Minha agenda no céu

 

Quando eu chegar ao céu, espero que um dia eu chegue lá, vou ter uma agenda cheia só de bons compromissos.  Vou matar a saudade de muitos amigos e parentes. Nos primeiros dias, quero visitar alguns santos dos quais sou muito devoto. Mas, adianto que eles não são poucos, por isso, nesse texto falarei apenas de alguns.

Acho que minhas pernas tremerão quando  chegar na casa de São José. A imagem que tenho dele, hoje, é a melhor possível e, no céu, não será diferente. Imagino-o, como um pai carinhoso e sensível e  com as mãos calejadas por causa do trabalho duro. Mas, foi  com essas mãos calejadas que afagou o Menino Jesus e carregou, para Maria, lírios perfumados. Quero me inclinar diante dele e agradecê-lo pela paróquia onde trabalhei, tendo-o, como padroeiro.

Na cabana de São Paulo Apóstolo, serei um pouco chato pois, quero fazer-lhe muitas  perguntas. Apesar de sua grandiosa santidade ele não deixou-nos informações sobre sua vida pessoal aqui na terra. Quero saber quem foram seus pais, avós, se teve namoradas e qual era seu lazer preferido. Poxa! O homem vivia no mar e hora nenhuma nos disse ter pescado nem uma piabinha. Pode? Sei que ele era um homem de cultura. Mas, tem hora pra tudo! Afinal, não iria dar aulas de grego clássico para quem só queria comprar azeite do Mediterrâneo! Quero saber dele qual a receita usava para não se cansar de tantas viagens e não me assustarei se me disser que tinha , nas veias, sangue de cigano.

Na ala dos santos e santas brasileiras quero passar uma boa temporada. Vou saber de Santa Dulce dos pobres porque temos tão poucos santos brasileiros com esse reconhecimento aqui na terra, sendo que no céu, eles formam uma grande torcida. Quero saber porque não temos índios canonizados e porque nenhum negro escravizado conseguiu essa patente na terra, sendo que eles povoam um bairro inteirinho no céu. Quero saber dela,  ainda, porque os santos nossos aguardam tanto na fila para obter esse reconhecimento oficial na terra. 

Vou  reservar uma manhã inteira para visitar o pavilhão de São Vicente de Paulo e saber dele porque preferiu escrever cerca de 30 mil cartas em vez de escrever um livro. Ainda quero saber como  superou a crise de fé pela qual passou enquanto vivia entre nós.

Com São Francisco de Assis quero passar uma temporada antes do Natal. Vou beijar-lhe os pés e dizer o quanto ele é amado na terra. Só depois disso, me encaminharei ao pátio dos Santos Reis Magos onde os camelos descansam. Assim que parar os cantos dos foliões vou entrevistá-los. Essa será minha entrevista do ano! Com ajuda do meu Xará, Gabriel, o Arcanjo, vou dar um jeito de veicular a entrevista em algum canal celeste. Não tenho dúvidas que naquele dia iremos fechar a audiência!

Essa agenda de compromissos será muito extensa. Vou parando por aqui pois, chegando perto do presépio a gente fica mudo. Junto com Maria, apenas contemplarei a beleza, radiante, do seu menino que acabou de nascer!

Imagem de Joe por Pixabay