Minha avó era muito católica...
Volta e meia acontece de me encontrar alguém que, aos descobrir-me padre, pergunta para confirmar: - O senhor é padre? – Minha avó era mui...
Volta e meia acontece de me encontrar alguém que, aos
descobrir-me padre, pergunta para confirmar: - O senhor é padre? – Minha avó
era muito católica... Foi isso que me fez refletir escrever esse texto.
A avó, nesse caso, se parece a uma dessas estrelas, cuja luz
já se apagou, há milhões de anos e, ainda, vemos o seu brilho. Diante desse
tipo de afirmação tenho vontade de questionar: - E você, como vive sua fé? Não
basta se apoiar no brilho da avó que já morreu há mais de trinta anos... Aquela
pessoa, certamente, é mais uma, que tinha tudo para ser fervorosa mas, acabou
colocando a fé numa moldura, assim como se põe uma antiga foto da família. Deve ser mais uma, cuja fé não passa de um
fóssil, uma espécie de esqueleto de dinossauro sem vida que, não respira mais e,
apenas, exala poeira e mofo, penso comigo. Alguns católicos são assim, quando afirmam:
Bom era antigamente quando a missa era em latim e o padre ficava de costas para
o povo!
Boa parte de nós alimenta um eterno romantismo, quando
idealizamos o passado ou aquilo que está distante. É como se hoje, nada
prestasse e tudo fosse perfeito antigamente. São Francisco de Sales(*) nos diz
que o perfumista, mesmo após deixar de manipular as essências continua
perfumado por certo tempo. Mas, esse perfume se não for renovado tende a
desaparecer por completo. A religião da
avó foi um restinho de perfume que sobrou na alma do neto. Com o tempo o
perfume evaporou e sobrou apenas o vidrinho que ele guarda de lembrança. Na
verdade, ele não tem mais religião, só guarda um esqueleto da mesma, como peça
de museu, coisa com a qual não tem mais compromisso, a não ser tirar a poeira,
de vez em quando. Por isso, costuma aparecer nas igrejas nas ocasiões especiais
não ultrapassando duas vezes por ano!
Muitos deixaram a fé morrer em seus corações. A fé é como uma
plantinha que deve ser adubada, podada e irrigada. Quando não se faz isso ela
vai morrendo, aos poucos. Por isso não basta nascer numa família católica ou
exaltar a qualidade de fé dos avós. Cada um deve zelar por aquilo que recebeu.
Caso contrário, a fé vai se definhando, aos poucos, até desparecer
completamente. Fazer uma caridade de vez em quando ou executar ações
humanitárias não é sinal de fé, apesar de ser gestos nobres. Muita gente faz
isso por tradição. Alguns podem até fazer isso para disfarçar suas maldades.
Judas, depois que traiu Jesus voltou a beijá-lo. Esse tipo de beijo tem sabor
amargo pois esconde um manancial de falsidade.
A diferença da fé é quando fazemos isso em nome de Deus.
Fazemos ao irmão necessitado como se fizéssemos ao próprio Cristo. Não fazemos
para angariar a simpatia, aplausos ou mesmo o voto dos eleitores. O que mais
importa, nesse caso, é agradar a Deus. E Ele não exige de nós gestos heroicos.
Sabe reconhecer até um copo d’água, quando dado com amor.
A fé, no entanto, é um raro perfume que carregamos em vasos
de barro. Cuidemos, portanto, para que esse vaso não se quebre e venha a derramar
o precioso líquido. Agradeça a Deus pela
fé de sua avó, se esse for o seu caso. Mas, não basta apostar na fé da avó. Ela
já fez a sua parte e, seguramente, está com Deus. Cada um deve responder por si
mesmo diante do tribunal divino. Pense nisso!
*Tratado do Amor de Deus. Livro IV, Cap X.
Imagem de Christo Anestev por Pixabay
Que belíssima crônica padre Gabriel! Me emocionei pois a minha neta Ana Amélia antes de dormir escuta o avô Mateus contar uma historinha depois de rezarem juntos. Já o neto João Pedro reza antes de dormir o Pai Nosso, o creio e uma Ave Maria . Deus seja louvado!
ResponderExcluirMinha fé morreu durante um bom tempo de minha vida, mas hoje ela é forte!
ResponderExcluirA fé que tenho em Deus é tão grande e bela que tudo que faço vejo ele na frente abrindo meus caminhos. É muito belo sentir a presença de Deus.
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