Flagrante do momento

  Era um final de dia e o sol, desmaiado, parecia envergonhado procurando se esconder atrás da Serra das Antenas. Eu caminhava pra lá e pra ...

 


Era um final de dia e o sol, desmaiado, parecia envergonhado procurando se esconder atrás da Serra das Antenas. Eu caminhava pra lá e pra cá, tentando me concentrar em algo que pudesse tirar proveito enquanto exercitava alguns de meus músculos. Na verdade, queria rezar, mas não recitando uma oração decorada. Procurava um pensamento, uma inspiração ou algo  que pudesse me alinhar a Deus no final do dia. Vendo o sol que, a cada minuto, brilhava menos, numa agonia de morte, lembrei-me de algo dito por São Francisco de Sales.  Dizia mais ou menos assim: A pessoa para se bronzear e deixar a pele bonita deve ficar exposta aos raios do sol. Deus é luz. Para “bronzear a alma” é preciso expor-se, por inteiro, diante dessa luz divina.  Era, precisamente, essa a minha busca e, naquele momento, podia contar com as duas coisas ao mesmo tempo. De tanto olhar o pôr do sol via a hora em que me tropeçava na estrada. Mas, olhando, fixamente, para Deus algo me dizia que eu  jamais iria tropeçar ou me afundar. Quem primeiro passou por essa experiência foi o Apóstolo Pedro. Naquele dia, em que ele viu Jesus caminhando sobre as águas, tentou fazer o mesmo. Enquanto permanecia com os olhos fixos em Jesus conseguia mudar os passos. Mas, assim que desviou o seu olhar de Cristo começou a se afundar. Aliás, o seu processo de crescimento na fé foi lento e demorado.

Um filósofo chegou a dizer que a ave de minerva (coruja) só levanta vôo ao  entardecer. A coruja, na filosofia, representa a sabedoria. Então, no dizer poético do filósofo, a gente só adquire sabedoria na velhice ou maturidade. Tomara que isso seja verdade, pois, de tanto ver algumas pessoas maduras com falta de juízo às vezes, penso que o autor da frase se equivocou. Seja como for, naquele momento, sabedoria, era o que eu mais buscava. Tentando mergulhar em mim mesmo e concentrando no meu caminhar,  sentia que o pôr do sol me transmitia uma mensagem. Elaborar a ideia não era fácil mas, o sol me dizia que, nessa vida tudo passa com a duração de um dia. Por mais solar que tenha sido uma vida ela também se esvai e se escorre por entre os dedos. “O homem dura como a erva, floresce como a flor do campo: Roça-lhe um vento e já não existe, seu lugar não volta a vê-la” (Sl 103, 15).

Um tronco agonizante margeando a estrada, já meio escurecida, lembrou-me a “Mãe da Lua”, um pássaro que se esconde de dia para manifestar-se à noite, protegido pelas trevas. Com seu canto de mau agouro ele desperta nossa condição de finitude. Quem tem esse tipo de experiência sabe do que estou falando. O canto fúnebre da Mãe da Lua provoca arrepios nos caminhantes noturnos. Mas, aquele momento não era de assombração, pelo contrário, era de luz. Desejei parar o instante. Mas, vi que isso só seria possível numa fotografia. E foi o que fiz (foto em destaque) Agora, só me resta olhar a foto e ruminar ideias, antes que também elas, caiam no esquecimento. Na vida tudo passa e só Deus é eterno! Para gozar a eternidade junto dEle, temos que enfrentar o entardecer da existência e se perder na terra feito grão de trigo. Que Deus nos ajude e nos dê a sabedoria necessária para essa grande travessia!

Foto: Arquivo Pessoal

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