu pai esqueceu, ao ser vitimado pelo Alzheimer, foi a reza do terço.

Algumas imagens que me marcaram, profundamente, foram essas: Minha mãe rezando o terço diante do oratório e meu pai tentando se lembrar-se, da Ave Maria, com os últimos fiapos de memória que lhe restavam. Foi assim que nasceu minha vocação sacerdotal e meu desejo de ser padre.

Hoje usarei uma dessas imagens para falar sobre a Mãe de Jesus. De forma imprecisa costumamos dizer que vamos rezar à Nossa Senhora. O mais certo seria rezar a Deus, pois é a Ele que dirigimos sempre as nossas orações. Mas, então, qual seria o papel de Maria nesse caso? Seria semelhante ao papel de minha mãe tentando me ajudar nas orações. Assim, como qualquer boa mãe, Maria nos ajuda a rezar, intercede por nós junto ao Pai, conforme dizemos: Rogai por nós, que recorremos a vós; e ainda, rogai por nós agora e na hora de nossa morte...Estando na terra Maria nos trouxe o salvador, estando no céu nos leva a ele. Por isso, como filhos, sonolentos, rezamos com Maria e por Maria. Ela é a mãe que não nos deixa cochilar na hora das preces.

Na Festa da Assunção nos lembramos que, após a sua vida mortal Maria foi elevada ao céu pelo seu divino filho onde foi coroada pelos anjos. Isso é uma verdade de fé, pois aquela que não conheceu o pecado também não poderia conhecer a corrupção. Assim, como a arca da aliança, no Antigo Testamento não poderia ser consumida pela terra, com maior razão, aquela que carregou no próprio ventre, o salvador da humanidade, também não passaria por isso. Pela encarnação, Maria trouxe Jesus à terra; pela assunção Jesus elevou Maria ao céu.  

O livro do Apocalipse usa a imagem de uma mulher grávida em luta contra um dragão para falar da igreja nascente e suas dificuldades. Tal imagem também poderia ser aplicada à Mãe de Jesus. Por meio dela, o salvador recriou a humanidade. Depois que “o Verbo se fez carne”, o mundo nunca mais foi o mesmo! As doze estrelas representam a igreja formada, inicialmente, pelos doze apóstolos. Assim, como Maria, que nos trouxe o salvador, a Igreja quer fazer Jesus nascer, continuamente, no mundo que é sua terra de missão. Os dragões que ameaçaram a mulher continuam existindo, pois os caminhos da evangelização sempre encontram resistências. Mas, apesar delas, sabemos que Deus é maior e que as “portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Maria elevada ao céu é uma porção da humanidade que viveu em plena sintonia com a vontade de Deus e foi glorificada. Ela não foi uma espécie de “super-herói” mas, uma simples mulher, que colocou a vontade de Deus antes da sua. Agindo assim, mostrou-nos, que o caminho da santidade não é coisa de super-heróis. Eu e você podemos ser mais santos! Maria foi, plenamente, santa e, por isso, a invocamos como “santíssima” pois, o pecado não encontrou habitação em seu coração. Não conhecendo o pecado também não conheceu a morte sendo que a mesma é fruto do pecado (Rm 6, 23). Sua assunção é uma espécie de ressurreição privilegiada, reservada à sua condição de imaculada. Sem pecado, foi elevada ao céu, aquela que soube viver o céu na terra! Por isso, ao final de sua vida terrena, simplesmente, “adormeceu” em Cristo. Quem vive plenamente o amor já morreu para muitas coisas e mora no céu de forma antecipada, pois o amor é o outro nome de Deus. Maria sempre esteve cheia de Deus e vazia de si mesma. Soube reconhecer que o Altíssimo age a partir dos pequenos e pobres. 

Peçamos à Maria que nos ensine a rezar. Somos pequenos e falhamos até quando estamos com boas intenções. Às vezes, andamos muito cheios de nós mesmos... ou cheios de ventos! Que a vontade de Deus seja feita em nossas vidas assim como foi na vida dela, e que o Senhor faça, também em nós, as suas maravilhas!

Imagem de Dimitris Vetsikas por Pixabay