Compaixão cristã: Troca de lugar com o outro!
O Evangelho nos diz que, após curar um leproso, Jesus não podia mais entrar, publicamente, em uma cidade. Por isso, conservava-se fora, no...
O Evangelho nos diz que, após curar um leproso, Jesus não
podia mais entrar, publicamente, em uma cidade. Por isso, conservava-se fora, nos
lugares desertos e, de toda parte, as pessoas o procuravam (Mc 1,40-45). Sobre
essa “troca de lugar com o leproso” é que gostaria de falar, nesse comentário de
hoje.
Já sabemos que nos tempos bíblicos o leproso sofria duas
vezes: Por ser leproso e por ser considerado impuro. Sofria, portanto, com a
doença e com a marginalização social. Ninguém podia aproximar-se dele e muito
menos tocá-lo. Mas, foi exatamente isso, que Jesus fez quando um leproso
ajoelhou-se, diante dele suplicando-lhe, por compaixão. Compaixão é a especialidade
do nosso Deus e, por isso, Ele troca de lugar com o sofredor. O leproso foi
curado e podia, a partir de então, frequentar a cidade sem dar satisfação às
autoridades. Mas, Jesus passou a ser excluído sem poder circular, livremente, entre as pessoas.
De posse dessa informação poderíamos questionar: - Mas,
alguém seria capaz de gestos tão grandiosos? A resposta é sim! Muitos santos já
fizeram isso. Para ilustrar vou citar quatro: São Paulino de Nola, São Vicente
de Paulo, São Maximiliano Kolbe e São Damião de Molokai.
São Paulino de Nola (355 em Bordeaux - França) era de família rica. Vendeu tudo o que tinha
para ajudar os mais pobres. Quando já não tinha mais o que vender foi procurado
por uma viúva, cujo filho havia sido capturado por povos bárbaros. Sem ter como
ajudar, financeiramente, aquela mãe ele vendeu a si mesmo como escravo para
pagar o resgate do jovem. Com o passar do tempo descobriram que aquele escravo
que trabalhava como jardineiro, era um bispo católico. Ao saber disso, acabou
sendo libertado e libertou consigo todos os seus diocesanos escravizados.
O segundo exemplo que vou citar é São Vicente de Paulo
(França – 1581). De acordo com “Pierre Collet”,
um de seus mais rigorosos biógrafos, esse fato se deu no ano de 1622:
“O Padre Vicente, muito
antes de fundar a sua congregação, fez um ato de caridade semelhante ao de São
Paulino de Nola, que se vendeu para livrar do cativeiro o filho de uma viúva
pobre. Tendo um dia, encontrado um forçado preso aos bancos de uma galera
(navio de guerra) o qual tinha sido obrigado a abandonar mulher e filhos em
extrema pobreza, tocou-se de tanta compaixão pelo estado do infeliz, que
resolveu empregar todos os meios possíveis para consolá-lo e aliviá-lo; e, não
encontrando nenhum, por um movimento extraordinário de caridade, pôs-se no
lugar do pobre homem, para lhe dar meio, saindo do cativeiro, de acudir sua família
desolada. Conseguiu, pois, que aceitasse
a troca aquele de quem dependia a licença, e tendo aceito voluntariamente o
cativeiro, foi preso à corrente do pobre homem, que pusera em liberdade. Ao
cabo de algum tempo, conhecida a virtude
singular do caridoso libertador, ele foi solto”(1).
O nosso terceiro exemplo vem de São Maximiliano Kolbe (Polônia
em 1894). Estando preso num campo de trabalhos forçados em Auschwitz em 14 de
agosto de 1941, ofereceu-se, para morrer em lugar de um pai de família.
“Após a deportação, ele
foi despojado de seu hábito franciscano e destinado ao trabalho mais
humilhante, como o transporte dos cadáveres para o crematório. Ele recebeu o
número de série 16670. Após a fuga de um prisioneiro, dez prisioneiros são
enviados para o chamado bunker da fome no Bloco 13 e são condenados a morrer de
fome. Padre Kolbe ofereceu sua vida em troca de um pai de família, Franciszek
Gajowniczek, que muitos anos depois recordou aquele momento dramático com estas
palavras: "Kolbe saiu da fila, arriscando ser morto naquele momento, para
pedir ao Lagerfhurer para me substituir. Era inconcebível que a proposta fosse
aceita, de fato muito mais provável que o padre fosse adicionado aos dez
selecionados para morrer juntos de fome e de sede. Mas não! Contra o
regulamento, Kolbe salvou a minha vida”(2)
O quarto exemplo de compaixão que vou citar vem de São Damião
de Molokai, chamado apóstolo dos leprosos (03 de janeiro de 1840 - Bélgica).
São Damião deixou a Bélgica, sua terra natal, para dedicar-se aos leprosos numa
ilha (Molokai) do Havai, transformada numa colônia de leprosos. Ao final da
vida ele também contraiu a doença e acabou morrendo igual aos demais leprosos
do local.
