Praga de padre pega? Se pega!

 

Praga de padre pega, ou não pega? Você decide! Sou suspeito para falar e, por isso, me calo. Mas, o “meu colega de farda” hoje falecido, Pe Zabelinha, que trabalhou em Pitangui, em outros carnavais, palestrando com Dr. Manuel Ferreira da Silva, contou-lhe, um caso desse naipe. Padre Zabelinha era, como todo bom mineiro, um grande contador de histórias.  Seu relato foi sobre um acontecido no Arraial de Santa Quitéria, hoje Cidade de Esmeraldas. Esse arraial ficava ao meio do caminho entre Sabará e Pitangui e sua origem remonta ao bandeirante, caçador de esmeraldas, Fernão Dias Paes Leme.

Havia no Arraial Santa Quitéria um jovem sem limites. Seu nome? - Atanásio Nogueira da Silva, filho único do Capitão Manuel Nogueira da Silva com uma escrava. Com a morte de seu pai, Atanásio herdou uma enorme fortuna: 800 contos em dinheiro, terras, gados, imóveis e muito ouro em pó! O moço que já tinha má índole, com essa dinheirama no bolso ficou pior ainda. O apelido do “parsa” nas imediações era “Menino de ouro”. Criado sem limites, estava sempre em más companhias e  rodeado de rabos de saias, coisas que só aconteciam naqueles tempos... Não respeitava as autoridades e nem fazia caso dos pobres. Tomou ojeriza dos padres porque esses não aprovavam suas atitudes e pediam aos jovens para evitar sua companhia.

Certo dia, quando Padre Maximiliano puxava uma palha junto à janela para aproveitar a brisa fresca da tarde, aconteceu-lhe, uma tragédia. Naquele tempo, os padres usavam tonsura, ou seja, raspavam o centro da cabeça deixando apenas uma coroa de cabelos nas laterais. Ao ver a coroa do padre exposta na janela Atanásio não pensou duas vezes e fez xixi sobre ela. Assustado com a água morta a lhe escorrer pelas franjas Pe. Maximiliano acordou assustado e ainda viu o moço correndo. Chocado com a situação afirmou: - Urinaste numa coroa sagrada, bruto?! Eu preferia ter tomado um tiro que passar por um vexame desses! Agora escute: Você vai pagar pelo que fez e um dia hás de morrer mijando!

O tempo passou e Atanásio continuou tão cruel como sempre fora: Abusava de todos e não respeitava ninguém. Um dia mudou-se para Uberaba e lá continuou o seu mau comportamento. Certa ocasião, após uma noitada de orgias e confusões, quando retornava pra casa parou para urinar. Naquele instante, havia alguém de tocaia a lhe esperar deferindo-lhe um tiro certeiro na cabeça. Conforme a palavra do padre, morreu ali mesmo e, se morreu feliz ou não, ninguém sabe. Certo é, que morreu mijando! Naquela época a notícia correu o mundo e acabou chegando a Pitangui. Diante disso, o povo repetia: Viu? Com praga de padre, ninguém deve brincar! Verdade, ou não, a narrativa não deixa de ser interessante e eu acabei herdando a vocação de Pe. Zabelinha: Prepare-se, que lá vem história, algumas do arco da velha, quando a velha ainda tinha um arco...

Crônica inspirada no episódio narrado por Agripa Vasconcelos no livro “Sinhá Braba”- 2 ed. Belo Horizonte, Garnier – 2021. PP 60.

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