Eu e os perfumes

 

Não sei porque cargas-d ‘água, não combino muito com perfumes. Quando jovem até os aturava, hoje, porém, quase todos me são insuportáveis.  Você pensa que é fácil? Talvez seja, à quem não tenha o grau de alergia que tenho. Hoje mesmo, fui vítima de um perfume que me custou um dia, totalmente, improdutivo. Só salvou mesmo essa pequena crônica em forma de denúncia. Mas, porque você usa perfumes se eles lhe causam tanto mal, deve perguntar o leitor. A resposta é bem simples: falta de opção! Às vezes, ficamos entre a cruz e a caldeirinha e temos que optar entre ficar no espeto ou cair nas brasas. Explico: Como já é de conhecimento público, o Brasil, tem perdido uma verdadeira guerra contra um simples mosquito. Simples? Não dá para concluir isso. Basta ver o nome do inseto: Aedes Aegypti! Esse nome impõe respeito até aos menos avisados. Enquanto o mosquito vence a gente vive o pânico do dia seguinte. Metade da população, se não mais, está convivendo com essa “espada de Dâmocles” sobre a cabeça. O seu nome é dengue. Pelo visto, agora com novos ingredientes: Chikungunya, Zika...

Por causa da ameaça da dengue tive que comprar um produto para besuntar o corpo. Dias atrás, tive a infeliz sorte de encontrar o último frasco na farmácia. O nome do repelente, jurei para mim mesmo, nunca mais pronunciar. O dito cujo era perfumado e eu nem me dei pelo risco iminente. Na verdade, não tive opção. Só havia um frasco de resto.  Ao passá-lo no corpo, noite passada, tive o mesmo sentimento dos especialistas que preparavam as múmias dos faraós no antigo Egito. Agora, vejam bem: Nem no dia de minha ordenação, o que equivale a um casamento para a maioria dos mortais, eu tive a audácia de usar perfumes. Agora pago o preço de minha decisão. Depois de espalhar o “unguento” pelo corpo tive 650 espirros, o nariz entupiu, tive náuseas, inflamação de hemorroidas, enxaqueca e até minha coluna travou... Foi a noite em que desci, sozinho, à mansão dos mortos! Mil vezes a dengue do que esse maldito repelente! pensei. Mas, aí já era tarde. O produto, gosmento, grudou em meu corpo e impregnou em minh'alma. Só agora, 24 horas depois, me livrei dele e estou com o corpo fechado até a décima geração. Ops! Esqueci que sou celibatário!

Os perfumes me atraem ou vice-versa.  Muitos dos que se aproximam de mim e me abraçam o fazem, excessivamente, perfumados. Por isso, enquanto posso, procuro manter uma distância de segurança entre mim e as pessoas. Outros dias, ao aproximar-me de alguém senti que seu perfume me esbofeteava a cinco metros de distância! Depois disso, jurei não abraçar mais ninguém, juramento foi quebrado logo em seguida. Fiz um novo juramento: Antes de morrer, liderar uma campanha contra os perfumes, pois, depois de morto a gente perde o comando de tudo. Mas sou tão alérgico que, até depois de morto, serei capaz de espirrar, caso apareça um João Cheiroso em meu velório! E viva a vida! Para morrer ainda teremos tempo.

Imagem de NoName_13 por Pixabay