“Na localidade da ilha,
chamada Kalaupapa, havia 600 leprosos. Com sua presença, a vida daquela
colônia, que se encontrava em situação de precariedade pela falta de recursos e
de organização, começou a melhorar com a implantação de trabalhos agrícolas e
um sistema escolar mais adequado. Padre Damião construiu também uma igreja e
estabeleceu uma paróquia. Este trabalho tornou-se conhecido e teve apoio até de
entidades internacionais. Infelizmente, o missionário contraiu a lepra. Mesmo
assim continuou suas atividades, até falecer aos 15 de abril de 1889. Havia
completado 49 anos de vida. No meio de sua heroica dedicação àquele povo,
costumava repetir: “Nenhum sacrifício é grande demais, se feito por amor a
Jesus Cristo”. Foi beatificado pelo Papa São João Paulo II e canonizado em 2009
por Bento XVI” (3)
Como se pode ver, a partir desses exemplos citados, muitos
santos fizeram o mesmo que Jesus, ou seja, trocaram de lugar com o outro, por
pura compaixão. Alguns perderam a própria vida, nessa troca. Eles foram e ainda
são, para nós, grandes exemplos de amor cristão. Talvez, a gente nunca chegue a
esse patamar de santidade. Mas, ainda assim, devemos olhar para esse horizonte
com o firme desejo de caminhar em sua direção. O resto pode muito bem ser obra
da graça de Deus!
1-
CASTRO, Jerônimo Pedreia (Padre). São
Vicente de Paulo – e a magnificência de suas obras. Vozes, Petrópolis RJ, 1957.
Pp78.
2- https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-08/sao-maximiliano-kolbe-ave-maria-sintese-de-sua-vida.html -
3- https://www.miliciadaimaculada.org.br/espiritualidade/santos/martirio-de-sao-damiao-molokai -
Foto em destaque: https://ocatequista.com.br/ - Consulta em13/01/22
Acredito que eu como mãe chegaria a este ponto por um dos meusfilhos, com certeza q sim, mas sou bastante solidária e me compadeço ao sofrimento do outro.Não é humano aquele que vê o sofrimento e fica alheio.
ResponderExcluirBelos exemplos de vida.
ResponderExcluirAssumir os riscos de se fazer próximo do que sofre não é tarefa fácil. Reserva-se apenas a quem tem coragem de comparecer-se verdadeiramente...
ResponderExcluirTrocar de lugar com uma pessoa desconhecida para salvar a vida dele ?
ResponderExcluirSERÁ QUE EU TERIA ESSA CORAGEM ,ESSE AMOR ?
Muito bonito as atitudes desses 4.Falando hj padre,no tempo em que estamos e por essas doenças que estão surgindo,tá se tornando cada vez difícil as pessoas ter compaixão e se colocar no lugar do outro.Vejo tanto discasos com os mais pobres humildes.Procuro sempre ajudar sempre que posso.Porque vejo Jesus no rosto de cada um que está sofrendo.
ResponderExcluirDependendo das circunstâncias talvez, pois não sei o dia do amanhã, que DEUS nos ajude nesse momento 😇😇😇
ResponderExcluirMilton. Me coloquei no lugar de uns irmãos num hospital do câncer. E, já faz muitos anos que estou ajudando no que está ao meu alcance!
ResponderExcluirUma reflexão muito linda,o senhor está de parabéns pelo seu trabalho sucesso.
ResponderExcluirSou ouvinte de carteirinha,há muito tempo.abraco
Não! Consigo compreender o sofrimento do outro, e tentar ameniza-lo de alguma maneira...mas doar a vida? Só se for pelos filhos...
ResponderExcluir..."De posse dessa informação poderíamos questionar: - Mas, alguém seria capaz de gestos tão grandiosos? A resposta é sim! Muitos santos já fizeram isso. .."
ResponderExcluirBom dia, infelizmente ainda nos tempos de hoje há muito sofrimento, acho que a fome é o pior deles, a gente tenta ajudar de alguma maneira,é muito triste saber que podemos fazer tão pouco.
ResponderExcluirNós somos chamados para sermos santo, e a santidade está exatamente, em sermos capazes de se colocar no lugar do outro. Eu sempre me pergunto: será que sou capaz de fazer tamanho ato? Ótima reflexão.
ResponderExcluirEXCELENTE REFLEXÃO. COMO ESTAMOS PRECISANDO APRENDER A TER CORAGEM E COMPAIXÃO PARA TROCAR DE LUGAR COM O OUTRO. INFELIZMENTE MUITAS DAS VEZES HOJE A INDIFERENÇA FALA MAIS ALTO.
ResponderExcluirPois é. Muito inquietante reflexão. Confesso que preciso melhorar muito neste propósito! Que Deus nos abençoe 🙏🙏🙏🙏🙏
ResponderExcluirBoa noite,trocar de lugar com o outro não é tarefa fácil é preciso estar cheio do espírito santo para tomar uma decisão dessas, que Deus nos dê esta graça para fazermos uma experiência tal qual estes santos, obrigado padre pela reflexão.
ResponderExcluir