O administrador demitido

  O Evangelho de São Lucas (Lc 16,1-13) nos fala de um administrador que foi demitido de suas funções por “improbidade administrativa”. Essa...

 


O Evangelho de São Lucas (Lc 16,1-13) nos fala de um administrador que foi demitido de suas funções por “improbidade administrativa”. Essa palavra, “improbidade administrativa” é um balaio que pode caber muitas coisas, todas elas acabam denunciando a má gestão feita por alguém. No fundo, o texto nos alerta quanto ao mau uso do dinheiro. Ao refletir sobre esse tema constatamos o quanto ele é atual. Você, certamente, conhece famílias que foram destruídas por causa de herança. Enquanto vivos os pais reuniam os filhos e conseguiam manter a família unida. Mas, assim que morreram logo apareceram as disputas por causa da herança e o saldo foi a completa desintegração familiar.  Sei de demandas sobre esse assunto, que, há anos, se arrastam na justiça e ainda continua sem desfecho. Nesses casos é o excesso de ganância que leva à consequências desastrosas. Essa realidade também costuma afetar grande parte das empresas. O excesso de ganância de alguns sócios pode colocar tudo a perder. Para elevarem suas margens de lucro algumas empresas fazem qualquer negócio e abrem mão de todos os princípios. Quando essas jogadas são descobertas muitas não conseguem mais  sustentação no mercado.

No Evangelho, temos um administrador que foi demitido de suas funções e acabou agindo com sagacidade para salvar a própria pele. Para não enfrentar maiores dificuldades no futuro e angariar a simpatia dos devedores aceitou reduzir sua comissão. Agindo assim, não prejudicou o dono da fazenda nem penalizou os devedores. Abriu mão da própria comissão exorbitante em vista de obter vantagens futuras. Por esse gesto não foi desonesto, apenas deixou de ganhar o que estava acostumado visando ser acolhido, posteriormente, por alguns dos devedores de seu patrão.  Certamente foi desonesto por outras atitudes tendo em vista que estava sendo despedido da administração.  Jesus elogiou sua sagacidade afirmando que também os filhos da luz deveriam angariar vantagens para o reino do céu.

Para Jesus a preocupação com o reino de Deus deve ocupar o primeiro lugar em nossas vidas. Ele não critica o simples fato de uma pessoa ter dinheiro mas a escravidão que isso costuma gerar. Na verdade, alguns não são donos do dinheiro, o dinheiro é que passou a ser dono de suas vidas. Por causa do dinheiro não temem sacrificar os valores mais nobres: a família, os amigos, Deus... Quando Deus é substituído pelo dinheiro então constatamos um pecado muito antigo, ou seja a idolatria. O primeiro mandamento da lei divina deixa claro uma condenação a isso: Escuta, Israel, não terás outros deuses além de mim!

Todos nós precisamos do dinheiro para viver mas não devemos viver por dinheiro. O administrador da parábola, ainda que de forma interesseira, considerou a amizade mais importante que o dinheiro e, por isso, abriu mão de sua comissão. Naturalmente agiu assim por interesse. Seria bom se agíssemos sempre assim e de forma desinteressada.

Para todos aqueles que põe o dinheiro em primeiro lugar seria bom lembrarmos o mito do rei Midas:

Tudo começou quando Sileno, filho de Baco, o deus do vinho, perdeu-se, no caminho ao visitar uma província distante do seu reino. Na ocasião, ele foi encontrado pelos servos de Midas, rei da Frigia (atual Turquia) que o conduziu são e salvo ao seu pai. Muito agradecido, Baco prometeu que daria a Midas o que ele pedisse, como recompensa. Foi então, que Midas pediu-lhe um dom: Queria, a partir daquele momento, o dom de transformar em ouro tudo o que tocasse um sonho de consumo de qualquer empreendedor moderno. Baco viu que aquilo não era uma boa pedida, mas não lhe negou esse desejo.

No caminho de retorno para casa, Midas quis testar a promessa. Arrancou um galho de oliveira na beira da estrada e o viu  transformado em ouro, imediatamente. Pulou de alegria ao ver esse sucesso. Mas, sua alegria durou pouco, pois quando foi tomar o primeiro cafezinho percebeu que bebia ouro derretido. O pão de queijo em suas mãos transformou-se numa pelota de ouro. Assim, que tocou em sua mulher ela também se transformou no metal.

O sonho de Midas talvez seja o sonho mais frequente dos homens de nosso tempo: Transformar tudo em ouro! Afinal, nossa sede de ouro não tem limites. Em nome do “vil metal” se cometeram as maiores atrocidades na história. Que o digam os índios brasileiros, mexicanos e outros! Foi a sede de ouro que desencadeou todo o comércio transatlântico de escravos e fez o homem ignorar os princípios mais nobres. No altar da ambição se sacrificam multidões de inocentes! A lógica de muitos é: “quanto mais, melhor!”. E, por causa dessa lógica passam por cima dos valores mais sagrados. Alguns chegam a prejudicar os próprios pais e irmãos em benefícios próprios. É lamentável! Midas não morreu! Ele vive nos corações daqueles que matam e morrem por causa das riquezas(1).

O texto bíblico sobre o administrador demitido nos ensina muitas coisas. Ensina principalmente como devemos nos relacionar com o dinheiro. Não precisamos negar o valor dele e a sua importância em nossas vidas, mas ele nunca pode ser colocado como valor absoluto. Para finalizar poderíamos questionar: Quantos midas temos em nossos dias? Em qual lugar colocamos a nossa relação com o dinheiro? Quais são os nossos valores mais sagrados? Essa e outras perguntas nos ajudarão a entender a Palavra de Deus.

 1- https://ggpadre.blogspot.com/2020/09/midas-um-ricaco-que-quase-morreu-de-fome.html  

Imagem de Steve Buissinne por Pixabay 

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  1. No começo o Sr falou de herança. Verdade quantas famílias destruídas pós morte dos pais. Tudo por causa da ganância. Existe ainda hoje muito e muito midas no nosso tempo. Parabéns pela bela reflexão. Deus continue te iluminando e abençoando hoje e sempre. Um abraço e fica com Deus.

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  2. Quanta sabedoria Pe. Gabriel na reflexão do Evangelho de São Lucas
    Me lembrar de muitos almoços em família, quando os pais ainda estavam aqui...
    Quero ganhar vantagens para juntar riquezas para o ceu

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  3. Aquela história que dinheiro não trás felicidade caiu...ainda bem! Hoje temos 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil, ninguém é feliz com geladeira vazia. Como diz aquela frase: " Por tão poucos terem tanto, é que tantos tem tão pouco." Jesus repartia, hoje já não se reparte mais. A ganância é predominante! 😔

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  4. A reflexão do senhor me revela que realmente a questão do "quanto mais tem.mais quero" .Vivencio a questão da ganância pelo poder e pelo dinheiro e a soberba fez com que minha família sofresse uma quebra.Fico muito triste porque não foi isto que aprendi com meus pais , não foram estes valores, pais cristãos e católicos , passaram para a família.Entao eu pergunto: De onde vem isto? Da falta de Deus, da frieza da pessoa que acha que tem o poder de tomar as coisas dos outros porque tem dinheiro? No início da reflexão o senhor escreve uma realidade dura que só quem passa sabe o que , me entristece não pelo fato da herança em si mas sim em descobrir a verdadeira índole da pessoa .Deus precisa estar presente na vida das pessoas , e no meu convívio porque não posso generalizar mas as pessoas de.maior poder aquisitivo são as quem menos vive verdadeiramente a sua vida cristã.

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