Amar e amparar os pais
O livro do Eclesiástico (180 a C) foi escrito por um judeu piedoso que morava fora de Israel. Seu objetivo era preservar a fé e a cultura ...

O livro do Eclesiástico (180 a C) foi escrito por um judeu
piedoso que morava fora de Israel. Seu objetivo era preservar a fé e a cultura
de seu povo, mesmo vivendo em terra estranha. O apagão da cultura de um povo é
sempre uma possibilidade. Veja, por exemplo, o caso do Brasil, quando nossa terra
ainda nem tinha esse nome. Quantos povos originários (indígenas) habitavam “esse
planeta” Brasil, antes da chegada dos europeus? Quantas línguas eram faladas
por aqui? Quantos mitos eram cultivados e quantas culturas se perderam?
O autor do Eclesiástico, procurou, com o seu texto, manter
viva a cultura de seu povo que, na época do livro, vivia em Alexandria, no
Egito. Entre outros ensinamentos, encontramos nesse livro as orientações sobre
o cuidado com os pais:
Deus quis honrar os
pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados,
e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus
filhos e será atendido na sua oração. Quem
honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.
Filho, ampara a velhice
do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para
com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade
para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus
pecados (Eclo 3, 3-7.14-17 a)
O texto é autoexplicativo mas, ainda assim, gostaria de
destacar nele algumas ideias: Quem honra os pais obtém o perdão dos pecados...
Quem honra os pais acumula tesouros... A caridade feita aos pais não será
esquecida. Além disso, há uma recomendação expressa para não abandonar os pais
na velhice.
Após ler esse texto e ver a nossa realidade constatamos o
quanto ele é atual. Vivemos numa sociedade de mercado onde as pessoas valem
enquanto produzem e consomem. Os idosos já não produzem mais e nem conseguem
consumir com o pouco que ganham. Nessa ótica, correm o risco de não serem
valorizados. Como se não bastasse essa lógica cruel e desumana os idosos
enfrentam outros problemas como, por exemplo, a insensibilidade dos filhos e
netos. Muitos são passados para trás e não recebem mais a aposentadoria
integral, que já era pouca. Alguns filhos ou netos compram financiado e o
pagamento é feito descontando na aposentadoria deles.
Outro fato que ainda presenciamos é o abandono afetivo dos
pais. Alguns filhos não visitam os pais e não se importam com eles. Pensam que
são substituídos por cuidadores. É preciso entender que ninguém substitui um
filho ou um pai. Às vezes, o pai tem muitos filhos mas, nenhum deles dão a atenção
que o pai precisa. Isso é um pecado. Aliás, a Palavra de Deus nos alerta que o
cuidado com os pais apaga uma multidão de pecados. Penso que o contrário deve
ser verdadeiro: o abandono aos pais cria uma multidão de pecados...
Atualmente muitos idosos vivem sozinhos e longe dos filhos.
Há casos em que um idoso está cuidando, ou tentando, cuidar do outro. Mas,
ambos estão precisando de cuidados. O mundo fortemente marcado por tecnologias
também dificulta a vida dos idosos que já não tem a mesma mobilidade e
capacidade de ver e ouvir. Alguns, não conseguem mais usar o telefone e também não
conseguem resolver os problemas bancários. Nessa hora muitos são enganados. É
uma pena!
A Palavra de Deus chama nossa atenção para o cuidado com os
pais, principalmente com os pais idosos que já perdem a lucidez. Quem não é
idoso um dia será caso não morra jovem. Por isso, é preciso plantar hoje para
colher amanhã. O mundo dá muitas voltas e ninguém será eternamente jovem. Pense
nisso!
Foto: Arquivo pessoal