Invejo as andorinhas

 

Não sei como elas entram mas, o certo é que estão sempre lá. Nunca vi pássaros mais religiosos que as andorinhas!  Elas adoram permanecer nas igrejas. Voam pra lá e pra cá e, como se cumprissem um ritual de devoção, estão sempre a cantar no interior de nossos templos. Não temem a presença dos fiéis talvez, porque sejam, ainda mais fiéis do eles, na frequência aos lugares santos. Praticamente, vivem nas igrejas e, para desespero das zeladoras, não arredam o pé, nem para usar os banheiros, fazendo as necessidades ali mesmo, sobre os bancos. Parecem tão felizes em suas revoadas que me lembram o dito de São Paulo sobre nossa relação com Deus: Nele vivemos nos movemos e existimos (At 17, 28)...

Outros dias, enquanto eu rezava uma andorinha ficou todo o tempo pousada no braço direito da imagem do Crucificado.  Permaneceu tão absorta ao lado de Jesus que parecia ouvir-lhe as batidas do coração.  Tive inveja daquela andorinha que trocou seu espaço de, infinito azul, só para permanecer ao lado do coração de Jesus.

Certa vez, ao abrir a igreja, antes mesmo do sol nascer, deparei-me com duas andorinhas pousadas sobre os lírios no bastão da imagem de São José. Parecia mãe e filha num encontro familiar. No braço esquerdo do santo o Menino Jesus observava os pequenos pássaros e parecia conversar com eles. E porque haveríamos de duvidar disso? Santo Antônio não conversava com os peixes? São Francisco de Assis, chegou a dialogar com um lobo para apaziguá-lo! O que vale para os santos não vale para nós que, ainda somos capengas, em matéria de santidade...

Tenho inveja das andorinhas!  Diferentes de nós, elas não se cansam de frequentar a casa de Deus. Às vezes, nós nos cansamos, facilmente, de tudo até mesmo das pessoas que amamos! Pousadas no bastão de São José, naquele dia, elas  me fizeram lembrar de Santa Terezinha que desejava ser apenas um brinquedo, sem valor, para o Menino Jesus. Nada mais desejava a não ser uma simples bolinha de papel que o menino pudesse amassar e jogar fora, caso se enjoasse de brincar com ela. Mais do que uma bolinha de papel, sem vida, naquele dia, vi dois olhinhos piscando, bem pertinhos do Divino Infante, ainda nos braços do “pai adotivo”. Aquele quadro era perfeito!  São José, homem de trabalho duro não havia perdido a ternura e mostrava delicadeza segurando a criança com um dos braços e, um ramo de lírios brancos, na outra mão.

A natureza parece saber, melhor do que nós, entoar louvores ao criador. Em um de seus escritos São João Maria Vianney dizia mais ou menos assim: Passarinhos, meus irmãos, com seus cantos e piados, ainda que não saibam, estão a louvar o Criador! Se cada passarinho anônimo sabe cantar louvores a Deus muito melhor o sabem as andorinhas que louvam ao Pai em sua própria casa! Há de chegar um dia em que seremos todos andorinhas pois iremos habitar, para sempre, com Deus em sua eterna morada.

Foto: https://pixabay.com/pt/photos/arquitetura-religi%c3%a3o-c%c3%a9u-viagens-3272255/