Fazer as pazes com a idade

  Costuma ser muito difícil para qualquer um de nós, aceitar o veredito da realidade, principalmente, com relação à nossa idade da certidão ...

 


Costuma ser muito difícil para qualquer um de nós, aceitar o veredito da realidade, principalmente, com relação à nossa idade da certidão de nascimento. Nossa cabeça não envelhece junto com nosso corpo e, às vezes, isso traz-nos, algumas complicações. Enquanto nosso corpo já não consegue subir na escada nossa cabeça continua parada nos vinte anos! Encurtar essa diferença não é tarefa fácil. Meu pai, quando estava com mais de oitenta, confidenciou-me, que gostaria de plantar uma lavoura de eucaliptos para tirar mourões e cercar a propriedade. Ainda bem que não falou em plantar jabuticabas...

Não creio que devemos nos sentir velhos antes da hora mas, o contrário, costuma acontecer: pensamos ser jovens depois da hora o que é um grande complicador. Que o diga, Violeta Parra, Cantora Chilena (1917 – 1967) que após os 40 apaixonou-se por um jovem flautista (Gilbert Favré) com menos de 20 anos! No caso dela, além do sofrimento, pelo qual passou, deixou-nos, um legado artístico precioso: A música “Volver a los diecisiete”, entre outras. Não sei se foi por isso, ou por um conjunto de situações ela tirou a própria vida no ano de 1967.

Hoje não falta amparo para sustentar a nossa ilusão de eterna juventude. Eles vão dos cremes milagrosos, às dietas malucas e cirurgias diversas. Teve até um caso recente de um ator famoso, que após um verdadeiro estrago na cara, visando melhorar a aparência teve que passar uma temporada no CTI. A coisa mais difícil em nossas vidas é encontrar o equilíbrio. Não temos que sentir mais velhos ou mais jovens. Devemos fazer as pazes com nossa certidão de nascimento, afinal, cada idade tem a sua beleza e cada balaio sua tampa. O rosto enrugado aponta para outras belezas. Cada marca de expressão denuncia, ou pelo menos, deveria denunciar uma experiência vivida.  Zerar o velocímetro da vida é impossível mas, quando se anda mais devagar pode-se apreciar melhor a paisagem. Quem vai depressa come cru. Talvez, seja melhor comer bem devagarinho e saborear bem, cada prato que a vida nos oferece.

 Voltar aos Dezessete

Violeta Parra

 Voltar aos dezessete

depois de viver um século

é como decifrar signos

sem ser sábio competente

voltar a ser de repente

tão frágil como um segundo

voltar a sentir profundo

como uma criança frente a Deus

isso é o que sinto eu

neste instante fecundo

 

como no muro a erva

e vai brotando, brotando

como o musguinho na pedra

como o musguinho na pedra

Ai, sim sim sim

 

Meu passo retrocedido

quando o de vocês avança

o arco das alianças

penetrou em meu ninho

como todo seu colorido

passou por minhas veias

e até as duras correntes

com que nos ata o destino

é como um diamante fino

que ilumina minha alma serena

 

Vai se enredando, enredando

como no muro a erva

e vai brotando, brotando

como o musguinho na pedra

como o musguinho na pedra

Ai, sim sim sim

 

O que pode o sentimento

não pôde ele saber

nem o mais claro proceder

nem o mais largo pensamento

tudo muda em um momento

como mago condescendente

nos afasta docemente

de rancores e violências

só o amor com sua ciência

nos torna tão inocentes

 

Vai se enredando, enredando

como no muro a erva

e vai brotando, brotando

como o musguinho na pedra

como o musguinho na pedra

Ai, sim sim sim

 

O amor é redemoinho

de pureza original

até o feroz animal

sussurra seu doce gorjeio

detém aos peregrinos

libera os prisioneiros

os amor com seus esmeros

ao velho o transforma em criança

e ao mau só o carinho

o transforma em puro e sincero

 

Vai se enredando, enredando

como no muro a erva

e vai brotando, brotando

como o musguinho na pedra

como o musguinho na pedra

Ai, sim sim sim

 

De par em par na janela

abriu como por encanto

entrou o amor com seu manto

como uma leve manhã

ao som de sua bela diana

fez brotar o jasmim

voando tal qual serafim

ao céu o pôs brincos

e meus anos em dezessete

os converteu o querubim

 

Vai se enredando, enredando

como no muro a erva

e vai brotando, brotando

como o musguinho na pedra

como o musguinho na pedra

Ai, sim sim sim


https://images.app.goo.gl/T5Q61PYyGXKapc5s8

Related

Café da manhã preparado por Jesus

Adélia Prado, poeta de Divinópolis, num de seus textos, expressa sua admiração pelas tardes de maio. Diz mais ou menos assim: Em maio a tarde não arde, em maio a tarde não dura. Em maio a tarde...

As chagas de Cristo

Na entrada da garagem, bem ao lado de minha sala, existe um ninho de sabiá. Ele já não se incomoda com minha presença e quando está inspirado canta tanto, que chega a atrapalhar as gravações qu...

Igreja em fuga

A partir da exortação apostólica Evangelii Gaudium, a alegria do evangelho (2013). A expressão “Igreja em Saída”, empregada pelo Papa Francisco, entrou em nossos vocabulários. No texto, o papa ...

Postagem mais antiga O coração da lei
Postagem mais recente A porta é estreita

Postar um comentário

  1. A beleza não resiste ao tempo porque a idade é relevante mas é ajudada pelos modismos e pode em alguns casos ser comprada. O certo é que as atitudes próprias da idade é que o tornará belo ou feio, certo é cada idade tem sua beleza

    ResponderExcluir

Deixe aqui seu comentário

emo-but-icon
:noprob:
:smile:
:shy:
:trope:
:sneered:
:happy:
:escort:
:rapt:
:love:
:heart:
:angry:
:hate:
:sad:
:sigh:
:disappointed:
:cry:
:fear:
:surprise:
:unbelieve:
:shit:
:like:
:dislike:
:clap:
:cuff:
:fist:
:ok:
:file:
:link:
:place:
:contact:

Vídeos

Mais lidos

Mais lidos

Parceiras


Facebook

item