Humildade pelo Avesso

 

Quando me propus a escreve sobre humildade não quis defini-la e muito menos tratar o tema com algum rigor ci­­entífico.  Confesso, que ando incomodado com o que vou chamar de “humildade pelo avesso”. Mas, o que vem a ser isso? É uma espécie de truque que usamos em nossos relacionamentos. Humilde pelo avesso é aquele que some no dia do próprio aniversário só para ser procurado pelos outros; é quem escolhe o último lugar apenas para ser reconduzido ao primeiro à vista de todos; é quem vende a imagem de um simples “caipira” e acaba levando a melhor no final. Tudo isso me parece ser o avesso da humildade. Vou dar mais um exemplo: Humilde pelo avesso é aquele cozinheiro que faz uma comida perfeita mas, diz que errou a mão no tempero só para ouvir o outro dizer: Se ele errou a mão aqui, imagine quando acertar!

Assumir os dons e talentos não é falta de humildade até porque nada fizemos para tê-los. Foram dados por Deus e, sendo assim, não justificaria nenhuma vaidade por parte de quem os recebeu. Porque um cantor teria vaidade da bela voz se nada fez para tê-la? Talvez, o máximo que podemos fazer é aprimorar o talento recebido. Mas, nem haveria razões para nos envaidecer por causa disso.

A humildade combina com a verdade. Mas, qual seria a grande verdade sobre nós mesmos? Somos carentes e mortais! Isso ninguém pode negar. Nascemos com a boca aberta necessitada do leite materno e novas fomes adquirimos ao longo da vida. Fome de comida, de amor, de reconhecimento, de prazer... Veja, então, o que somos! Uma perfeita carência ambulante! Ter vaidade de quê? Hoje, estamos aqui e amanhã ninguém se lembrará de mim ou de você. O vaidoso se parece a um balão. Você já viu um balão murcho? Ele só é bonito quando está cheio. Mas, o seu enchimento não passa de vento. Basta um toque de alfinete e o balão se transforma em muxiba. O nosso caso é bem parecido! Facilmente, retornamos ao pó da terra e, ainda que a pessoa hoje seja famosa, amanhã ninguém dela há de se lembrar...

Quase sempre distorcemos a imagem que temos de nós mesmos. Às vezes, nos percebemos com lentes de aumento ou de redução. Temos manias de grandeza ou complexo de inferioridade. Mas, como ajustar o foco no lugar correto? Isso é resultado de um longo processo de maturidade. O que vale para um adolescente não vale para o adulto, embora, atualmente, temos muitos “adultecentes” com síndrome de Peter Pan, o menino que não cresceu. Percebo que o homem sofre mais com essa doença. Muitos adotam costumes pueris depois dos quarenta. Sei de um, que resolveu pintar o cabelo de azul e fazer tatuagens. O resultado? Foi abandonado pela esposa! E o pior é que “as minas” também sumiram. Hoje ele mora só e ouve Raul Seixas a maior parte do tempo.

Dizem que os cinquenta anos é a fase do lobo na vida do homem. Eu já passei dessa fase e, se o lobo passou, eu não vi. Sou meio cru em matéria de bichos. Não sei se, usar brinquinhos, fazer rabo de cavalo, usar calça apertada ou andar de motocicleta faz parte dessa fase. No meu caso, não teria como prender os cabelos pois, me caíram, antes mesmo, dos cinquenta. Além do mais, já desaprendi de andar de moto e nunca usei brincos ou tatuagens. Não tenho nada contra quem faz isso, afinal, Deus nos criou com liberdade . Já li em algum lugar que a fase do lobo é desdobramento da “fase do boi”. Confesso que não entendi nada. O que o pobre boi tem a ver com as crises do universo masculino? Alguém mais entendido que eu nesses assuntos poderia me explicar? Quando disse que não entendo é porque não entendo mesmo. Não se trata de humildade pelo avesso pois, algumas matérias, somente quem vive a experiência conjugal, pode explicar com razão e categoria. Você me faria um grande favor se me explicasse essa questão.

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