Equilíbrio

 

Quem já não viu algumas fotos retratando diversas pedras sobrepostas umas às outras em perfeito equilíbrio? Ao vê-las, a gente tem a sensação que bastaria um pequeno vento para derrubar tudo. A busca de equilíbrio, talvez, seja a maior necessidade de nosso tempo. Alguns vivem como quem conduz um caminhão pelas estradas, com a carga torta. Nossas balanças nem sempre estão equilibradas e, às vezes, pesam mais para um lado do que para o outro; e o lado que pesa mais, talvez, não seja o melhor. Precisamos lembrar o dito popular: Nem tanto à praia, nem tanto ao mar..

Um dos santos que mais admiro, Francisco de Sales, no capítulo 23, do seu livro “Filotéia” nos ensina algo bastante apropriado a respeito da necessidade de se buscar o equilíbrio em nossas vidas. Ele nos fala da necessidade de purificar nossas almas das coisas inúteis e perigosas. No seu texto, afirma que as coisas do mundo (bailes, festas, jogos, - hoje poderia ser internet, celulares...) nem sempre, são pecaminosas, mas, quando nos prendemos demais a tudo isso, corremos um sério risco de pecar contra o equilíbrio.

“Os veados quando engordam muito, retiram se para suas moitas, porque sentem que sua gordura lhes faria perder a agilidade, que é sua defesa, quando são perseguidos pelos caçadores; desse modo o homem, sobrecarregando o seu coração com afetos inúteis, supérfluos e perigosos, perde as boas disposições, necessárias para correr com ardor e facilidade pelas veredas da devoção.”

Ainda sobre esse tema ele nos diz algo, mais ou menos, assim: Todo mundo compreende quando uma criança corre atrás das borboletas, mas, seria bem estranho que um adulto perdesse tempo com isso. Pensando no assunto me pus a imaginar nas inúmeras coisas supérfluas que roubam o nosso tempo, entre elas o celular. O celular, talvez, seja a borboleta que atrai crianças e adultos que passam grande parte do tempo diante dele. O mesmo pode ocorrer com os amantes dos jogos, dos bares ou Netflix... O uso de tudo isso, não chega a ser pecado, mas, seria bem melhor dividir nosso tempo com coisas mais úteis para nossas vidas. Alguns, dos que afirmam não terem tempo para rezar, gastam horas e horas navegando, à deriva, na Internet... Outros, dedicam grande parte do tempo nos cuidados com o corpo: academia, alimentação, cirurgias... Isso também não chega a ser pecado. Mas, não seria melhor dedicar uma parte do tempo a cuidar da vida espiritual? Nem tanto ao mar, nem tanto à praia! São Paulo nos diz: Eu tudo posso, mas nem tudo me convém (1Cor 6,12).

Nosso mundo anda cheio de borboletas com cores e estilos variados. Cada uma rouba mais que a outra, a nossa atenção. Nunca tivemos tantas facilidades para obtermos informações úteis e inúteis. Mas, às vezes, precisamos de um filtro para separar o que presta do que não preta. Num tempo de pós verdade, precisamos de filtros especiais, pois a mentira nos chega com cara de verdade e vice versa.

Acho que nenhum bom motorista gostaria de conduzir uma carreta com a carga em desalinho. Pois bem: Faça de conta que sua vida seja a tal carreta e que você mesmo seja o condutor. Será que não está na hora de fazer uma parada para ajeitar a carga? Pense nisso!

Foto destaque: https://pixabay.com/pt/photos/medita%c3%a7%c3%a3o-saldo-quieto-cair-%c3%a1rvore-264508/