Apeles e Campaspe
O exemplo que citarei é de São Francisco de Sales e foi usado por ele no prefácio do livro “Filotéia” para falar da devoção a Cristo. Após...
O exemplo que citarei é de São Francisco de Sales e foi usado
por ele no prefácio do livro “Filotéia” para falar da devoção a Cristo. Após
transcrevê-lo, na integra, gostaria de explorar mais a imagem citada:
Diz-se que os pintores
se apegam não só aos quadros que pintam, mas também, às coisas que querem
desenhar. Mandou Alexandre ao insuperável Apeles que lhe pintasse a formosa
Campaspe, sua amada. Apeles, tendo que fixar, demoradamente, Campaspe para ir
copiando suas feições na tela, acabou gravando-a também no coração.
Apaixonou-se tanto por ela que Alexandre bondosamente lha deu em casamento, privando-se
por amor dele, da mulher que mais amou na terra.
Sobre os dois personagens citados no exemplo podemos obter
mais informações no Dicionário Clássico Geográfico Histórico Mitológico (1),
conforme abaixo:
Campaspe: Concubina de Alexandre o Grande. Foi a mulher mais
bela da Ásia. Alexandre solicitou a Apeles, um pintor famoso, que a retratasse
por meio de sua pintura. Apele, no entanto, de tanto mirar a beleza da mulher
acabou se apaixonando, perdidamente, por ela. Ao saber disso, Alexandre a cedeu
como presente.
Apeles: Sobre tal personagem o dicionário traz 25 anotações: Trata-se
de um famoso pintor grego do mundo antigo. Ao que parece, tornou-se um artista
oficial contratado por Alexandre o Grande, para retratá-lo. No templo de Diana,
em Éfeso, ele pintou o retrato de Alexandre com um raio na mão, à semelhança de
Zeus. Além disso, pintou diversas cenas da mitologia grega, entre elas,
Afrodite saindo do mar. Suas obras influenciaram os artistas do Renascimento
Italiano. Sua pintura “Calúnia” teria influenciado Boticelli a produzir uma
pintura com o mesmo título que se encontra hoje em Florença.
O exemplo citado por São Francisco de Sales fala sobre o
poder do olhar. De tanto mirar a modelo, o pintor apaixonou-se por ela. Algo
parecido podemos encontrar no livro dos Cânticos. Assim o amante se dirige à
amada: Com um só dos teus olhares roubaste
meu coração... (Ct 4,9). Oxalá esse olhar contemplativo, possa nos tornar cada
vez mais próximos de Cristo! Uma coisa
me parece certa: Quando duas pessoas convivem de forma intensa um passa a
conhecer o outro só pelo olhar.
A gente fala não somente com a boca, mas, também com o olhar.
Quem não entende um olhar de mãe? Então, é possível comunicar-se com Deus
também através do olhar. É quase impossível olhar para Jesus na cruz e
permanecer indiferente. Bastaria essa imagem para mexer com os sentimentos da
gente. Mas, podemos contemplar Deus de variadas formas. Ele se nos revela nas
belezas da criação, na palavra sagrada, na Eucaristia e também nos irmãos,
sobretudo, naqueles mais sofredores. Assim como o pintor famoso apaixonou-se
pela modelo nós também podemos nos apaixonar por Deus vendo tudo o que ele criou
e colocou a nosso dispor.
Às vezes, durante os momentos de oração, nos faltam palavras
para conversar com Deus. Ainda assim, podemos olhar para Ele com olhar de
filho. Como bom pai Ele irá nos entender e, se for de sua vontade, nos atenderá
também nas nossas necessidades. O olhar de Deus sobre nós é de ternura assim
como o é o olhar da mãe sobre o filho. Deus nos ama e quer o nosso bem pois,
nenhuma mãe ou pai, irá querer o que é mau para o filho. Portanto, fica a dica:
Se lhe faltam palavras nos momentos de oração, não desvie o olhar de Deus.
Apenas o olhe com amor. Nessa troca de olhares a comunicação também acontece.
Foto destaque: https://pixabay.com/pt/illustrations/p%c3%b4r-do-sol-mulher-silhueta-1815991/