Dia dos mortos
Antigamente, quando se andava pelas estradas rurais, volta e meia a gente se deparava com uma cruzinha ao longo da estrada. Eu mesmo lembr...

Antigamente, quando se andava pelas estradas rurais, volta e meia a gente se deparava com uma cruzinha ao longo da estrada. Eu mesmo lembro-me de algumas: A do Alfredo, por exemplo. Do tal Alfredo, eu nada sabia, a não ser o seu nome e a causa mortis: Assassinato! O nome passava de boca em boca de tal maneira que acabou atravessando gerações. Ao passar perto de sua cruzinha dava na gente, certo medo cuja origem, não sei bem como explicar. Sou de um tempo quando não havia rede social e a Tv ainda não tinha popularidade. Na roça, só havia rádios e nem toda casa possuía essa “máquina do tempo”. Havia a cruz do “Tolo”. Esse tinha fama de santo. Sobre ele também nunca soube de nada a não ser que fora santo em vida. Nem o seu nome correto a gente sabia. Só se falava “Tolo”. Sua cruz era pequena e ficava sempre enfeitada com alguma florzinha do campo. As pessoas que se referiam a ele o faziam de forma muito carinhosa. Mais tarde, apareceu a cruz do Osório. Desse eu me lembro bem. Era alto, tinha a barba fechada e era muito trabalhador. Recordo-me com precisão do lugar onde ele caiu, inclusive arranhando o rosto nos cascalhos. Infarto repentino! Sua cruz foi erguida um pouco mais acima do lugar onde morreu. Eu mesmo cheguei a rezar e colocar flores em sua cruz.
Meu pai era “fazedor de caixão” para enterrar os mortos.
Quando morria alguém ele costumava varar a noite serrando, pregando, e revestindo
a peça com um pano roxo ou branco. Nesse último caso, se a vítima fosse virgem.
Acho que, naquele tempo, ainda existia esse seguimento. O certo é que a morte é
uma companheira inseparável de todos nós. Não existe ninguém que não tenha
sofrido com a perda de alguma pessoa amiga ou mesmo algum parente. Às vezes, penso
que ela é a única “instituição” realmente democrática. Leva os ricos, pobres,
feios, bonitos, jovens e velhos. Quando morre um jovem a gente pensa que ela
veio antes da hora. Mas, será que a morte usa relógio como nós? O que significa
o tempo para quem vive fora dele?
Quando era criança me diziam que a morte era uma mulher feia,
banguela e toda vestida de preto. Além disso, carregava nas mãos um instrumento
parecido com uma foice. Hoje, acho isso uma covardia. A mulher deve ser
associada à vida e não a morte! Mas, eu não vou mudar o rumo das coisas. Eu
morava na roça e, de vez em quando, acontecia
de encontrar-me com alguma mulher buscando lenha com uma foice nas mãos. A
correria era tanta que por pouco não provocava acidentes. Naquele tempo eu
pensava que correr da morte resolveria o meu problema. Hoje, penso que a melhor
atitude é fazer as pazes com essa ideia. Com medo ou sem medo, vamos morrer de
qualquer jeito. Então, ter medo é perder tempo. E como o tempo é provisório é
melhor aproveitá-lo bem, ao lado daqueles que amamos.
No dia dos mortos muita gente vai aos cemitérios. Alguns vão
por amor outros por desencargo de consciência. Outros vão para ver o que os
mortos têm que os diferenciam deles. Quase ninguém se imagina naquela condição
de esquecimento. Há também aqueles que
levam tudo na brincadeira, o que é uma forma de amortecer a gravidade da
situação.
Para quem tem fé a morte é apenas uma passagem, uma mudança
de estágio. Morrer é ir ao encontro de Deus. Nesse caso, não poderia haver nada
mais consolador. Nada poderia haver de melhor e mais bonito do que um encontro
com Deus. Eu estou no meio dessa turma. Sei que não mereço esse encontro, mas “sei
também em quem depositei minha confiança”. Nenhuma mãe seria capaz de abandonar
o filho numa hora tão incerta e desafiadora. Deus é pai e pode ser mãe também.
Confio nele e em sua graça. Por isso, não tenho medo da morte. Gosto da vida e
quero viver muito, mas, não fico neurótico pensando na morte. Em minha hora
final sei que Deus cuidará de mim. Amém.
Com a ressurreição de Jesus nós temos uma única certeza: nós não nascemos apenas para morrer, mas morreremos para ressuscitar...
ResponderExcluirÉ a morte é um mistério. Mas cremos na ressurreição.
ResponderExcluirA morte é nossae companheira em vida. Basta um instante de felicidade morrer para percebemos que estivemos felizes. Esse breve período de vida a gente tem que lutar para perceber cada momento sem que a morte nos avise.
ResponderExcluirQue Deus nos abençoe enquanto estamos por aqui!
ResponderExcluirMuito interessante a reflexão sobre o dia dos mortos.Tinha muito medo da morte, quando criança. Mas , hoje , na caminhada , temo mais a segunda morte, que é a morte da alma. Que Deus cuide de nós, quando chegar a nossa hora.
ResponderExcluirPenso as vezes na morte como uma fila que vai levar para algum lugar. Quem é cristão acredita ser a verdadeira morada
ResponderExcluireis que a vida sendo uma caixinha de Surpresas ela mis surpreende e parece que alguém furou a fila. Morreu jovem!
Bem estou na fila como todos, e quero sair, mas preparada para o encontro da real felicidade.