Uma brasa no peito e uma flecha na alma
O título desse artigo é o trecho de uma música cantada na Igreja Católica. A expressão, certamente, foi inspirada na citação bíblica de Jer...

O título desse artigo é o trecho de uma música cantada na Igreja Católica. A expressão, certamente, foi inspirada na citação bíblica de Jeremias (Jr 20,9). A imagem é forte e faz pensar no compromisso do profeta com o chamado de Deus. A brasa no peito é um fogo que queima e impulsiona o profeta em sua caminhada. A flecha na alma mostra a direção para Deus, o alvo e o sentido da vida do profeta. A presença de Deus é que faz arder no coração dele o desejo de viver sua vocação. Diante de Deus é impossível ficar parado. Ele é como o amante que seduz e inspira a pessoa amada. Aliás, essa foi a imagem usada pelo profeta em suas lamentações. Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte tiveste mais poder. Agora todos riem de mim. A palavra do Senhor tornou-se para mim, fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro (…) Mas, senti dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo ( Jr 20, 7-9). Nesse caso, o profeta sofre porque sente que Deus o seduziu e parece tê-lo abandonado. Mas, logo depois corrige, dizendo: "Senti dentro de mim um fogo ardente". Esse fogo também foi sentido pelos discípulos de Emaús, ao conversar com Jesus, sem perceber que era com Ele que estavam falando (Lc 24,13).
Existem no mundo dois tipos de homens: os que são capazes de servir a Deus com amor e desprendimento, e aqueles que não conseguem enxergar nada, além de si mesmos e dos próprios interesses. Esses dois tipos, muitas vezes, sobrevivem dentro de nós mesmos. Há um lado de nós, que quer dizer sim para Deus e um outro que sempre diz não. O que diz sim, muitas vezes é vencido pelo que diz não. O profeta Jeremias também viveu esse dilema. Poderia viver sua vida tranquilamente, casar-se e ter seus filhos. No entanto, quis buscar algo ainda mais nobre que isso: servir a Deus com integridade. De um lado sente o abandono de Deus, do outro um fogo que queima. Esse dilema humano nos acompanha o tempo todo. Deus nos chama à santidade. Mas, nosso lado pecaminoso, às vezes fala mais alto. Preferimos o egoísmo ao altruísmo, o pecado à graça.
Desde o início do Cristianismo, o Espírito Santo de Deus foi comparado com o fogo. No caso, um fogo purificador. Fogo santo que queimou a sarsa diante de Moisés no Monte Sinai; fogo do "sol nascente que veio nos visitar" que iluminou os olhos do velho Simeão ( Lc 1, 78); luz que cegou São Paulo no caminho de Damasco (Atos 9,3). De fato, Cristo é a luz do mundo e pode iluminar todas as nossas experiências. A luz de Cristo, no entanto, não invade nosso espaço. Ela só entra se a gente abrir a porta. Deus respeita nossa liberdade e o nosso direito de dizer não. Dizer não, é escolher a si mesmo. Dizer sim, é abraçar a vontade de Deus e aderir ao projeto que Ele tem para cada um de nós. Foi isso que Maria fez. Ela disse sim, e pronto. Deus tomou conta de sua vida. Com São Paulo também aconteceu isso. Cristo se apossou tanto dele que chegou a afirmar: Não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim (Gl 2, 20). É preciso lembrar, entretanto, que Deus não nos poupa das dificuldades. Ele nos chama e nos fortalece. Mas, o caminho deve ser percorrido por nós. Por isso, os profetas de todos os tempos, tiveram que enfrentar muitas dificuldades. Só não desanimaram pela certeza da graça, essa brasa ardente colocada no peito, bem perto do coração.
É real o dilema que o texto explora. Os valores da matéria e o do espírito. O do egoismo e o do altruismo.
ResponderExcluirJesus o tempo todo mostrou a receita o projeto de Deus. Servir e desapegar-se do que nos distrai da verdadeira moradavda nossa vida, que é preparar-se para o retorno à verdadeira morada do Espírito.