Presença que causa estremecimento

  O Evangelho de Lucas (Lc 1, 39-45), que narra a visita de Maria a Isabel, nos permite refletir sobre muitos temas. Um deles é o estremecim...

 


O Evangelho de Lucas (Lc 1, 39-45), que narra a visita de Maria a Isabel, nos permite refletir sobre muitos temas. Um deles é o estremecimento causado em João Batista, ainda no ventre de mãe. A presença de Deus sempre causa estremecimento. Mas, ignorar tal presença também pode estremecer. Foi o que aconteceu ao jagunço Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, no livro: O Grande Sertão Veredas. O jagunço encontrou-se por acaso com um doutor da Cidade, que estava cheio de influência do espiritismo francês e ficou estremecido ao ouvir dele que Deus não existia:

Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Araçuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai e vem, e a vida é burra...

Para o jagunço, um homem simples, ignorar a existência de Deus era admitir o absurdo da realidade. Sem Deus a realidade se torna caótica e sem sentido. Com Deus “tudo se resolve e um milagre é sempre possível”.

Para além de um simples encontro entre duas mulheres santas, o Evangelho ressalta o encontro de dois tempos: O Antigo e Novo Testamentos! A alegria de Isabel ao receber Maria, lembra a alegria de Davi ao conduzir a Arca da Aliança ao Templo de Jerusalém (2 Sm 6, 9). Maria ficou três meses com Isabel, assim como a arca ficou três meses na casa de um devoto. Maria é, portanto, a “arca da nova aliança”. Ela leva Deus dentro de si e por isso, sua visita é motivo de grande estremecimento. “ O menino pulou de alegria em meu ventre, assim que ouvi a tua saudação”, disse Isabel. Bendita és tu entre as mulheres! Essa expressão também remonta ao Antigo Testamento quando Jael e Judite foram saudadas da mesma forma (Jz 5, 24 e Jt 13, 18). Tanto Jael quanto Judite foram exaltadas porque conseguiram aniquilar os opressores de seu povo. Maria também é exaltada, pois, através dela, Deus lembrou-se de suas promessas em favor do seu povo.

Maria partiu, apressadamente, para ajudar sua prima levando consigo o próprio Jesus. A igreja deve seguir seu exemplo e ser uma “Igreja em saída” que leva Cristo ao mundo. Maria partiu, assim como Abraaão, como Moisés e tantos outros, que marcados pela fé, sonharam com uma nova realidade. O reino de Deus é uma nova realidade que deve ser buscada desde já. Sabemos que jamais iremos transformar a terra num paraíso. Mas, também não precisamos transformá-la num inferno! Para que isso não aconteça, basta imitarmos Maria que, pôs o pé na estrada, saindo de sua “zona de conforto” para ajudar ao próximo.  Pense nisso!

Imagem de Anastasia Golovina por Pixabay 

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