O que podemos fazer?

 O Evangelho mostra-nos que, após a pregação de João Batista, sobre a vindo do messias, muitos segmentos sociais recorriam a ele perguntando-lhe: - O que podemos fazer? Essa pergunta partiu dos soldados e cobradores de impostos.  As multidões também perguntaram-lhe: O que devemos fazer? (Lc 3, 10-18)

A pregação de João foi impactante na vida daquele povo. Ele foi o anunciador de um novo tempo, uma realidade, absolutamente, nova num mundo marcado por antigas dificuldades. Para cada segmento social João deu uma sugestão ética. Ética está ligada ao agir das pessoas. Aos soldados ele disse: Não sejam violentos, aos cobradores de impostos, afirmou: Não sejam agiotas! Para as multidões João sugeriu a partilha: Quem tiver duas túnicas, dê uma, a quem não tem.

O primeiro ponto que quero destacar dessa pregação de João Batista é seu aspecto universal. A nova realidade messiânica atingiria a todos, até mesmo, aos odiados cobradores de impostos! O anúncio de João estava carregado de alegria pois ele vislumbrava uma nova sociedade, quase um céu na terra! Os soldados deveriam continuar trabalhando mas, sem fazer uso excessivo da força; os cobradores de impostos também mas, sem extrapolarem o limite permitido. Esse novo tempo teria como marca a partilha e a fraternidade. Sonho impossível, alguém poderia dizer. Mas, ainda bem que temos pessoas que sonham com o “impossível”! E valeria a pena viver uma vida inteira sem sonhar?

A Bíblia revela-nos, que muitos de seus personagens foram grandes sonhadores. Talvez, o primeiro deles, seja o próprio Deus que ao criar o homem o colocou num jardim entre flores e borboletas... Outros sonhadores surgiram depois: Noé, que sobreviveu ao dilúvio, graças a um sonho, visto por todos, como maluquice; Moisés que sonhou a vida toda que poderia viver com seu povo numa terra onde corresse leite e mel; Salomão que construiu uma grande casa, para que Deus pudesse habitar, dignamente, no meio do seu povo...  O Novo Testamento, também, foi marcado pela presença de sonhadores, entre eles, João Batista.  Assim como tantos outros, ele também foi questionado e ridicularizado. Mas, não ligou para isso. Afinal, quem deveria reconhecer o valor de seus sonhos já o fizera: “Não existe profeta maior do que João Batista”! Sabe quem disse isso? - O próprio Cristo!  Então, lhe pergunto: Precisava de mais algum cartão de visitas?

O que me encanta na pregação de João é sua simplicidade e praticidade. Ele não criou fórmulas mágicas e secretas. Não exigiu que seus ouvintes fossem morar com ele no deserto, alimentando-se, de mel e gafanhotos. Sugeriu coisas possíveis: Dar ao outro que necessita, o que nos sobra e nem faz falta.  A exigência de dar uma túnica é para quem tem duas! Aos soldados pede tempero no uso da força e aos cobradores de impostos que não sejam agiotas. Isso me leva a pensar que a construção de um mundo novo não é coisa para heróis mas, para pessoas comuns. Não é uma utopia além do horizonte de nossas possibilidades.

A pregação de João é bastante adequada, ainda hoje pois, vivemos numa sociedade de excessos. Alguns tem de sobra, enquanto outros, nada tem. A mensagem de João nos estimula a aplainar esses montes e preencher esses vales de desigualdades sociais. Sonhar com um mundo melhor, no entanto, não basta. É preciso esforçar-se nesse sentido. Deus acredita em nós, caso contrário, não teria assumido a nossa humanidade. Então, é preciso que acreditemos na humanidade também. Deus sonhou com um mundo melhor para todos e isso é uma possibilidade. Alguém já disse: Sonho que se sonha só, é um sonho que se sonha só, mas sonho que se chama junto é realidade...

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