Ópera dos Mortos: Drama que fala um pouco sobre todos nós
Tenho uma irmã que gosta muito de fazer doces. Adivinha o que ela plantou no seu quintal? – Se você disse uma figueira acertou. Nossa casa...

Tenho uma irmã que gosta muito de fazer doces. Adivinha o que
ela plantou no seu quintal? – Se você disse uma figueira acertou. Nossa casa
costuma dizer quem nós somos. Quando fiz a minha casa destinei, já na planta,
uma área nobre para ser a biblioteca. Isso, talvez, não seria normal em outras
casas. Como gosto de ler e sempre adquiro livros então, preciso de uma
biblioteca que, aliás, me dá muito prazer.
Não sei se você já visitou uma casa abandonada cujos donos
você conhecia no passado. Não deixa de ser bastante triste, pois a casa evoca a
presença deles. Talvez, você veja o pé de jabuticabas no quintal e se lembre de
uma conversa antiga ou até mesmo de algumas travessuras. Pode ser que veja
alguns objetos do antigo proprietário e se lembre de muitas outras coisas. Pois
é. Foi com a imagem de uma casa que Autran Dourado iniciou o seu livro “Opera
dos Mortos” (1967).
Mas, porque “Ópera dos mortos”? Essa foi também minha
pergunta ao ler o livro. Opera é uma drama encenado com músicas, danças e
instrumentos... Mas, é também o local, o cenário onde tudo isso acontece. No
caso, do livro o cenário é o casarão de Honório Cota. Nesse casarão passou três
gerações da família. Tudo começou com Lucas Procópio, homem mal e perverso que
não tinha limites para suas ações. Foi ele quem construiu o primeiro pavimento
do casarão. Depois de sua morte sua sombra ainda sobreviveu muitos anos. Seu
filho, João Capistrano, era bem melhor que o pai. Como ele tinha o sonho de ter
uma grande família casou-se com Dona Genu e construiu o segundo pavimento do
casarão. Tentou preservar o estilo do pai de tal maneira que a casa não
parecesse duas. O casal, de fato, teve muitos filhos, mas, todos morreram ainda
recém-nascidos. Só escapou uma, que foi chamada de Rosalina.
Diferente do pai, João Capistrano, era um homem bem
relacionado e agradável. Sua popularidade o levou à candidatar à administração
da cidade. Apesar de vencer a eleição ele foi vítima de uma fraude e não tomou
posse. Sua decepção com os eleitores o levou a um completo fechamento no casarão
com sua filha Rosalina. Vendo apenas de longe aquele casarão os moradores da
cidade davam asas à imaginação. Falavam de tudo sobre o que acontecia lá
dentro. Assim como aconteceu no dia da morte de Lucas Procópio, o casarão foi
aberto a todos quando João Capistrano também morreu. Rosalina, nesse dia parou
o segundo relógio que havia no casarão, pois o primeiro foi parado no dia da
morte do avô.
Brigada com Deus e o mundo Rosalina também se fechou no
casarão. Com ela morava apenas uma criada, Quinquina, que ouvia mas não falava. Quinquina fazia a
ponte entre Rosalina e os moradores da cidade, mas, como não falava o mistério
continuava.
Certo dia apareceu por ali um homem de Paracatu, o Juca
Passarinho. Juca Passarinho também era conhecido por José Feliciano e Zé do
Major. Juca Passarinho era falador, mentiroso e não gostava de trabalhar. As
pessoas, no entanto, gostavam de ouvir suas lereias. Certo dia ele procurou o
casarão oferecendo os seus serviços. Rosalina o contratou pois ele não
pertencia “aquela gentinha” do lugar. No correr dos dias Juca Passarinho ganhou
intimidade com Rosalina que embriagada de vinho o recebia no segundo andar do
casarão. Durante o dia, no entanto, preservava o respeito que deve haver entre
patrão e empregado. Por isso Rosalina parecia ser duas, uma noturna e outra
diurna. Com ela Juca passarinho teve um filho. Aquilo mexeu muito com Rosalina
e mais ainda com Quinquina, uma espécie de Cão de guarda da patroa.
O que aconteceu com Rosalina e Juca Passarinho? Será que eles
se casaram e foram felizes para sempre? Será que ele levou um pé no traseiro e
pegou o rumo de casa? Será que Rosalina o despediu e voltou para o seu antigo
namorado? Será que enlouqueceu depois o ocorrido com a criança? Será que
abandonou de vez o casarão e caiu na vida? Você ficou curioso? Então, leia o
livro para saber o final da história... Admita que sou bem cruel...
Foto: Arquivo Pessoal