Invasão de perfume

O que não faltavam era ameaças. Elas vinham de todos os lados, tanto das autoridades quanto do povo. Pressentia-se um mau agouro no ar. Jesus sabia que seu tempo estava contado. Por isso, resolveu dar uma passadinha em Betânia e fazer uma visita aos amigos. Precisava de um pouco de oxigênio já que o ar estava simplesmente irrespirável…

Os amigos de Cristo, Marta, Maria e Lázaro, também pagavam certo preço por causa dessa amizade. O Evangelho de São João (12, 1-11) não esconde que os judeus decidiram matar também Lázaro, aquele que Jesus havia ressuscitado. Por causa dele muita gente recorria a Jesus. Sua vida tornara-se testemunha de um grande milagre. Nesse ambiente de morte, Jesus recorre aos amigos para um jantar de despedida. Eis que no meio do jantar Maria não se conteve. Apanhou um frasco de meio litro de perfume, “nardo puro”, e quebrou-o aos pés de Jesus. Carinhosamente ungia-lhe os pés e enxugava-os com os cabelos, numa grande demonstração de amizade e apreço. A fragrância se espalhou pela casa e arredores. Espantou-se assim o odor da morte. Maria, provavelmente, sabia que aquele seria um jantar de despedida. Amiga de verdade, certamente, percebera que Jesus reivindicava, em sua casa, um pouco de Paz. Por isso, ofereceu-lhe o que ele mais queria. Entre amigos Jesus ganhou novo ânimo e espantou para longe o clima de morte. Maria, naquele momento, ofereceu a Jesus o melhor de si. Afinal, Jesus devolvera a vida ao seu irmão e tudo o que ela fizesse por ele ainda seria  pouco!

Atualizando a mensagem fico pensando: – Quero ser amigo de Cristo. Mas, será que tenho coragem de quebrar um vidro de perfume aos seus pés? Será que não acho mal empregado tanto gasto? Esse foi exatamente o pensamento de Judas. Pensou que aquilo era um exagero. Afinal, gastava-se o salário anual de um trabalhador para comprar o perfume! Como acolho meus amigos? Quando sou procurado por um amigo, pode ser que esteja faltando-lhe um pouco de paz e ar respirável. Será que não azedo ainda mais o ambiente? Maria, com seu gesto, mudou o clima e trouxe alegria para o ambiente. Tenho coragem de quebrar um pouco de perfume para suavizar o sofrimento de alguém? Ás vezes perco a única oportunidade de acolher o próprio Cristo quando coloco minhas preocupações em primeiro lugar. “Pobres sempre os tereis, a mim, nem sempre tereis”, disse Jesus quando Judas reclamou da atitude de Maria. Será que, de fato, Judas estava preocupado com os pobres, ou usava os mesmos, apenas como pretexto para esconder sua avareza?

Todo cristão, batizado e crismado é chamado a perfumar o mundo. O óleo da Crisma é perfumado, exatamente para nos lembrar esse compromisso: espalhar pelo mundo o suave odor de Cristo.  Nosso mundo anda muito poluído e precisa ser perfumado. O cristão verdadeiro sabe perfumar até mesmo aquilo que lhe causa dor e sofrimento. Faz lembrar o provérbio: “Sê como sândalo, que perfuma o machado que o fere”. Sândalo é uma árvore perfumada que ao ser cortada transfere seu perfume ao machado. Com Jesus foi assim. A primeira pessoa a se beneficiar da salvação foi o soldado que abriu-lhe o peito com a lança. Sua conclusão mostra isso: “De fato, esse homem era filho de Deus!” Ele foi perfumado com o sangue de Cristo que fez jorrar sobre si. Cristo é o verdadeiro perfume. Maria sabia disso. Então não se incomodou em gastar tudo aquilo que possuía de melhor com Jesus. Será que temos a mesma disposição para com Deus?

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