Davi e Golias: Confiar em Deus ou nos homens?

 

Davi era um rapaz novo, praticamente, um adolescente, mas, estava acostumado à lida bruta de pastorear ovelhas. Naquele ofício, certamente, teve que agarrar muitos lobos pelos chifres... Ops! Lobos não têm chifres, mas, o que importa é que você entendeu. O seu povo já não aguentava mais os insultos dos Filisteus, um povo inimigo de Israel. Esses conflitos remontam ao início da monarquia em Israel por volta de mil anos antes de Cristo. Maiores informações sobre o assunto poderão ser encontradas na Bíblia, no Primeiro Livro de Samuel.

O primeiro Rei de Israel foi Saul e depois dele foi Davi. Antes da monarquia o povo vivia sob o comando dos juízes, ou seja, dos anciãos de clã ou tribo. Mas, já naquela ocasião, havia “Complexo de Vira-Lata,”(*) uma mania dos pequenos, de lamber as botas de seus dominadores. Por causa disso, o povo de Israel, queria ter um rei nos mesmos moldes das grandes nações. As grandes nações daquele tempo, como Egito, Síria, não conheciam o monoteísmo de Israel e, facilmente, praticavam a idolatria. Isso feria o primeiro mandamento da lei de Moisés que dizia: “Não terás outros deuses além de mim”(Êx 20, 3). Querer imitar as grandes nações, de certa forma, era afastar-se do Deus único que havia tirado o povo da escravidão do Egito com mão forte e braço poderoso.

Deus respeita a liberdade humana e, por isso, consentiu que o povo experimentasse um novo tipo de governança, mesmo afastando-se dele. Como era de se esperar, deu errado! Saul acabou se esquecendo da obediência ao Senhor por causa de conveniências políticas. Por isso, perdeu a coroa. Davi, filho de Jessé, que morava em Belém foi escolhido por Deus. Essa escolha se deu através de Samuel (1 Sm 16, 1 – 13). Os textos bíblicos “enchem a bola” de Davi, mas também mostram os seus podres. Há, no entanto, uma cena de sua vida sobre a qual eu gostaria de comentar aqui. Ela está descrita em 1Sm 17.

No exército dos Filisteus havia um soldado temido por todos. Era Golias, um verdadeiro gigante que tinha dois metros e oitenta de altura e seu colete de bronze pesava mais de cinquenta quilos! Somente a ponta de sua lança pesava seis quilos (1Sm 17, 4 7). Davi, por outro lado, era um rapazola ainda jovem e muito corajoso. Sabia que não lutava sozinho e que Deus estava sempre ao seu lado. Por isso, topou lutar contra o gigante Golias. O rei Saul, ao que parece, não tinha tanta fé como Davi. Antes da luta colocou nele tanta armadura que ele mal conseguia se mover (1 Sm 17, 38ss). Acostumado com a liberdade dos campos Davi não gostou nada daquilo, afinal, confiava em Deus e sabia que, com ele, a vitória seria garantida. Por isso, desvencilhou-se de tudo aquilo, apanhou apenas sua funda, uma espécie de estilingue, juntou algumas pedrinhas e se prontificou ao combate. Ao ver aquele despropósito Golias riu e o insultou bastante. De um lado havia um forte guerreiro, armado até aos dentes e acostumado a destroçar os inimigos. Do outro lado um adolescente carregando nas mãos apenas uma funda e cinco pedras na sacola.

Ao ver Davi desprovido de armaduras o gigante avançou contra ele furioso. Davi não precisou usar as cinco pedras! Com a primeira, tombou o gigante, alvejando-o, bem no meio da testa. Como não carregava espada tomou a espada do próprio inimigo e cortou-lhe a cabeça diante de todos.

Que lições podemos tirar desse fato? O povo tem um ditado que diz: Onde Deus passa nada embaraça. De fato, nada embaraçou Davi, naquele dia, porque Deus estava com ele. Quando estamos unidos a Deus não precisamos temer nenhum inimigo. Deus é a nossa força e proteção. Essa é uma verdade muito antiga. Mas, apesar disso, ainda tem aqueles que confiam mais nos músculos dos homens e na força dos cavalos do que em Deus (Sl 147, 10 – 11)

(*) Complexo de Vira Lata. Livro da filósofa Márcia Tiburi – Análise da humilhação brasileira.

Imagem de Astrid Schaffner por Pixabay