Vaidade masculina

  Por alguns instantes me questionei se aquele era ele mesmo. Apesar do mesmo semblante tirara um pouco dos fios do bigode acentuando, ainda...

 


Por alguns instantes me questionei se aquele era ele mesmo. Apesar do mesmo semblante tirara um pouco dos fios do bigode acentuando, ainda mais, as linhas de expressão de seu rosto. No vídeo, as rugas, atrevidamente, apareciam como para denunciar a falsidade da imagem. A estranheza procedia do cabelo. Nenhum fio branco, nem mesmo para remédio! Pareceu-me que ele usava uma toca preta na cabeça, publicamente, conhecida. Esperei para ver se a câmera focalizasse-o de perfil, mas, ali só havia uma câmera, pelo visto. Não, não era toca! Era o cabelo mesmo. De tão engomado nenhuma fio ousava sair do lugar, nem mesmo se houvesse um furacão. Não pode ser ele, pensei. Deve ser um irmão, ou alguém muito parecido.  Mas, não me dei ao trabalho de investigar se ele tinha irmãos ou não. Agredido por aquela visão,  troquei de canal e me pus a refletir: - O que um homem não faz, atualmente, para se parecer mais jovem?  Num mundo de culto às aparências, ninguém quer ficar velho ou parecer velho, o que é pior. Para fugir desse fantasma, muitos se matam em academias, plásticas, regimes, demonização, ops! harmonização facial... Uns querem o nariz mais arrebitado, outros querem virar as orelhas e ainda endireitar as sobrancelhas. No caso, das mulheres nem me falem! Outro dia levei um grande susto, ao deparar-me com uma figura conhecida, que havia mudado as sobrancelhas. Antes ela tinha uma expressão de ternura no rosto. Agora depois dos “retoques” ficou parecida à madrasta da branca de neve! Deus me livre! 

Na mitologia grega, a deusa Geras (Guéras), representava a velhice. Ela era filha de Nix (Noite), irmã de Tânatos e Lete. Lete era a deusa do esquecimento. Morro de medo dela, pois tenho histórico de Alzheimer na família... Geras representava a decrepitude e a tristeza. Vestia-se de preto e apoiava-se num bastão. Muitas vezes aparecia coberta de folhas mortas, trazendo um cálice ou uma ampulheta (Instrumento para medir o tempo) em uma das mãos. Tânatos, seu irmão, tinha o coração de ferro e vísceras de bronze. Era o deus da morte. Dizem que, ainda hoje, ele gosta de brigar com Geras , sua irmã e , na briga sai sempre vencedor. Vá de retro!

Descobri, recentemente, um novo truque da velhice. Bobo é quem pensa ainda encontrá-la vestida de preto ou coberta de folhas secas, como no caso da mitologia. Sabe aquela dorzinha nas juntas do joelho que causou lhe muita estranheza após o campeonato? Você se lembra de que ao descer do carro, deu, sem querer, uma gemidinha? Diga-se se já descobriu o real motivo de ter ido parar três dias  no hospital após brincar de cavalinho com o neto! Fora os óculos, dentadura e aparelho de ouvido, que outras emendas você carrega?  De tempos para cá passou a ir ao banheiro de hora em hora? Já ficou indignada com aquela blusinha azul que você tanto gostava  e hoje não lhe cabe mais nem a poder de promessas?  Pois é, minha amiga; sinto muito em dizer-lhe, mas, pelo que tudo indica você não está mais sozinha. Parece que Geras gostou de você e, por isso, passou a lhe fazer companhia. Então, vou lhe dar um conselho: Se for viajar compre sempre duas passagens, uma para você e outra para ela. Procure tratá-la bem e não a despreze. Trate-a com carinho, pois quem sabe assim, ela conseguirá vencer Tânatos, pelo menos, por enquanto... Torça por ela, pois no dia em que ela perder a queda de braço com o irmão só nos restará rezar para sua alma! Que Deus lhe dê um bom lugar. Vixe!

Imagem de Andre Mouton por Pixabay

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