Deus nos atrai com a suavidade de seus perfumes
A frase que intitula esse texto é tirada do Livro dos Cânticos(1,3) e citada por São Francisco de Sales para falar da maneira encontrada p...

A frase que intitula esse texto é tirada do Livro dos Cânticos(1,3)
e citada por São Francisco de Sales para falar da maneira encontrada por Deus,
para tocar em nossos corações, sem violentar o nosso livre-arbítrio. É certo
que Deus nos criou com livre- arbítrio e, por causa disso, podemos até negar a
sua amizade. É bom lembrar-se que o diabo já foi anjo. Um anjo criado com
livre-arbítrio, do qual fez uso, para virar as costas ao criador. Por isso, tornou-se
um anjo decaído. Também os homens podem rejeitar a amizade de Deus. Sem nossa
colaboração Deus não poderá salvar-nos, visto que, nos criou dotados de
liberdade. Como bom pai que é, certamente, fica triste com essa rebeldia de
nossa parte e, por isso, envia-nos atrativos diversos para que, sem violentar a
nossa liberdade, nos inspirem para buscar um caminho de conversão. São os “perfumes
de Deus”. Deus sabe que ninguém se converte amarrado ou algemado. Por isso, age
com a suavidade dos perfumes para que sejamos inspirados à de conversão.
“A graça é tão
graciosa, e empolga tão graciosamente os nossos corações para os atrair, que
não prejudica coisa alguma na liberdade da nossa vontade; toca poderosamente,
mas, no entanto, tão delicadamente, as molas do nosso espírito, que o nosso
livre-arbítrio não sofre com isso nenhuma pressão. A graça tem forças, não para
forçar, mas para aliciar o coração: Tem uma santa violência, não para
violentar, mas para tornar amorosa a nossas liberdade. Age fortemente, mas tão
suavemente, que a nossa vontade fica esmagada sob uma ação tão poderosa;
preme-nos mas não oprime a nossa franqueza. De tal sorte eu, em meio as suas
forças, podemos consentir ou resistir aos seus movimentos, conforme nos
apraz(*).
São Francisco de Sales ilustra essa ideia com o exemplo das
aves apodes (andorinhas do mar). Elas tem os pés pequenos pois, foram mais adaptadas
para o ar e as águas do que para a terra. Quando uma cai por terra não consegue
se levantar, facilmente, e só o faz com a ajuda do vento. Assim, somos nós que,
ao cairmos pelos pecados, precisamos desse vento de Deus, desse auxílio que nos
vem do alto, para voar de novo às alturas. Mas, de nada adiantaria esse auxílio
divino, se a gente não estendesse as asas. A inspiração divina carece de nossa
colaboração. Caso contrário, nem Deus poderá ajudar-nos. Essa inspiração divina
não força o nosso agir. É apenas um toque suave de Deus em nossas almas para
que acordemos para o amor junto dele. Quando colaboramos com esse vento que vem
do céu e lhe abrimos nossas asas e ele nos empurra para o alto ignorando nossas
fraquezas.
O tempo todo, parece que, Deus nos cerca e nos oferece o seu
amor. Ele não marca dia nem hora para inspirar-nos. Com a samaritana teve um
encontro no meio dia; com Zaqueu numa hora bem inconveniente estando ele
dependurado numa árvore; com Paulo o encontro foi tão arrebatador que o levou à
uma cegueira provisória. E com você? Deus já marcou algum encontro com você?
Lembre-se, que Ele costuma tocar o nosso coração com suavidade sem violentar
nosso livre arbítrio. Ainda assim, não desiste, facilmente, de nós, pois um bom
pai não desiste do filho, apesar de suas rebeldias. Diante da menor abertura, de
nossa parte, ele entra em nossas vidas. Lembra-se do episódio dos discípulos e
Emaús? Eles iam conversando pela estrada e nem perceberam que aquele “forasteiro”
que passou a caminhar com eles já fosse o próprio Jesus. Jesus, muitas vezes,
nos chega disfarçado de forasteiro, de jardineiro, como aconteceu com Madalena,
ou mesmo de cozinheiro. Não foi ele quem preparou o café da manhã para os
discípulos, com pão e peixe assado? Deus costuma tocar-nos de formas
surpreendentes. Bastou o canto de um galo para que São Pedro fosse tocado pela
inspiração divina e chorasse amargamente os seus pecados!
“Que felicidade Teótimo
quando a ação de Deus pode contar com o nosso consentimento. Assim, vai
animando nossos fracos movimentos com a força do seu, e vivificando a nossa
fraca cooperação pelo poder de sua operação, ajudar-nos-á, conduzir-nos-á e
acompanhar-nos-á de amor em amor, até o ato da santíssima fé , requerido para a
nossa conversão. Que consolação considerar esse sagrado método com que o
Espírito Santo derrama os primeiros raios e sentimentos de sua luz e calor
dentro de nossos corações” (**).
Peçamos a Deus que jamais desista de nós, pois, sem Ele nada
somos e nada podemos. Que Ele nos envie sempre os seus perfumes e que sejamos
sensíveis a esses odores divinos. Amém.
*Tratado do Amor de Deus. Livro II, Cap XII.
** ____ Livro II, Cap. XIII.
E todos que tiveram um encontro com Jesus tiveram suas vidas transformadas. Que lindo saber disso. Daí fico pensando: se ainda não mudamos os nossos" defeitos", é porque ainda não tivemos " aquele" encontro com Ele. "Peçamos a Deus que jamais desista de nós, pois, sem Ele nada somos e nada podemos. Que Ele nos envie sempre os seus perfumes e que sejamos sensíveis a esses odores divinos. "
ResponderExcluirDeus seja louvado!
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