As sementes de estimação

 

Elas vieram de Goiás. Aliás, de Goiás, só vinham coisas boas. Em minha infância, Goiás, além de ficar muito longe, era também uma espécie de El dourado, uma terra prometida, onde corria leite e mel. Até hoje tenho amigos de infância que se mudaram para lá, acompanhando os pais e, pelo visto, se ajeitaram bem.

Goiás era o lugar para onde se ia depois de brigar com a namorada ou ter qualquer forma de decepção amorosa. Para juntar riqueza com as mãos, Goiás só perdia para João Pinheiro. Muitos amigos de infância também se mudaram para lá sem saber que, para os pobres, em qualquer lugar o urubu é preto.

Sobre Goiás a meninada dizia em refrão: Quem se muda para Goiás não retorna nunca mais! Acho que isso fazia a moça pensar duas vezes, antes de despachar o pretendente. É verdade que, alguns não retornaram mesmo. Não sei se enricaram ou se endividaram. Mas, teve um que retornou, contanto mil proezas sobre Goiás, que serviram para alimentar, ainda mais, as nossas fantasias.  Ele trouxe no bolso algumas sementes de uma árvore especial que só prosperava naquela terra santa. Afirmava que as sementes era de uma árvore maravilhosa que produzia cachos e mais cachos de flores, além de produzir um perfume suave que atraia abelhas e beija flores. Só faltou dizer que a tal árvore dava leite também...

Minha mãe gostava de plantas. Então, pegou as sementes, colocou-as num vidro, tampou e o guardou, bem guardado, próximo à chaminé do fogão a lenha. Aquilo foi guardado como quem guarda uma relíquia sagrada. Quem não gostaria de ter no quintal uma árvore de Goiás? Além do mais, a tal árvore deveria ser mais preciosa que aquela que cobriu o Buda no dia de sua iluminação.

O tempo passou e as sementes de Goiás ficaram ali esperando que chegasse a estação chuvosa para serem plantadas. Quando chegou o mês de janeiro minha mãe lançou mão das sementes e como um gueixa, plantou-as, ao lado da horta. Surpresa: Nenhuma brotou! Acho que de tão sagradas, só brotariam mesmo em Goiás...

Certa ocasião, Jesus disse aos seus apóstolos que a semente precisava morrer para brotar e se multiplicar (Jo 12, 24 – 26). Ele não disse que precisavam ser tampadas num vidro e guardadas próximas ao fogão. Também acho que ele não quis dar receitas de agropecuária. Naquele tempo, o agro ainda não era pop.  Só quis afirmar que uma vida vivida no egoísmo perde o seu sentido e se definha. Nossa vida só tem graça quando é dom! Ele foi o primeiro que fez de sua vida um dom quando a entregou por nós numa cruz.

Assim como a semente, que deve ser plantada para nascer, a vida não pode ser abafada numa redoma de vidro. Deve ser entrega, oferta, doação.  Quanto mais alguém se doa ao outro, mas esse alguém se encontra e quanto mais ele se fecha ao outro mais ele se perde. Uma vida perdida por causa do egoísmo não vale a pena.

Deus quando criou o homem ele o colocou num jardim para que o homem pudesse viver alegre e em comunhão com Ele, com a natureza e com o próximo.  Essa comunhão exige partilha fraterna e perdão. Na minha infância esse jardim do paraíso estava situado em Goiás. Hoje tenho minhas dúvidas. Penso que ele pode estar bem mais perto de nós do que imaginamos. Até já considerei a hipótese de ele estar situado em São José da Varginha, MG. É bom que se diga o Estado! Você tem ideia de onde ele pode ser encontrado? Qual “GPS” poderá nos ajudar a localizá-lo? Pense nisso!

Imagem de Hans por Pixabay