Milionária antes de morrer pediu, apenas, para contemplar os vaga-lumes

A crônica de hoje, mais uma vez vai abordar detalhes de Dona Joaquina do Pompéu, uma das mulheres mais ricas do Brasil, que morou em Pompé...

A crônica de hoje, mais uma vez vai abordar detalhes de Dona Joaquina do Pompéu, uma das mulheres mais ricas do Brasil, que morou em Pompéu, Minas Gerais, no Séc. XIX, (1752–1824). Seu nome: Joaquina Maria Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco Souto Maior Oliveira Campos. Filha de pais portugueses, Joaquina nasceu em Sabará, MG, mudou-se com a família para Pitangui onde casou-se, com o Capitão Inácio de Oliveira Campos. Depois de algum tempo, o casal comprou uma fazenda em Pompéu. Esse nome “Pompéu” era o nome do antigo proprietário da fazenda. 

Filha dos portugueses (Dona Jacinta Tereza da Silva e Dr Jorge de Abreu Castello Branco, que se mudaram para o Brasil no período colonial) Dona Joaquina herdou deles o seu caráter e aprimorada formação ética. Seu pai, após enviuvar-se, tornou-se sacerdote e trabalhou em Mariana e Pitangui. Com seu marido Inácio Joaquina teve dez filhos. 

 O marido de Joaquina adoeceu e acabou indo para a cama. Ela teve que assumir sozinha, a administração da grande fazenda. O seu tempo coincidiu com o fim do ciclo do ouro e início da agropecuária. A fazenda de Joaquina era imensa, cabiam milhares de cabeças de gado e para manter toda a produção ela possuía, igualmente, milhares de escravos. Sua propriedade cresceu com a herança do marido, em Paracatu, e outras glebas de terra que foram adquiridas, aos poucos. 

 Dona Joaquina faleceu em sua fazenda, no Pompéu, no dia 07 de dezembro de 1824 deixando uma grande herança aos seus. 

 “O latifúndio de Dona Joaquina, exceto as terras de Paracatu, está hoje dividido em 200 fazendas importantes. Somente a fazenda do Pompéu abrangia vastas extensões (alguns a totalidade) dos hoje municípios de: Abaeté, Dores do Indaiá, Paracatu, Pequi, Papagaio, Pitangui, Pompéu, Maravilhas, Martinho Campos. Sua fazenda era maior, territorialmente, que a Bélgica, Holanda, Suiça, Dinamarca, El Salvador e superava, em quilômetros quadrados, os estados brasileiros de: Espírito Santo, Alagoas e Sergipe” (1). 

Dona Joaquina não deixou-nos nenhuma foto sua, mas em 1998 sua imagem foi recriada pela artista plástica Yara Tupynambá, que procurou, com sua arte, produzir uma imagem fiel daquela que foi chamada “A Grande Dama do Sertão”. Na tela que hoje se encontra no salão nobre da Cãmara dos Vereadores de Pompéu ela foi pintada com um pé calçado e outro descalço tendo ao seu entorno seu grande rebando de bois e nas mãos a cornicha, uma espécie de copo, feito de chifres, muito usado naquele tempo. 

Os últimos dias de Dona Joaquina foram marcados por grande agonia, mas, mesmo acamada ela se preocupava com seus hóspedes. Vítima de derrame cerebral numa época de poucos recursos ela foi se acabando aos poucos até que, finalmente, se descansou numa madrugada de dezembro de 1824. Antes de morrer recebeu a santa unção e pediu perdão de seus pecados. Em suas últimas palavras não falou de fama, riquezas ou propriedades. Uma das mulheres mais ricas de sua época, amiga de reis e imperadores, pediu, apenas, para ver o brilho suave dos vaga-lumes que circulavam em torno de seu casarão. Entre luzeiros brilhantes, partiu para o céu, aquela que foi na terra, uma estrela de primeira grandeza! 

 1- Vasconcelos Agripa. Sinhá Braba. 2 ed. Belo Horizonte, MG: Garnier, 2021. P. 297.
 
Foto: Arquivo Pessoal

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  1. Morreu como Alexandre Magno, de mãos vazias, com os médicos carregando o caixão pra mostrar que ninguém tem poder sobre a morte e no caminho fúnebre, cheio de ouro. Onde daqui do deixa o nome e os feitos

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  2. Este texto descreve uma mulher forte sim guerreira e admirável administradora, teve o fim de vida como a maioria, com a perda da saúde. Deixa legado na região.
    Tive conhecinento de um lado de sua personalidade com capacidade de ser cruel, de fazer sua justiça conforme entendia que merecia, portanto santa nunca foi ou será. Ela merece sim ser lembrada e admirada pela mulher forte que foi.

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  3. Obrigada Padre Gabriel por trazer a história de Dona Joaquina.
    Já ouví muitas histórias sobre ela .

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  4. Cada dia mais encantada com as histórias dessa mulher.

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  5. Marcada pela grandeza que ela representava, ela era uma mulher de fibra. Sem contar que seu nome, era um verdadeiro testamento kk. Na última hora só queria contemplar, o que em vida não teve tempo, ou não tirou um tempinho para ver de como é bela a natureza.

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  6. Padre Geraldo Gabriel,esta História da Joaquina de Pompeu,me faz voltar o tempo de criança.Quantas vezes eu ficava na casa da vovó,fazenda grande...Dia de Natal,era maravilhoso ver os vagalumes que piscavam ao redor da casa,como se fossem luzinhas pisca-pisca de natal!

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  7. Mesmo com toda riqueza e com a dor de tudo que viveu, quis o prêmio de Deus!! As maravilhas de Deus!!! Sempre na época do natal temos este presente , que são os vagalumes , parecem as estrelinhas no céu, só que o céu é a escuridão da mata.Na roça mesmo, na escuridão sem o brilho da luz elétrica , a gente abre a janela da casa bem noitinha e ve este baile lindo dos vagalumes , e assim a mulher mais rica teve a sua vontade realizada morrer vendo um dos presentes de Deus!!!(

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  8. Fiquei encantada com a história de dona Joaquina,que por coincidência tem o mesmo nome de minha avó.

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  9. Eu fiquei conhecendo fatos da Sinha Braba através de textos como este porque o Senhor teve curiosidade, e muita pesquisa sobre Ela e depois generosamente compartilhando.
    Inegável a importanvia desta personagem que já deixou registrado sua importância na Região onde teve muito poder, e como qualquer ser humano com muitas qualidades e defeitos. Achei interessante ter sua própria justiça sem ser questionada, justamente pelo respeito que todos tinham por Ela.
    Listar suas qualidades como mulher em uma época muito machista é dificil mas admirável!
    Escolho finalizar dizendo que mesmo com grande riqueza, mostrou como os valores reais que vem sempre de muita simplicidade. Quis ver o voo de vaga lumes.
    Aproveito para dizer que gostei de ter as informações sobre as luzes deste inseto.

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  10. Que interessante! Obrigada padre por trazer tantas informações. Eu já havia falado muito dela, mas por um lado mais cruel.

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  11. Fico imaginando o que ela passou para,dar conta de administrar tantos bens.

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  12. Chama a atenção que depois de uma vida de trabalho e possível luxo. Ela escolheu morrer contemplando uma maravilha que Deus criou. Que eu saiba aproveitar essas maravilhas durante o resto da minha vida.

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