O Olhar indignado de Jesus
Muitas passagens bíblicas não são bem compreendidas por nós porque nos falta compreender o contexto da época. No Evangelho de São Marcos (...
Muitas passagens bíblicas não são bem compreendidas por nós
porque nos falta compreender o contexto da época. No Evangelho de São Marcos
(Mc 3, 1- 6), temos uma passagem muito rica e cheia de significados. Era dia de
sábado, portanto, um dia de descanso em Israel. Mais que isso, era um dia de
cessação das atividades para que as pessoas pudessem rezar conviver com a
família, estudar nas sinagogas e louvar a Deus.
O povo de Israel conheceu de perto a dureza da escravidão e
do exílio. Os escravizados não tinham dia de folga e nem mesmo um espaço para o
culto divino. Por tais razões o descanso sabático era tão valorizado. A
narrativa de Gênese afirma que até Deus descansou no sétimo dia de sua criação.
Por isso, a cada sétimo dia o homem deveria descansar. A cada sete anos a terra
também deveria passar para um descanso e a cada 50 anos (7x7 = 49) deveria ser celebrado
o ano jubilar, um ano festivo quando os escravos hebreus recuperariam a própria
liberdade e as terras vendidas retornavam aos antigos proprietários.
Aquilo que, inicialmente, foi considerado uma coisa boa, com
o tempo deteriorou. Esse foi o caso da lei do sábado. O medo de infringir o
descanso sabático levou muitos ao fanatismo de tal maneira que quase tudo
passou a ser proibido aos sábados. A lei passou a valer mais que o ser humano.
No Evangelho citado Jesus foi questionado por ter curado um homem da mão
paralisada em dia de sábado, pois nesse dia não se podia nem mesmo exercer uma
atividade curativa. Aí estava o exagero daqueles que, movidos por fanatismo,
colocava a norma acima da própria vida.
Num dia de sábado Jesus foi à sinagoga, o local de oração dos
judeus. Coincidentemente, apareceu por lá, um homem com a mão paralisada. O
olhar de todos não estavam sobre o moço paralítico, mas, sobre Jesus. Queriam
ver o que ele faria diante da situação. Ao ver o homem Jesus lhe dirigiu três
palavrinhas: Levanta-te, fica aqui no meio e estende a tua mão!
O homem com a mão paralítica, certamente, estava sentado.
Quem sabe acomodado na situação de sofrimento! Mas, Jesus não quer ninguém
conformado com sua “sina”. Por isso, arranca o moço de sua acomodação e o traz
para o meio da roda. É provável que ele estivesse jogado num canto qualquer. “Cada
um no seu canto, sofre do seu tanto...” Quem disse que Jesus quer as pessoas
jogadas pelos cantos? No centro da roda, Jesus lhe ordenou: Estenda a tua
mão! Eu não sei o que o homem pensou.
Certamente, já estava acostumado com a mão sem vida, seca, conforme o texto.
Ainda assim, estendeu-a, de forma envergonhada. Seus olhos se arregalaram ao
ver a recuperação instantânea de sua mão. Naquele braço seco o sangue voltou a
correr irrigando todos os vasos como um rio irriga suas margens!
Diante desse milagre estupendo, em vez de se alegrarem com o homem curado os fariseus e herodianos começaram a planejar um jeito de matar Jesus. Como assim? Não deveriam estar contentes? Não! Na verdade, estavam enciumados, pois Jesus questionou suas práticas religiosas. Preferem matá-lo a ressignificar suas práticas e assumir novos posicionamentos. “A inveja quando não mata aleija”. De fato, eles estavam aleijados e com os corações ressequidos. Por isso, Jesus lançou-lhes, um olhar de santa indignação. Ele sempre teve um olhar de misericórdia para com todos, a exceção ficou para os fariseus e herodianos.
Imagem de Giulia Marotta por Pixabay
Que Deus nos livre desses fariseus e herodianos do nosso tempo!
ResponderExcluirDeus nos proteja dos fariseus e herodianos do nosso tempo!
ResponderExcluirPrecisamos colocar o ser humano no centro da existência. O preconceito é a maior deficiência, pois ele gera a exclusão e a marginalização. O ser humano é a obra prima de Deus!
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